Conheci Simon Kaiser este ano. Bem, desde então ele emprestou sua proporção áurea e sua tatuagem da Proporção Áurea para a capa do meu novo livro, Medir com as próprias mãos a febre (a foto é do alemão Tom Harmony, feita na sala do meu apartamento) e recebeu meu poeminha "Kouros", em que o comparo ao kouros criselefantino da Civilização Minoica.
Ele vem organizando as melhores festas de Berlim dos últimos meses, a Trade, com seu ouvido atento para o agora, com performances de Wife, Lotic, Kablam, Why Be, Mechatok, e mais.
Como DJ, aqui está seu perfil no Soundcloud.
Abaixo, meu poema "Kouros", dedicado a ele.
Kouros
a Simon Kaiser
Você, feito o menino-deus minoico,
parece, em pé, sobre os escombros
de uma civilização, e eu o arqueólogo
buscando em escavações na cidade
resquícios do culto que gerou a forma
esguia, longilínea, atenta aos detalhes
em que você o aperfeiçoa. Perdoe-me
se ofende esse desejo quiçá geriátrico,
ao contemplar seu corpo de menino
e deus no meio da sala, as fantasias
de um retorno a uma Atenas perdida,
alguns séculos depois de Knossos
e uns milênios antes de Washington,
querendo tão-só tê-lo por erômenos,
e coroá-lo o favorito deste velhote.
Neste labirinto, não serei Minotauro
algum, nem você Teseu, se morta
está aquela cultura, e Atenas hoje
sequer diz-se fazer parte da Europa.
Deixe-me ser tão-só leal pedagogo
disposto a compartilhar tudo o que
eu coletei e colhi do múltiplo Logos
neste planeta, querendo em troca
apenas poder estar na mesma sala
que você, como estamos nós agora.
E nestes dias de crise elefantíaca,
farei de você o meu próprio kouros
criselefantino, com sua saúde de touro
comparável só à daqueles meninos
minoicos, estes sim de carne e osso,
que saltavam, mãos firmes nos chifres,
aqueles auroques hoje extintos,
como você me sobrevoa agora
com os olhos, menino de couro vivo.
§
in Medir com as próprias mãos a febre (Rio de Janeiro/Lisboa: 7Letras/Mariposa Azual, 2015).
§
Abaixo, meu poema "Kouros", dedicado a ele.
Kouros
a Simon Kaiser
Você, feito o menino-deus minoico,
parece, em pé, sobre os escombros
de uma civilização, e eu o arqueólogo
buscando em escavações na cidade
resquícios do culto que gerou a forma
esguia, longilínea, atenta aos detalhes
em que você o aperfeiçoa. Perdoe-me
se ofende esse desejo quiçá geriátrico,
ao contemplar seu corpo de menino
e deus no meio da sala, as fantasias
de um retorno a uma Atenas perdida,
alguns séculos depois de Knossos
e uns milênios antes de Washington,
querendo tão-só tê-lo por erômenos,
e coroá-lo o favorito deste velhote.
Neste labirinto, não serei Minotauro
algum, nem você Teseu, se morta
está aquela cultura, e Atenas hoje
sequer diz-se fazer parte da Europa.
Deixe-me ser tão-só leal pedagogo
disposto a compartilhar tudo o que
eu coletei e colhi do múltiplo Logos
neste planeta, querendo em troca
apenas poder estar na mesma sala
que você, como estamos nós agora.
E nestes dias de crise elefantíaca,
farei de você o meu próprio kouros
criselefantino, com sua saúde de touro
comparável só à daqueles meninos
minoicos, estes sim de carne e osso,
que saltavam, mãos firmes nos chifres,
aqueles auroques hoje extintos,
como você me sobrevoa agora
com os olhos, menino de couro vivo.
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in Medir com as próprias mãos a febre (Rio de Janeiro/Lisboa: 7Letras/Mariposa Azual, 2015).
A proporção áurea e a Proporção Áurea de Simon Kaiser (NYYN)
em foto de Tom Harmony e design de Peter Martin Dreiss
na capa da edição brasileira do meu novo livro.
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