Foi há alguns meses, em minha visita quase diária à locadora do bairro. Na verdade, eu estava passando por uma fase de admiração e obsessão por Dirk Bogarde (1921 - 1999), aquele ator-mestre da elegância. Deparei com a capa do filme The Servant (1963), com Bogarde e, como se não bastasse, roteiro de Harold Pinter. E foi por Bogarde e Pinter que aluguei o filme naquela noite, não me importando muito com o diretor, um certo Joseph Losey do qual nunca tinha ouvido falar.
Baseado em um romance de Robin Maugham, o roteiro é mesmo excepcional, assim como a atuação de Bogarde, sempre brilhante. Mas foi a direção do filme que mais me deixou espantado e admirado, e comecei a pesquisar mais sobre Losey.
O diretor nasceu no estado do Wisconsin, nos Estados Unidos, em 1909. Estudou na Alemanha com Bertolt Brecht (sua primeira relação frutífera com um dramaturgo), e quando este exilou-se nos Estados Unidos, passaram a colaborar. Codirigiram uma adaptação cinematográfica da peça Leben des Galilei (1937), que se tornaria o filme Galileo (1947), com Charles Laughton no papel principal após ter traduzido a peça com Brecht, e Losey ainda faria um curta-metragem baseado na vida de Galileu.
É na década de 50 que começam as agruras de Losey, e aquilo que eu creio explicar sua obscuridade, quando é obviamente um mestre absoluto do cinema: o diretor cai na fogueira anticomunista da chamada Era McCarthy. Impossibilitado de trabalhar em Hollywood, onde estava na infame entertainment industry blacklist, Losey emigra para o Reino Unido, onde passa a trabalhar com Harold Pinter e outros roteiristas, construindo uma obra que não recebe as loas e prêmios e homenagens que merece e deveria receber. Mesmo no Reino Unido, ele acabaria dirigindo muitas obras primas com pseudônimos.
Há pouco tempo, assisti ao excelente King and Country (1964), mais uma vez com o brilhante Dirk Bogarde, e com Tom Courtenay, outro ator britânico de quem gosto muitíssimo. O filme retrata o julgamento de um soldado acusado de deserção durante a Segunda Guerra Mundial.
Outro excelente filme, com jogos de câmera impressionantes, é The Criminal (1960). Assista ao trailer no Youtube, não é permitido embutí-lo aqui.
Há pouquíssimos lançamentos aqui na Alemanha. Estou tentando encontrar outros. Quero muito ver seu remake para o filme de Fritz Lang, M. O de Lang é de 1931, o de Losey é de 51.
Ou sua Eva (1962), com Jeanne Moreau, Stanley Baker e Virna Lisi:
Joseph Losey. Mestre mesmo.
E foda-se McCarthy, aquele bufão.
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Um comentário:
Procure Sleeping Tiger - 1954, dirigido por Losey sob pseudônimo e com Bogarde também - e Accident - 1967, outra colaboração com Bogarde e Pinter. Deve ser fácil encontrá-los em torrent ou em sites como www.surrealmoviez.info
Também sofro de fases de obsessão por Dirk Bogarde.
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