sexta-feira, 17 de abril de 2009

Saindo da caverna

No Berlimbo, é fevereiro o mais cruel dos meses. Após semanas e mais semanas de cinzura nublosa, ninguém mais se aguenta: a si e aos outros. A delicada senhora da padaria começa a gritar com os clientes, o motorista do ônibus fecha as portas na sua cara, as sobranchelhas pensas de todos pelas ruas.

Com o sol, a cidade se transforma, as pessoas fingem ser eternas, tostam nos parques como se nos trópicos.

Eu, pessoalmente, após hibernar na caverna do meu quarto pelas últimas semanas do inverno, a cara colada na tela do computador, escrevendo escrevendo, decidi expor a garganta nas ruas, mas também nos cubos brancos e pretos. Esta semana, aproveitei o tempo não apenas para estumar minha melanina, mas para correr às exposições e filmes. Várias coisas estimularam minha cachola.

Em primeiro lugar, na Hamburger Bahnhof, um dos museus de arte contemporânea do Berlimbo, visitei a instalação sonora "The murder of crows", de Janet Cardiff e George Bures Miller (veja o vídeo e entrevista com os artistas AAQQUUII). Em um local tão dedicado ao VISUAL, foi refrescante sentar-me por 30 minutos para primordialmente OUVIR (ainda que haja elementos visuais na instalação) o trabalho de Cardiff e Miller.

Há também uma exposição chamada "Fluxus Berlin", com trabalhos em vídeo e instalações de artistas como Joseph Beuys, Wolf Vostell, Nam June Paik e Charlotte Moorman. Na seção dedicada a Beuys, há o vídeo do debate entre Joseph Beuys, Max Bill, Max Bense, Arnold Gehlen e Wieland Schmied, que ocorreu em 1970. O tema: Arte & Anti-arte. Nos próximos dias, tentarei escrever artigo a respeito.

Por ora, quero falar sobre o filme que o moço e eu vimos ontem no cinema. Stellet Licht (2008) é o terceiro filme do mexicano Carlos Reygadas, que filmou ainda Japón (2002) e Batalla en en cielo (2005). Com inúmeras citações a Andrei Tarkovski, o filme é muito bonito, com uma ansiedade metafísica engendrada em um belíssimo trabalho de fotografia, em planos longos como eu gosto, de um "realismo ontológico" que havia visto apenas em outros diretores contemporâneos como o francês Bruno Dumont e o russo Alexander Sokúrov.

3 comentários:

m. sagayama disse...

ô, Domeneck,

você tem algum link pra esse vídeo do Beuys?

De preferência com legendas, pra quem só entende "Oliver Kahn" e "Einstürzende Neubauten", em alemão.

Até mais!

Ricardo Domeneck disse...

ô, Sagayama,

procurei, pois queria postar aqui, mas não encontrei. Há trechos no YouTube, mas sem legendas.

Abraço,

Domeneck

m. sagayama disse...

Ah!
Fica pra quando eu aprender alemão, então.
Até mais!

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