Reproduzo abaixo os dois poemas.
anatomia do ouvido alheio a partir da própria garganta
§ - Introdução ao poema
Típico Ricardo
que Leslie Feist
palreie
“clouds part
just to give
us a little sun”
& vossa mercê
em meio à
Own Private Idaho
de sua tragédia
em 365 actos
entenda “clouds
fall just
to give us a lesson”
e creia salvar-se
na heráldica
de seus malentendidos.
É óbvio claro & evidente
que Gertrude & Ludwig
contorcem-se de orgulho
dentro de seus sarcófagos,
vibrando em seus ossos
e empoeirados cabelos
por sua perspicácia
ao aprender com a água
a condensar-se de acordo
com a temperatura,
enquanto você,
poetícula de unhas
cravadas na própria juba,
pausa para escrever
seu mais novo
manual de instruções
para resquícios
que começa
thus assim ecco:
“Nuvens
ejetam-se, caem
de pára-quedas
sobre meus cílios
em lições
sobre o que significa
expectativa”
§- Poema
Nuvens
ejetam-se, caem
de pára-quedas
sobre meus cílios
em lições
sobre o que significa
expectativa, mas discordo
da estratosfera em densidade
de água, umidade, distância
do horizonte que funciona
como meus pulmões
e meus pulmões não são
argumentum ad infinitum
nem se expandem
como o verão e suas sardas.
Não
é todo dia
que se quer que
se quebre, que
se berra: “breque”
para que se possa
afundar o resto
dos destroços,
todos à queima
dos despojos,
quando não
basta cavar crateras
e depois terraplanar
Tróia Nagasaki Atlanta.
Belicosos até nas belezuras,
como quem desenha
trincheiras no peito
do amante e acha poucas
as bombas sobre Berlim,
sussurrando ao seu ouvido:
“beligerante pouco
é bobagem“.
Você não se cansa mesmo
de sobrepor-se bentônico
à minha superfície,
então hei-de quebrar
os dentes do cavalo dado,
aguaçar-me o aguacento,
questionar as quantas demãos
você me exige
para sua futura aguarrás,
Sr. Cantante
em ternário ao meu compasso,
candidato a exclusivo,
que me doa king
size à serralheria
que se mostra generosa
aos encaixes de nosso relacionamento
em beliche, moçoilo, se não alcanço
sequer o segundo
turno à eleição a benemérito
que você preside como juiz,
faça ao menos jus
ao presídio em que vivo em nós
das suas bravatas e brocardos.
Eia! Buldogue bulímico -
veja se me premia
com algum bônus,
ao menos beneplácito,
não seja assim tão bequadro
dos meus bemóis a mais,
cesse este cicio de cíclope
míope e cuneiforme,
enfartei-me já de farta
da embriologia
dos teus embromos
e erriçada peco e peço
a concha das suas mãos
para trazer água à minha boca
e enxugar dos meus olhos
a água, na esperança
última que mirra
de que o equinócio
traga enfim simetria
à balança comercial de nossa erosão
1-
a escrita
por cópula
de signos
em metamorfose
na Ilha
de Páscoa
após contacto
com europeus
como Marilyn
Monroe
completaria oitenta
anos a primeiro
de junho de
dois mil e seis
2-
Marilyn
Monroe
não
despertou ao
terceiro dia
3-
ilha devastada
pelo ícone
escavado no material
vulcânico de sua origem
e composição
que despertemos
dos barbitúricos
de nossos pesadelos
louros e lindos
como 44 pernas
4-
Oh Marilyn
Monroe perante
o pênalti
como um Moai
contra o céu
5-
mar e limo
róem
6-
por tal sex
symbol cortaríamos
também as palmeiras
do solo e extinguiríamos
quaisquer pássaros
pelo asséptico
da terra desgastada
do mito
que rola e urde.
7-
Marilyn Moairuhe
.
.
.
2 comentários:
Ricardo, valeu os poemas, que exalam uma ironia desiludida que eu tanto aprecio. E valeu também saber desta revista, realmente excelente, e que vem reformar a verdade de que o reduto das boas revistas, com poucas exceções, não é mais papel e sim a mídia virtual.
Obrigado pelas palavras e pela visita, meu caro.
R.
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