domingo, 25 de julho de 2010
Entre os atuais herdeiros de DADA
("What we do", do novo álbum do coletivo Devo, chamado Something for everybody, 2010)
Eu já escrevi bastante sobre a importância que os poetas e artistas do Cabaret Voltaire e da revista DADA tiveram para a minha vida, meu trabalho. Na Modo de Usar & Co., postei, traduzi, comentei tanto os textos e algumas outras obras de poetas e artistas como Hans Arp e Hugo Ball, como de muitos dos futuros herdeiros daquele que foi um dos mais frutíferos movimentos artísticos e políticos do século XX. Escrevi também ad infinitum sobre os grupos de retomada das estratégias das vanguardas no pós-guerra que, por motivos que já discutimos em outros textos, permaneceram obscuros no Brasil. Em um artigo chamado "DADA: implicações e inseminações", tentei até criar uma espécie de árvore genealógica que percorreu o século XX.
Busquei também comentar os Lettristes parisienses, traduzi os poetas do Grupo de Viena, relacionei-os com o Dau al Set de Barcelona, misturei-os com a Escola de Nova Iorque, os Beats e o movimento chamado de British Poetry Revival, estudei e tentei chamar a atenção de novo para a Internacional Situacionista... todos intrinsecamente ligados aos poetas dadaístas. Mais tarde, vieram o Fluxus, o Punk nova-iorquino e londrino, a Pop Art, grupos e coletivos da Alemanha, como o Kraftwerk e Die Tödliche Doris.
Percebi hoje, no entanto, que jamais comentara um coletivo/banda que amo muito, e que talvez seja hoje um dos herdeiros mais próximos dos poetas do Cabaret Voltaire: o coletivo norte-americano Devo.
Formado em Ohio em 1973, as primeiras intervenções foram feitas pelos jovens artistas Gerald Casale e Bob Lewis, a quem se uniu mais tarde o genial Mark Mothersbaugh. Eles começaram a chamar atenção com o vídeo In The Beginning Was The End: The Truth About De-Evolution (1976), dirigido por Chuck Statler, e os primeiros singles, "Mongoloid" e "Jocko Homo", daquele mesmo ano. Produzido por Brian Eno, seu primeiro álbum, intitulado Q: Are We Not Men? A: We Are Devo!, sairia em 1978. Mesmo quem não conhece o incrível trabalho de sátira política e social da banda deve conhecer o seu hit de 1980, a canção "Whip it". O coletivo lançaria ainda os álbuns New Traditionalists (1981), Oh, No! It's Devo (1982), Shout (1986), Total Devo (1988) e Smooth Noodle Maps (1990).
Agora, 20 anos depois, aqueles que não se cansaram de satirizar nossas ilusões civilizatórias retornam com o álbum Something for everybody (2010), e eles nunca foram tão necessários como nesse exato momento, neste planeta quebrado e afogando em óleo. DADA siegt!
("Dont shoot! I´m a man!", do álbum Something for everybody, 2010)
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4 comentários:
Catzo, não consigo publicar comentário nesse espaço.
Vou tentar de novo. Que mania nova é essa de chamar bandas de "coletivos"?
Coletivo é como os cariocas chamam os ônibus. Além disso, se você quiser ser moderno e contemporâneo, dá para dizer que existem coletivos de artistas, fotógrafos e até jornalistas.
Até existe coletivos de músicos - o Broken Social Scene é um coletivo. Godspeed you black emperor é coletivo.
Mas o Devo não. O Portishead não. São bandas. Banda ou grupo ou conjunto. Três opções. Mas "coletivo" é forçar a barra.
Ô Gutierrez,
é claro que você consegue publicar comentários, é só esperar um pouco e eu aprovo. Por que esta medida de segurança? Para evitar os engraçadinhos que costumam aparecer de vez em quando para xingar a minha mãe anonimamente ou fazer gracejos sobre minha vida sexual.
Bom, então, quanto à questão de "bandas" ou "coletivos":
será que não passa pela sua cabeça que eu sei exatamente a maneira como estou USANDO a palavra "coletivo" e que talvez isto tenha uma ou outra implicação à qual eu espero que você tente chegar antes de vir jogar 4 pedras na minha cabeça?
Eu sei que é "banda" (eu detesto esta palavra) a palavra mais comum, mas aqui eu estou justamente insinuando que deveríamos ver "bandas" (tenho pavor desta palavra) ou "grupos" (esta é realmente bem melhor e talvez mais apropriada a vossos ouvidos acostumados à imprensa dos jornais e revistas) como Devo ou Cocteau Twins da mesma maneira que vemos/ouvimos o Chelpa Ferro, a Bernadette Corporation ou o "coletivo" COUM Transmissions que depois virou a "banda" Throbbing Gristle.
Além disso, num país como o Brasil, onde os intelectualóides não se cansam de ruminar as baboseiras hierárquicas entre literatura e música, é um ato consciente, quase de ativismo, tratar uma "banda" de música como um "coletivo" de arte. Sacou, Gutierrez?
Por fim, o blog é meu e eu chamo as bandas de coletivos ou grupos ou repúblicas ou assembléias se eu quiser.
Beijo grande para você aí em SP!
Ricardo
Como são tontos esses comentaristas de blog que fazem gracejos sobre coisas que não existem.
Você não imagina os comentários que deixam por aqui de vez em quando.
Gutierrez, uma coisa ficou na minha cabeça: por que você acha que podemos chamar Broken Social Scene ou Godspeed You Black Emperor de coletivo mas não o Devo? Porque as citadas acima reunem pessoas de bandas diversas? Não sei se eu concordo com a sua distinção.
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