terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Brian Kenny na Hilda Magazine e outras recomendações aos amigos, de filmes, poetas e preocupações

Algumas sugestões e recomendações aos amigos e leitores deste espaço.

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Postamos alguns trabalhos recentes do jovem artista americano
BRIAN KENNY (n. 1982) na Hilda Magazine, de sua série "Targets". Brian Kenny pertence a uma geração de artistas que cresceu e educou-se num mundo no qual a internet era já uma realidade, o que me parece claramente perceptível em seu trabalho e metodologia. Um dos jovens ícones da cena gay subterrânea nova-iorquina (em tempos de redes sociais, portanto global) o trabalho dele gera reações de vários tipos. As mensagens de descontentes já chegaram às caixas postais de nossa microscópica redação, assim como disparou o número de visitantes. Em minha leitura, seu trabalho expõe certas relações de poder, conectando de forma erótica símbolos de militarismo e policiamento a uma espécie de iconografia pornográfica. Sua abordagem crítica é ambígua, o que talvez incomode algumas pessoas.




Brian Kenny


Brian Kenny nasceu em 1982, em uma base militar americana na Alemanha. Quando criança, viajou e mudou-se com o pai, militar de carreira, e sua família por muitas bases na Europa e Estados Unidos, vivendo dentro deste ambiente de controle e poder que ele passaria a rever em seu trabalho. Vive e colabora há anos com seu namorado, o fotógrafo e poeta dissidente russo Slava Mogutin (n. 1974), formando o duo SUPERM. Já expôs em Nova Iorque, Berlim, Moscou e Tóquio.


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Recomendo a leitura do ensaio "A revolução acabou. Começa a idade da revolta", do italiano Marco Belpoliti, traduzido por Eduardo Sterzi e publicado no número 43 da revista eletrônica Sopro, que se autodenomina
panfleto político-cultural, ligado ao espaço Cultura e Barbárie. O artigo é muito bom, levantou ótimas perguntas para minha cabeçoila. Em outros números da revista é possível ler textos de Giorgio Agamben, María Zambrano e Georges Didi-Huberman.






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Quem quer que tenha acompanhado este espaço por meros dias já deverá saber de minha preocupação obsessiva com a função histórica do poeta, a relação de seu trabalho com a linguagem e os acontecimentos que a rodeiam. Pois é... quando penso que estou me acalmando e poderei ser feliz escrevendo poemas de amor e dor-de-cotovelo pelo resto dos meus dias (ainda que os mais atentos já tenham percebido como mesmo estes estão eivados de minhas obsessões), algo acontece, não sei dizer o quê, mas é como se o Anjo de Benjamin e o de Rilke resolvessem fazer piquenique e discutir seu namoro no topo da minha cabeça.

De qualquer forma, há os motivos externos, como ter assistido ultimamente a certos filmes latino-americanos, ou o de Semion Aranovich sobre Anna Akhmátova; leituras recentes de livros de Hannah Arendt, Vassily Grossman e Alexander Soljenítsin; estar lendo o livro
Servarios (Buenos Aires: Zama, 2005), coletânea de poemas do argentino Julián Axat (n. 1976), presente por correio do poeta carioca Pádua Fernandes (n. 1976, autor de Os Cinco Lugares da Fúria), que, por sua vez, tem discutido largamente em seu blogue a relação do Brasil com sua História recente e os crimes da ditadura. Julián Axat tem um trabalho editorial maravilhoso de recuperação do trabalho de poetas assassinados pela ditadura argentina.

Será mesmo que o Brasil NUNCA punirá os crimes da sua ditadura militar, enquanto a Argentina, por exemplo, já pôs Videla na cadeia pelo resto de seus dias?

Recomendo aos leitores deste espaço que passem pelo Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos, que mantém aberta esta discussão, no País que esquece tudo depois da ressaca do Carnaval.


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O novo makar da cidade de Glasgow é a poeta Liz Lochhead (n. 1946). Makar, palavra que segue a mesma ideia de
fabbro, o que faz, é o poeta, o bardo, usado antigamente para referir-se a autores escoceses como William Dunbar (1460 – 1520) e Gavin Douglas (1474 – 1522). Em 2002, a cidade de Edimburgo instituiu novamente o posto de makar, seguida por Glasgow. O último makar da cidade foi Edwin Morgan (1920 - 2010), que tem tido certa recepção no Brasil. Talvez tal tradição pareça estranha a um brasileiro, e somos lembrados do poema de Carlos Drummond de Andrade em que ele satiriza as aspirações de poetas municipais. De qualquer forma, Liz Lochhead é uma poeta com uma veia satírica maravilhosa, e tem poemas realmente muito bons. Gosto muito do poema em que ela escreve:


& just when our maiden had got
good & used to her isolation,
stopped daily expecting to be rescued,
had come almost to love her tower,
along comes This Prince
with absolutely
all the wrong answers.


São versos do livro
True Confessions and New Clichés (1985), do qual vou tentar traduzir alguns poemas para a Modo de Usar & Co.



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Com um dos melhores atores de sua geração, Ryan Gosling (além de incrivelmente bonito e charmoso), e uma atriz competentíssima e talentosa como Michelle Williams, o filme
Blue Valentine (2010) foi um dos retratos mais delicados e ao mesmo tempo secos que já vi sobre a dissolução de um relacionamento. Recomendo muito. Gosling está (mais uma vez) impecável e Williams não faz nada feio.




Por hoje é só, pessoal.

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2 comentários:

Jorge disse...

nossa, faz tanto tempo que eu não vejo o bryan desde que a gente terminou nosso relacionamento de 13 anos, q bom q ele está bem, né?

Ricardo Domeneck disse...

Sei, Jorge, sei...

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