Foi aniversário do incêndio do Edifício Joelma ontem, como me chamou a atenção Marcus Fabiano Gonçalves, que se lembrava que eu havia usado a imagem em um poema. Tomo como motivo para compartilhar o poema aqui. E lembrar seus 191 mortos. R.I.P.
Os
amantes indecisos
1.
ay
Lancelot oh
Guinevere
little
guinea
pigs
indeiscentes
oxalá
os cascos
de
cavalo e cavalier
achatem-me
o crânio
no
despencar de
alturas
dos
estames do
senhor
farelo & senhora
migalha
de
vossas ofertas
&
liquidações
pois
toda ciudad
baniu-me
oaxaca
lumbago chemnitz
como
se my medulla
oblongata
contagiasse
tel
quel maçã-adâmica
ou
pior: maçã
evífica
–
homúnculos
& mulhúnculas
guardam-se
de
minhas epiderme & epic
glottis
como
calíope da anorexia
e
reclinam-se à hipotenusa
ao
desfile das penugens
de
minha especialúrgica
uniqueza
preciosérrima
rarité
extinta
como
pardais: perdoai-nos
vossa
espaçosidade
–
!
antes projetado
às
profundezas
do
azul feito
uma
Laika
!
antes exposto
às
explosões
do
azul feito
uma
Leica
a
sujeitar-me em objeto
ao
desaire de vosso desejo
alheio
alhures
ou
nomear-me vosso ornitólogo
na
cava & cova
eis-me
alcunhalizado embrenhagado
a
16% de rosiclerose
via
Amoreno della
Valpolicella
e
ninguém esfinja a polpa
deste
conundrum
dos
motivos por que
fui-me
apagogiar
por vossa mercê
ou
como hei de me
excabulir
2.
sansão
& heloísa
quedam-se
inquocientes
a
sorver feito lêmures
seu
fisco
e
sonegam suas
quotas-partes
do quotidiano
incapazes
da divisão
de
45 por 33
como
abelardo
&
minnie
asseguram
o quórum
de
sua assembléia
de
2
e
ruflam os tambores
das
asas galináceas
de
seus tímpanos
com
palavrículas
plagiadas
de bonnie
&
corisco
feito
“eis-me a polpa
de
teu bulbo”
ou
“permita-me,
caro/a
senhor/a,
exercer
a clara-neve
de
vossa cremogema”
enquanto
clyde mickey
dalila
dadá
haurem
o haraquiri
das
memórias
de
seus antigos
rituais
de acasulamento
perseguindo-lhes
a
consciência ao molho
feito
Io
+ abelha
e
desgrenham-se
por
brenhas
a
maldizer copérnico
por
roubar-lhes os cantos
do
mundo onde
sumidourar-se
escafundir-se
para
meditar
o
hocus-pocus do “não
vos
quero mais” dos
árbitros
do fim
3.
quisera
ser a que
engendra
o círculo
de
sua atenção
tal
qual a
quarta
concubina
do
mestre que opera
randomicamente
a
escolha
de
onde medra
seu
sim
feito
o hoje
que
se resigna
ao
acetilsalicílico
em
minhas glândulas
de
30
de
janeiro de
2007
no
abismo
de
abscissas
em
anonimato
para
preencher
o
gabarito
de
sua aceitação
maestro
senhor doutor
conheço
vosso
1-2-3
e não
sou
o 4
inevitável
de
sua espeleologia
geologicamente
historiográfica
versus
minha
klangfarbenjealousy
magnifice
vir tamquam
frater
et compater
carissime
oh pledgeallegiance
excelentíssimo
entre
glass
& cage
quede
la minimal
chance
de
vidrar tus ojos
&
engaiolar tus ovos
enfeitando-lhe
a fronte
como
gleicheniácea
doutor
senhor maestro
eis-me
açucarada
cucaracha
a
escalar-lhe a
glace
& cachê
quelque
chose
que
impeça
la
repetitious permuta
de
tuas recusas
à
minha demasiado
generosa
& aleatória
concórdia
e resta-me
saharar
à alfândega
da
manhã
caso
eu sobreviva
entre
18:56
&
05:49
à
transiberiana
4.
alas!
concierge
fazes
de
minhas férias
mesmo
um Joelma
&
me incitas
à
discrição
de
cachoeira
in
cache a
intimar-me
exigir-me
auto-
controle
de
carro
em
capote
euzinho
desinfectado
tal
intocável
sob
plexiglass
ao
teu manuseio
de
telespectador
contento
-me
em ser tua
mais
privada
exógena
cowboy
de
mi poitrine
cai
bem
que
me caces
justo
à hora
da
ceia
&
I
the
exception
of
your etc
imploro
que
me compre
ends
tal
qual tradutor
de
rádio autista
mas
ach! candido
dos
campos
talvez
trabduzir
seja
coisa
de
Kurosawa
&
Shakespeare
a
empatizar como
trépano
ao tímpano
dannalors
thentão
com
minhas patas
firmes
às rédeas
do
cavalo calvo
que
me descarrega
às
sarjetas do alheio
e
do próprio container
hormonal
a meio
caminho
da selva
escura
a todo
velocímetro
de altura
imune
à vacina
da
espera
por
tua vaga
resisto
a resignar
-me
às
catástrofes
de
cadastro e facto
do
como perseverar
&
sobreviver
aos
braços
dos segundos
se
será
hoje
amanhã
o
dia todo
sim
day
post-day: multidawn
§
Ricardo Domeneck in Ciclo do amante substituível (Rio de Janeiro: 7Letras, 2012).
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