terça-feira, 17 de maio de 2011
Eu, quê?
Eu, que nunca soube gerenciar perdas,
..........para a insatisfação geral
..........das sociedades anônimas
..........e outras limitadas empresas;
eu, que preferiria em verdade
..........fingir dores que deveras
..........não sinto;
eu, que me convencera da abolição
..........dos advérbios de tempo
..........por simples obsolescência
..........e a nossa falta de uso;
eu, que lamento ser só mitológico
..........o rio Lete;
eu, que memorizei as falas
..........em Hiroshima Mon Amour;
eu, que heroicizo as anônimas
..........como a mulher de Ló,
..........nunca Pierre, mas a que grita
.........."Pierre dis-moi la vérité"
..........no "Rue de Seine" de Prévert;
eu, que posso ir de Medeia a Dido
..........entre o café-da-manhã e o almoço;
eu, que banco o zen-budista
..........por alguns segundos, poucos,
..........e logo em seguida cantarolo
.........."Ne me quitte pas"
..........com esgares de Maysa,
..........as mãos amarrotando
..........a própria camisa;
eu, que já aprendera que ninguém
..........pertence a ninguém
..........mas mantinha certa esperança
..........nas várias interpretações
..........possíveis deste duplo negativo;
eu, que não encontro consolo
..........no fato de que outros
..........sobreviveram catástrofes maiores,
..........que cidades reergueram-se
..........após incêndios, bombas, maremotos,
..........que nós mesmos vivemos numa cidade
..........que já foi coleção de crateras;
eu, que fiquei dias em jejum
..........ritual, um para cada ano da relação
..........e então numa fome larga e repentina
..........devorei um sanduíche teu antigo,
..........chorando sobre o chouriço;
eu, que conheço do passado a subnutrição
..........advinda de uma dieta
..........de migalhas e farelos
..........e mesmo assim hesito
..........se de novo a aceitaria;
eu, que respondi hoje "Orfeu, Hades",
..........ao perguntarem no aeroporto
..........por nome e destino;
eu, que repeti teu nome no avião
..........sobrevoando Berlim, cão banguela,
.........aos uivos a dez mil metros do chão;
.......................eu, moço,
...volto agora a esta fisioterapia
...para os músculos em atrofia
...das primeiras pessoas
...do singular dos meus verbos,
...e não vejo distinções
...entre as equações
..."Espero, logo existo"
...ou "Existo, logo espero"
.
.
.
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3 comentários:
COMO EL SON DE LAS HOJAS
DEL ÁLAMO
El dolor verdadero no hace ruido.
Deja un susurro como el de las hojas
del álamo mecidas por el viento,
un rumor entrañable, de tan honda
vibración, tan sensible al menor roce,
que puede hacerse soledad, discordia,
injusticia o despecho. Estoy oyendo
su murmurado son, que no alborota
sino que da armonía, tan buido
y sutil, tan timbrado de espaciosa
serenidad, en medio de esta tarde,
que casi es ya cordura dolorosa,
pura resignación. Traición que vino
de un ruin consejo de la seca boca
de la envidia. Es lo mismo. Estoy oyendo
lo que me obliga y me enriquece a costa
de heridas que aún supuran. Dolor que oigo
muy recogidamente, como a fronda
mecida, sin buscar señas, palabras
o significación. Música sola,
sin enigmas, son solo que traspasa
mi corazón, dolor que es mi victoria.
CLAUDIO RODRÍGUEZ
Sie schaffen das schon...
Como diria um amigo meu: "Minino!!! Que fechação!!" Maravilhoso o poema, Ricardo. Adoro quando vc se "derrama" liricamente repleto de intertextualidade.
Beijão.
Ajo in Übersetzung von R. Domeneck. Gefunden in "modo de usar & co."
"Nos primeiros tempos tive
muita vontade de chorar.
Esta passou,
e me veio então a mesma vontade
mas que desta vez chorasse você.
Al principio me dieron
muchas ganas de llorar.
Se me pasaron
y me entraron mas mismas ganas
pero ya de que lloraras tú."
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