domingo, 19 de abril de 2009

Dos aniversários, dos feriados

Abri os olhos de novo. Acordar sempre me surpreende. Vive-se assim: dominga-se até um dia não mais. "Hoje, feriado porque acordei", etc. Sonata para acúfeno.

Começa com os versos "Sair da cama, disse, / foi simplesmente / uma idéia incrível / e deliberada" a primeira das minhas "Seis canções óbvias", incluídas na Carta aos anfíbios. Café da manhã com o moço daqui a pouco, ouvir reprimendas pelos excessos de ontem à noite.

Sim, cedi (ver postagem anterior).

Na sacola, poetas mortos, mas apenas e sempre dos vivíssimos.

"En l´an de mon trentiesme aage,
Que toutes mes hontes j´eus beues,
Ne du tout fol, ne du tout sage"


Sim, lendo Catulo e Villon estes dias. Senti que andava precisando calibrar a máquina.

§

Tentando traduzir sob o sol:

Mentre nel silenzio degli orti
bruciati dal fresco sole, nel cielo
annebbiato sulla periferia,
si forma la figura del mio nuovo
destino, atroce, duro, io che cosa
faccio per non meritarlo, per essere
difeso, almeno nel cuore,
dal male che è per me stabilito
dal mondo?
..................Non posso che tremare:
e tremo, nelle viscere, io, escluso
dal mondo che non so odiare né quindi amare,
che finalmente si è fatto stupenda
ombra, irreale - capace ormai soltanto
a schiacciarmi, non più a determinare
la mia vita con la sua vita. Impuro
e non ancora forse perduto
nella mia purezza che non ha età,
il mondo non sa, dunque, che punirmi, e io
non posso che tremare.


Pier Paolo Pasolini

§

Sim, o delicioso.

Necrófilo NENHUM

-- seja neoclássico ou outros usuários do prefixo --

tem a energia destas criaturas.

Catulo, Villon, Pasolini.

Make It New ou Make It Neo,
querido.

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Mas queria falar de aniversários. Não, não o meu. Chego aos poucos a não me entusiasmar tanto pelo dia de meus anos. Ando preferindo o aniversário de livros, de projetos. Aniversário de um poema?

Editei na semana passada os vídeos do terceiro aniversário da nossa Berlin Hilton, quando convidamos os deliciosos do Stereo Total, e do quarto aniversário, no mês passado, quando convidamos os meninos suecos do Lo-Fi-Fnk. Música de aniversário, sim yes ja.

Sou eu por trás da câmera. Levemente alcoolizado, não se incomodem com a tremedeira e ângulos inusitados.


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Stereo Total no terceiro aniversário da Berlin Hilton,
05 de março de 2008.



§

Lo-Fi-Fnk no quarto aniversário da Berlin Hilton,
11 de março de 2009.

3 comentários:

Angélica Freitas disse...

amo esse teu poema. e às vezes me digo que sair da cama vai ser uma idéia incrível. beijos.

Ricardo Domeneck disse...

Obrigado, querida!

Sair da cama anda super divertido estas últimas semanas.

Beijos

R.

Carleto Gaspar 1797 disse...

Acho interessante observar como a literatura latina também percorre seus períodos de modernidade (com catulo e os poetae novi) e pós-modernidade (perdoe o anacronismo)com, por exemplo
Faltonia Betícia Proba (320-370), poetisa romana, que escrevia em um gênero muito peculiar no século IV: o centão ou cento.

Um centão é uma colcha de retalhos, em que o escritor reorganiza os versos de outro(s) poeta(s) para criar um poema inteiramente novo. O centão de Proba embaralha 694 linhas de Virgílio para narrar uma história cristã do mundo, da criação à ressurreição. (...)
H. J. Rose o descreve como “por um processo de colocação, frases totalmente inocentes do poeta são distorcidas para significados indecentes. (...)
o que significa que Proba, na verdade, não escreveu uma só linha de seu único poema que chegou a nós.


Não seria essa estética de Saque e montagem, o contemporâneo?

O que me intriga mais é entender como podemos pensar a multiplicidade de pensamentos que co-habitavam a Alexandria dos séculos III, IV e V
(...)

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