quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Apropriação e paródia: cartaz de NOVEMBRO para a SHADE inc, a partir de um original de Larry Clark, com pequena conversa sobre a fotografia dos 70

Convite de novembro para os eventos semanais da nossa SHADE inc

Convite e cartaz de novembro para a SHADE inc, nosso evento semanal às quartas-feiras. Alguns não entenderam bem a ideia na última postagem que fiz a respeito, achando que estas paródias eram o projeto em si. O projeto é um evento, algo que ocorre todas as quartas-feiras, com DJs, e às vezes performances, concertos, instalações. Estes são os convites e cartazes, feitos pela apropriação, reencenação e paródia de imagens fotográficas conhecidas do século passado, da arte ou do fotojornalismo.

O cartaz deste mês foi concebido e produzido pelo coletivo SHADE (em ordem alfabética: Daniel Reuter, Niklas Goldbach, Oliver A. Krüger, Ricardo Domeneck e Viktor Neumann), e fotografado por Niklas Goldbach, a partir de uma foto original do norte-americano Larry Clark, nascido em Tulsa, Oklahoma em 1943. No Brasil, creio que o americano é mais conhecido como cineasta, especialmente por seu filme Kids (1995), que se tornou notório ao lidar com o problema da AIDS entre adolescentes, em um estilo documental que se tornaria comum na década seguinte, esta que agora se encerra.



No entanto, desde a década de 70, Larry Clark já documentava como fotógrafo a juventude abandonada pelo sonho americano. Em 1971, ele estreia com a publicação do livro Tulsa, fotografado entre amigos e conhecidos da sua cidade natal.


Larry Clark, fotografia do livro Tulsa (1971)


Com esta publicação, podemos unir Clark a outros fotógrafos da década de 70, que também encontrariam entre seus amigos nos subterrâneos das cidades uma vida marginal, escorrendo paralela à das revistas e colunas sociais. É o caso da também americana Nan Goldin (n. 1953), do japonês Nobuyoshi Araki (n. 1940), e do suíço Walter Pfeiffer (n. 1946).


É claro que eles não inventaram a fotografia sociodocumental entre os indivíduos excluídos do jogo político e social de suas comunidades, já que encontramos algo disso desde o alemão August Sander (1876 - 1964), passando pelas americanas Lisette Model (nascida na Áustria, 1901 – 1983) e Diane Arbus (1923 - 1971), mas até então o fotógrafo parecia manter-se fora do jogo; ele documentava, mas sem qualquer envolvimento emocional com seus retratados. A maneira como estes fotógrafos da década de 70 (Clark, Goldin, Araki, Pfeiffer, entre outros) pareciam estar envolvidos e pertencer aos retratados, assim como seu abandono de qualquer pudor ante o jogo sexualizado no qual a lente de suas câmeras faz-se mais uma camada da epiderme, seriam centrais para sua influência sobre fotógrafos do fim da década de 70 e através da década de 80, dos quais Robert Mapplethorpe (1946 – 1989) e Mark Morrisroe (1959 - 1989) poderiam ser discutidos como exemplares. É essa genealogia também que nos leva a compreender melhor o trabalho de fotógrafos dos últimos 20 anos, como Wolfgang Tillmans, Collier Schorr, e Heinz Peter Knes, ou, nos últimos poucos anos, Brett Lloyd e Adelaide Ivánova.

Algum dia quero escrever sobre essa relação de envolvimento emocional com os retratados, este pertencimento, para discutir na verdade o trabalho de um fotógrafo que seguiu uma linha que tanto tangencia como elide esta narrativa: o brasileiro Alair Gomes (1921 - 1992), com sua prática de fotógrafo-voyeur. A um operário visual como eu, fazendo meus pequeninos e desimportantes videorretratos de moços e moças aqui em Berlim, esta discussão interessa.

Abaixo, o original de Larry Clark do qual nos apropriamos, reencenamos e, de certa forma, parodiamos em gender guerrilla.


Larry Clark, do livro The Perfect Childhood (1993)

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