domingo, 12 de agosto de 2012

"Anáfora insone" ou "A vizinha de baixo"




A vizinha de baixo grita.
A vizinha de baixo grita a plenos pulmões.
A vizinha de baixo grita há meses.
A vizinha de baixo grita especialmente às 3 da manhã.
A vizinha de baixo grita especialmente às 3 da manhã há meses.
A vizinha de baixo tem um fôlego invejável.
A vizinha de baixo não tem permissão para dormir ali onde alugara um espaço
                 [como estabelecimento comercial.
A vizinha de baixo não dorme.
A vizinha de baixo não me dá permissão para dormir aqui onde vivo de favor.
A vizinha de baixo tecnicamente não teria permissão para gritar às 3 manhã.
A vizinha de baixo não contava com a falta de astúcia da engenharia civil.
A vizinha de baixo não é Marina Abramović.
A vizinha de baixo tem problemas.
A vizinha de baixo talvez seja louca ainda que eu próprio com frequência
                 [tenha vontade de gritar a plenos pulmões às 3 da manhã e seja menor o número
                 [dos que me chamam de louco só porque não cedo à tentação de gritar
                 [a plenos pulmões às 3 da manhã.
A vizinha de baixo é conhecida como louca e como artista fracassada.
A vizinha de baixo lê muito.
A vizinha de baixo certamente não me lê.
A vizinha de baixo vive debaixo da minha cama.
A vizinha de baixo mora dentro dos meus tímpanos.
A vizinha de baixo não escuta o som da campainha.
A vizinha de baixo é a campainha que me traz de volta dos braços de Morfeu.
A vizinha de baixo é a relação mais íntima que tenho no momento em minha vida.
A vizinha de baixo
A vizinha de baixo
A vizinha de baixo
A vizinha de baixo
A vizinha de baixo



Ricardo Domeneck, por volta das 4 da manhã, após nova performance em Primal Scream da vizinha de baixo.

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