O último filme de Polanski
Assisti ontem à noite, com O Moço, ao último filme de Roman Polanski, The Ghost Writer (2009).
O filme me pareceu um bom suspense de conspiração. Pelo menos, manteve minha atenção o tempo todo e me divertiu muito com os diálogos.
Citação mais divertida:
(Ghostwriter) __ Didn´t you want to be a proper politician?
(Wife of former Prime Minister) __ Sure, didn´t you want to be a proper writer?
As personagens, quase todas britânicas, exercitam a wit no ego alheio o tempo todo. Poucas coisas me agradam tanto quanto um bom conjunto de diálogos, bem atuados. Há também as típicas atitudes de pirraça de Polanski, com suas alusões à administração Bush e Blair.
A admiração que O Moço e eu nutrimos pelo polonês vem em particular de Rosemary´s Baby (1968), um dos melhores filmes de terror já feitos. Este último filme ainda traz uma aparição-relâmpago do ótimo Eli Wallach, além da performance maravilhosa de Olivia Williams, candidata à lista de divas onipotentes em minha cabeça, depois deste filme.
§
A exposição de Wangechi Mutu
Antes disso, passamos pelo Deutsche Guggenheim, que tem entrada gratuita às segundas-feiras, para ver a exposição da artista plástica africana Wangechi Mutu, nascida em Nairobi, Quênia, em 1972. Mutu trabalha com nossa velha amiga e estimada técnica da colagem, em imagens que remetem sincrônica e sincreticamente às da alemã Hannah Höch (1889 - 1978).
Wangechi Mutu busca manter a técnica nos níveis de violência, apropriação e resistência, com sua função em diatribe, com um vigor que une a beleza e o grotesco, forma e deformação. Gosto bastante do resultado.
Seria interessante (e necessário) discutir o uso, em geral preguiçoso, que se faz do adjetivo novo na crítica contemporânea. O MAKE IT NEW de Pound segue sendo macaqueado. O conceito de vanguarda como mera fabricação de novidades estilísticas, sem discutir a função que estas novas formas assumiam em seus contextos, leva a essa atitude blasé dos críticos despreparados com que somos obrigados a lidar.
A função da colagem, tal qual foi criada pelos dadaístas, ainda pode fazer sentido em nosso contexto, pois não era mera novidade ou brincadeira para épater les bourgeois, mas crítica a um sistema que persiste, onde a Beleza torna-se, cada vez mais, apenas entretenimento para a elite, decoração para gigantescas salas-de-estar. Podemos discutir a eficiência crítica destas técnicas, mas seria mais interessante a discussão se evitássemos a atitude "de quem acha tudo tão déjà vu, mesmo antes de ver", como diz a canção. Aliás, quando ouço esta canção de Adriana Calcanhotto e Antonio Cicero, sempre me pergunto por que o que canta não joga aquela Água Perrier na cara do chato.
Abaixo, uma pequena seleção de imagens de Wangechi Mutu:
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