Queridos machos-alfa que frequentais este espaço,
em verdade em verdade vos digo, se o que quereis é ter minha atenção com limiar deficitário e debater comigozinho esta nobre prática chamada de (com direito a sighs e ais) la poésie, aconselha-se que eviteis começar a conversa chamando-me de bucha laica, vAdIO ou outras machices testosteronizadas brasileirosas. Tampouco será produtivo se, logo após o evocativo vocativo, vós fizerdes referências clichéticas ou hackneyed redneck jokes sobre o uso que faço, protegido por alguns Tratados, de minhas mucosas. Ora, as mucosas são minhas e faço delas o que bem me dá na telha ou bem me come nas Tulherias.
Tal prática tediosa de vossa senhoria terá como efeito tão-somente que eu passe doravante a regiamente ignorar-vos, como uma verdadeira e suprema Queen Bitch, a não ser que adicioneis aos formulários de vossos insultos também vossas fotografias, e que, dependendo de vossa beleza provar uma possível utilidade vossa para o entretenimento de minhas glândulas, eu possa porventura aventurosamente imaginar outros usos para vossa existência em minha vida. Pois, como escreveu Rocirda Demencock, minha amiga, secretária, personal trainer e médium:
Gônada gônada vasta gônada,
se dissessem que "Ricardo é tola",
seria uma silepse, não seria uma ilusão.
Gônada gônada vasta gônada,
mais vasto é o meu tesão.
Rocirda Demencock, in O Júbilo da Jugular nas Mucosas Jocosas (no prelo, sempre no prelo).
É uma tragédia, porém, que vossa gigantesca maioria seja tão unattractive. Mas o insulto, queridíssimos machos-alfa sem os quais minha vida glandular e epitelial seria talvez mais entediante, é uma arte. Sugiro que pratiqueis, à frente do espelho, alguns witty chistes.
Há lições, no entanto.
§ - Vós podeis, como eu, assistir ao filme All About Eve 147 vezes, memorizando todas as falas de Margo Channing e Addison DeWitt. Mas é necessário então ser capaz de citá-las em situações variadas, encontrar o momento de encaixá-las, transformando-as e misturando-as, até que aprendais a fazer vossas próprias.
§ - Vós podeis ainda assistir 289 vezes ao filme Who´s Afraid of Virginia Woolf, memorizando as falas de Martha E George, aplicando-lhes então a mesma variação permutacional recomendada às falas de Channing e DeWitt.
§ - Vós podeis tornar-vos leitores assíduos de Fran Lebowitz.
§ - Ou vós podeis (e isso é muito difícil e requer baixar o nível de testosterona ou vós partireis para a pancadaria antes que a wit pouse em vosso crânio) tornar-vos mestres do reading e shade, expressões das bibas nova-iorquinas da década de 80, como pode ser aprendido no documentário Paris Is Burning (1990), do qual extraio um fragmento no qual a lendária Dorian Corey explica as práticas:
Perdoai-me se exagero em minha irritabilidade a beirar a de um ativista, mas o problema é que vos considero responsáveis por cada guerra ou ato de violência acontecendo neste exato momento no globo e na Globo. A culpa talvez não seja vossa, mas de vossas glândulas a expelir enlouquecidas uma hipérbole de testosterona por vossos poros porcos.
Os mais inteligentes saberão, é necessária a asserção, que "macho-alfa" NÃO é sinônimo de "homem branco heterossexual", ainda que este quadradinho do censo talvez constitua grande parte do sem-senso Clube do Bolinha-Alfa. Há machos-alfa de todas as raças, religiões, etnias, ideologias e, ora, mesmo de todos os gêneros e sexualidades, há até mulheres e bambis que são machos-alfa.
E é aqui, em meio a este artigo, que sinto um alvoroço em minha cachola, e me pergunto: será novamente o Incrível Embate entre Super Ego e seu arquiinimigo Ego?
É então que uma voz ressoa no quarto e declama com voz de poetastro:
___ Domeneck e Demencock, aqui quem fala é a sua Consciência!
___ Hã, nunca fomos apresentados, você tem cartas de recomendação?
___ Sim, de professores que o expulsaram de suas aulas, Sr. Pasolini e sra. Arendt, por exemplo, que me enviam com um recado e alerta.
___ Ôpa, o que tio Pier e tia Hannah têm a me dizer?
___ Oh, Domeneck e Demencock: que mesmo vocês por vezes se comportam como machos-alfa!
O quê?! Até eu, Brutas?!
Ah, terrível contradição nossa, cheios de traves nos olhos e querendo tirar dos olhos de nossos irmãos o cisco!
No entanto, devo aqui dizer, quanto a prováveis respostas contestosas a este textículo, alerto-vos que, a não ser que estejam à altura abismática de minha bitchice, comentário nenhum será selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado, se quiser voar, se quiser voaaar!
Será macho-alfa de minha parte?
Parto agora, para poder rir sozinho, sozinho, tão sozinho e com um gosto amargo na boca, entre minhas quatro paredes brancas.
.
.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário