Quanto mais penso nesta canção, "Tive sim", mais ela me parece uma das canções de amor mais cruéis do cancioneiro brasileiro. Se alguém me dissesse estas palavras, eu sinceramente entraria em parafuso de paranóia do medo da perda. Pense bem, dizer a quem você ama agora que já amou outrem, e com esta pessoa também foi feliz e nutriu sonhos, como se quisesse dizer: este também pode ser o seu fim, meu amor. Cartola era de uma lucidez incrível, mas há também uma certa acidez em suas canções. "O mundo é um moinho" é outra de suas bolhas latejantes de lucidez ácida. Posto abaixo as duas, duas de minhas coisas favoritas neste mundo.
Tive sim
Angenor de Oliveira, o Cartola
Tive sim
Outro grande amor antes do teu
Tive, sim
O que ela sonhava eram os meus sonhos e assim
Íamos vivendo em paz
Nosso lar, em nosso lar sempre houve alegria
E eu vivia tão contente
Como contente ao teu lado estou
Tive sim
Mas comparar com o teu amor seria o fim
Eu vou calar
Pois não pretendo, amor, te magoar
§
O mundo é um moinho
Angenor de Oliveira, o Cartola
Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó
Preste atenção, querida
Em cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés
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Um comentário:
são duas das minhas músicas de cabeceira, minha primeira paixão foi o cartola, base poética.. lindo demais... e você domeneck, sempre bom te ler!
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