domingo, 2 de fevereiro de 2014

Aniversário do incêndio do Joelma e "Os amantes indecisos", um poema que usa a imagem


Foi aniversário do incêndio do Edifício Joelma ontem, como me chamou a atenção Marcus Fabiano Gonçalves, que se lembrava que eu havia usado a imagem em um poema. Tomo como motivo para compartilhar o poema aqui. E lembrar seus 191 mortos. R.I.P.

Os amantes indecisos

1.

ay Lancelot oh
Guinevere little
guinea
pigs indeiscentes
oxalá os cascos
de cavalo e cavalier
achatem-me o crânio
no despencar de
alturas
dos estames do
senhor farelo & senhora
migalha
de vossas ofertas
& liquidações
pois toda ciudad
baniu-me
oaxaca lumbago chemnitz
como se my medulla
oblongata contagiasse
tel quel maçã-adâmica
ou pior: maçã
evífica –
homúnculos & mulhúnculas
guardam-se
de minhas epiderme & epic
glottis
como calíope da anorexia
e reclinam-se à hipotenusa
ao desfile das penugens
de minha especialúrgica
uniqueza preciosérrima
rarité extinta
como pardais: perdoai-nos
vossa espaçosidade –
! antes projetado
às profundezas
do azul feito
uma Laika
! antes exposto
às explosões
do azul feito
uma Leica
a sujeitar-me em objeto
ao desaire de vosso desejo
alheio alhures
ou nomear-me vosso ornitólogo
na cava & cova
eis-me alcunhalizado embrenhagado
a 16% de rosiclerose
via Amoreno della
Valpolicella
e ninguém esfinja a polpa
deste conundrum
dos motivos por que
fui-me
apagogiar por vossa mercê
ou como hei de me
excabulir


2.

sansão & heloísa
quedam-se inquocientes
a sorver feito lêmures
seu fisco
e sonegam suas
quotas-partes do quotidiano
incapazes da divisão
de 45 por 33
como abelardo
& minnie
asseguram o quórum
de sua assembléia
de 2
e ruflam os tambores
das asas galináceas
de seus tímpanos
com palavrículas
plagiadas de bonnie
& corisco
feito “eis-me a polpa
de teu bulbo”
ou “permita-me,
caro/a senhor/a,
exercer a clara-neve
de vossa cremogema”
enquanto clyde mickey
dalila
dadá
haurem o haraquiri
das memórias
de seus antigos
rituais de acasulamento
perseguindo-lhes
a consciência ao molho
feito Io + abelha
e desgrenham-se
por brenhas
a maldizer copérnico
por roubar-lhes os cantos
do mundo onde
sumidourar-se escafundir-se
para meditar
o hocus-pocus do “não
vos quero mais” dos
árbitros do fim


3.

quisera ser a que
engendra o círculo
de sua atenção
tal qual a
quarta concubina
do mestre que opera
randomicamente
a escolha
de onde medra
seu sim
feito o hoje
que se resigna
ao acetilsalicílico
em minhas glândulas
de 30
de janeiro de
2007
no abismo
de abscissas
em anonimato
para preencher
o gabarito
de sua aceitação
maestro senhor doutor
conheço vosso
1-2-3 e não
sou o 4
inevitável
de sua espeleologia
geologicamente historiográfica
versus minha
klangfarbenjealousy
magnifice vir tamquam
frater et compater
carissime oh pledgeallegiance
excelentíssimo
entre
glass & cage
quede la minimal
chance
de vidrar tus ojos
& engaiolar tus ovos
enfeitando-lhe a fronte
como gleicheniácea
doutor senhor maestro
eis-me açucarada
cucaracha
a escalar-lhe a
glace & cachê
quelque chose
que impeça
la repetitious permuta
de tuas recusas
à minha demasiado
generosa & aleatória
concórdia e resta-me
saharar à alfândega
da manhã
caso eu sobreviva
entre 18:56
& 05:49
à transiberiana

4.

alas! concierge
fazes
de minhas férias
mesmo um Joelma
& me incitas
à discrição
de cachoeira
in cache a
intimar-me exigir-me
auto-
controle
de carro
em capote
euzinho desinfectado
tal intocável
sob plexiglass
ao teu manuseio
de telespectador
contento
-me em ser tua
mais privada
exógena
cowboy
de mi poitrine
cai bem
que me caces
justo à hora
da ceia
& I
the exception
of your etc
imploro
que me compre
ends
tal qual tradutor
de rádio autista
mas ach! candido
dos campos
talvez trabduzir
seja coisa
de Kurosawa
& Shakespeare
a empatizar como
trépano ao tímpano
dannalors thentão
com minhas patas
firmes às rédeas
do cavalo calvo
que me descarrega
às sarjetas do alheio
e do próprio container
hormonal a meio
caminho da selva
escura a todo
velocímetro de altura
imune à vacina
da espera
por tua vaga
resisto a resignar
-me
às catástrofes
de cadastro e facto
do como perseverar
& sobreviver
aos braços dos segundos
se será
hoje amanhã
o dia todo
sim
day post-day: multidawn


§

Ricardo Domeneck in Ciclo do amante substituível (Rio de Janeiro: 7Letras, 2012).

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