passado
o que
assoviar
quando se
esquece
a última
das
canções?
a aposta
absurda
foi
precisássemos
mais delas
nesse
ínterim,
pensar
sobre
os rumos
da poesia
enquanto
há
sem-teto
expatriados
ruínas
famintos
e
nosso passado
e
seus mortos
e
nós, envergonhados de nossa responsabilidade sobre ele
e
nós, envergonhados por não assumirmos nossa responsabilidade sobre
ele
e
nós, envergonhados de nossa vergonha,
incapazes
de sentir a vergonha,
incapazes
de vergonha
incapazes
de qualquer capacidade
incapazes
até de incapacidade
e
envergonhados por isso,
enquanto
se projeta o passado como uma sombra sob nossos pés
enquanto
ele se estende interminável até perder-se de vista
olhamos
para o passado como para uma sombra
mas
nos enganamos
ele
é uma sombra,
mas
olhamos para ele como para um deserto
e
ele é, de fato, um deserto
era,
é,
e
no fundo inimaginável deste deserto a perder de vista
se
aproxima a ideia de um inimigo
um
inimigo a encarar
inimigo
afrontável
um
inimigo que é maior que qualquer inimigo, pois é gigantescamente
ideia
uma
ideia amiga sobre a qual nos enganamos
ideia
amiga que tomamos por inimiga pois nos afronta
e
nos envergonha
essa
ideia:
nossa
amiga
enquanto
procuramos
dinheiro
e
trabalhamos
por
comida.
São Paulo, 1988.
.
.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário