sábado, 22 de maio de 2010

Retratos e uma conversa com Adelaide Ivánova

A fotógrafa brasileira e amiga queridona Adelaide Ivánova escreveu um artigo simpático até os cotovelos sobre os meus retratos-em-vídeo singelinhos para o site do festival de fotografia Paraty Em Foco, comentando também a fotografia do alemão Timo Klos. A aproximação que ela faz entre os trabalhos é bem perspicaz e legal. Não conhecia o trabalho do alemão, vou acompanhar o rapaz. Quem tiver interesse, dê uma passada pelo site, que tem alguns artigos bem legais.

Fico feliz, é claro, que estes vídeos despertem interesse. Já foram mostrados em galerias e clubes de Barcelona, Basel e Bruxelas. Comecei a fazê-los sem qualquer pretensão, era quase um exercício de aprendizado com luz, enquadramento, mas gostei do resultado de alguns a ponto de mostrá-los. Depois fui percebendo certas possibilidades, algumas implicações que me interessavam e segui com eles. A senhora Ivánova fez uma pequena entrevista informal comigo, conversamos um pouco sobre meu trabalho com vídeo em geral e sobre os retratos em particular. Reproduzo abaixo, como pequeno artigo fragmentário, sem as perguntas, as respostas que dei para a colega e três dos vídeos.

Conversa com a senhora Adelaide Ivánova

Naquele primeiro vídeo, chamado Garganta com texto (2006), eu estava tentando unir o dizer e o fazer, defendendo a oralidade pela própria oralidade e não com um texto escrito, além de começar a tentar resgatar, no meu trabalho, o caráter de performance que a poesia um dia teve com mais força. Uma referência muito importante para toda a minha "investigação" nesse campo é o trabalho do coreógrafo mineiro Klauss Vianna, que guiou o trabalho de pesquisa corporal de um grupo do qual fiz parte, com direção de Luzia Carion, e ainda com Verônica Veloso, Paulina Caon, Lígia Borges e alguns outros. Há ainda videoartistas que tiveram seu impacto no meu trabalho, como Pipilotti Rist, Joan Jonas, Vito Acconci e outros pioneiros da década de 60. Tenho muita paixão também pela forma como o francês Bruno Dumont filma.

Mas esses retratos-em-vídeo são diferentes, eu acho, dos meus outros trabalhos. Talvez neles haja um diálogo maior com fotógrafos germânicos como Walter Pfeiffer, Wolfgang Tillmans, Juergen Teller e Heinz Peter Knes, há uma certa tradição do "realismo" aqui na Alemanha que por certo me influenciou muito, algo que remonta a August Sander e o casal Bernd & Hilla Becher.




A esta altura do campeonato, as referências são tão variadas e múltiplas que já não conseguiria ordenar uma lista de influências no meu trabalho, seja em escrita ou vídeo. Há diálogos com poetas sonoros como Henri Chopin, dadaístas como Hugo Ball e Kurt Schwitters e artistas brasileiros como Lygia Clark e Leonilson, todos muito importantes para mim como GENTE, como bicho humano, não só como "artista", essa palavra que me soa às vezes meio esquisita.





Quem me interessa muito hoje em dia entre os contemporâneos é a galera que trabalha entre os gêneros, misturando referências, os inclassificáveis, gente como os meninos do coletivo americano AIDS-3D ou a britânica Janine Rostron, que é mais conhecida como Planningtorock. Mas também gosto muito de videoartistas como o alemão Niklas Goldbach, a brasileira Janaina Tschäpe e a britânica Lenka Clayton, e poetas como a brasileira Angélica Freitas e o catalão Eduard Escoffet.

Agora, 3 dos all-time-favorites, para ficar apenas entre brasileiros:

- Arthur Bispo do Rosário
- Lygia Clark
- José Leonilson





Uma das coisas de que mais gosto quando faço estes retratos é justamente o SILÊNCIO... como trabalho primordialmente com palavras, sendo poeta e escritor, às vezes eu me canso imensamente das palavras e estes retratos são como um momento de quietude, sem implorar pela atenção do OUTRO com poemas, versos, rimas... mas apenas estar ali, com alguém, em silêncio, vendo-o desdobrar-se em si mesmo... talvez nem seja bom falar muito sobre esses retratos, porque eles têm um equilíbrio muito delicado, eu penso, que seria fácil afogar com palavras. Todas essas possibilidades que você mencionou estão nos vídeos. Há certa violência no resto do meu trabalho poético e em vídeo, cheios de referências a secreções e cicatrizes, mas nesses vídeos eu sempre tive muito prazer na busca justamente da delicadeza, da fragilidade, do quieto, como nos trabalhos de Leonilson, por exemplo, uma espécie de lirismo que não tem medo de ser apenas singelo e nada mais. Há esta relação entre tempo e espaço, confundindo fotografia e vídeo, há uma certa abordagem muito levemente erótica, talvez, mas no fundo são só momentos de "aproximação" do OUTRO, quando esqueço um pouco meus pesadelos apocalípticos e tento estar em silêncio com alguém.


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