quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Poema de Ezequiel Zaidenwerg (Buenos Aires, 1981), lido em vídeo pelo autor, e o arquivo de seu ótimo livro "La Lírica Está Muerta" (2011)

Ezequiel Zaidenwerg (Buenos Aires, 1981) - lendo no Festival de Poesia Latino-Americana de Berlim,
novembro de 2010. Foto do poeta alemão Timo Berger.


Descobri o trabalho do poeta argentino Ezequiel Zaidenwerg em novembro de 2010, quando ele foi um dos convidados do Festival de Poesia Latino-Americana de Berlim. Na ocasião, ele leu basicamente poemas de seu livro La lírica está muerta, ainda inédito naquele momento, e o longo poema que dá título a seu primeiro livro: Doxa (Bahía Blanca: Vox Senda, 2008). Este último texto me impressionou muito, assim como "Lo que el amor les hace a los poetas", que me divertiu imensamente e tornou-se um dos meus poemas favoritos escritos nos últimos X anos.

Alguns dias depois encontrei-me com Zaidenwerg e gravei um vídeo em que vocalizava justamente estes dois poemas, apresentando seu trabalho primeiramente em minha Hilda Magazine – com as traduções para o inglês da jovem poeta norte-americana Robin Myers (Nova Iorque, 1987). Apenas um ano mais tarde pude finalmente dedicar-me a traduzir estes dois poemas para o português, preparando uma postagem sobre o argentino para a Modo de Usar & Co. em novembro de 2011.

Numa coincidência feliz, Ezequiel Zaidenwerg chegou à Cidade do México, onde passaria dois meses, alguns dias antes que eu próprio fizesse minha passagem pela cidade por uma semana para dar minhas palestras no Centro Cultural Brasil-México. Fiz questão que ele participasse da leitura que Paula Abramo organizou para mim na Casa Refugio Citlaltépetl, para a qual convidamos ainda os poetas mexicanos Luis Felipe Fabre, Julián Herbert e Minerva Reynosa, outros poetas que respeito muito.

No meio tempo, o poeta argentino já havia publicado o excelente La lírica está muerta (Bahía Blanca: Vox Senda, 2011), firmando minha crença, com este livro e o poema "Doxa", de que Ezequiel Zaidenwerg é um dos poetas mais brilhantes de minha geração. Pretendo escrever um ensaio alentado sobre o livro e traduzir mais poemas, mas enquanto não o posso fazer, recomendo muitíssimo que vocês baixem este livro de Zaidenwerg disponibilizado na Rede, e assistam ao vídeo que gravei com ele na Cidade do México, no qual ele vocaliza um dos textos, intitulado "De la guerra civil". Gravar-nos ao espelho ainda me parece o cenário mais apropriado para um poema deste livro, tão inteligente em sua ironia. É uma alegria e sorte poder hoje contar Ezequiel Zaidenwerg entre meus interlocutores e amigos.



Ezequiel Zaidenwerg (Buenos Aires, 1981) vocaliza seu texto "De la guerra civil",
do livro LA LÍRICA ESTÁ MUERTA (Bahía Blanca: Vox Senda, 2011), em vídeo meu,
gravado na Cidade do México, a 17 de dezembro de 2011. Especial para a MODO DE USAR & CO.





De la guerra civil
Ezequiel Zaidenwerg

La lírica está muerta. Finalmente.
Ha llegado el momento que esperábamos todos.
Ya podemos decirlo sin ambages:
es el fin de una era. El magno orden de los siglos
se vuelve a barajar en fundación renovada.
Nace un niño de hierro para la poesía,
y con su advenimiento, tras dimitir la vieja estirpe de oro,
se alzará en su lugar una progenie
férrea: de todos modos, ya va siendo hora
de que empecemos a cantar
cosas más importantes.
.....................................................Nace un niño de hierro
para la poesía, y una única incógnita ensombrece el horizonte:
¿conocerá a sus padres sonriendo con dulzura?
¿Les soltará una carcajada amarga?
¿Los verá con desprecio? ¿Con sospecha? Acaso,
lo que es peor: ¿les pagará la vida y su sostén
con una mueca apática?
............................................La lírica
está muerta. Así es, aunque su muerte
– mal que les pese a aquellos
que hoy se la adjudican – fue sin ceremonia: como cae un árbol,
tronco sin nombre en la mitad del bosque
por donde nadie pasa,
así cayó. La técnica también estuvo ausente:
ni siquiera las tablas precarias de la cruz,
los clavos enmohecidos, la corona trenzada con agujas,
el paño avinagrado que alguna vez urdiera
con módica pericia mano de hombre,
tuvieron parte en el asunto,
que ocurrió sin testigos, sin castigo ejemplar,
sin demasiada premeditación
ni marca.
...................Está muerta. Así es.
Y un acerbo destino arrastra a los poetas
y el crimen de la muerte fraternal,
desde el momento en que se derramó en la tierra,
como una maldición para sus descendientes,
su sangre:
................ fue en un descampado; el golpe
la sorprendió de espaldas.

.................................................Está muerta.
............................La lírica está muerta.

........No murió como Cristo, la mataron
como a Abel.



in La lírica está muerta (Bahía Blanca: Vox Senda, 2011)


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