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terça-feira, 20 de outubro de 2015

poeminha da picuinha

as pinturas na pedra
da serra da capivara
e as tábuas de argila
duns hinos a nanna
(enheduanna no altar)
como o abjad fenício,
tatuagem na princesa
do altai, e os poemas
perdidos de neoteroi,
e os mortos inéditos,
tudo isso, muito mais,
põem em perspectiva
literatos de picuinhas.

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quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Dos satyricus: "Poema do mais triste miojo"


Rocirda Demencock no alto do Mosteiro da Cúpula Dourada de São Miguel, 
em Kiev, na Ucrânia. Foto de Alexander "Sasha" Burlaka.


Poema do mais triste miojo

                "Pungem fundo as puas do cardo."
                                       Manuel Bandeira 

Derretendo nas estepes,
sem cossacos, a galope,
que venham, o sequestrem,
o poeta velho toma borche
e sonha com os jovens
monges de batina, feéricos,
que ele viu no monastério.

Ele ora: "Senhor, que o céu
um dia seja azul-turquesa
como, naqueles senhores,
as suas impecáveis vestes,
os incorruptíveis corpos."
E exorta: "Ide preparando
-vos, meus filhos e irmãos.

Se até mesmo o Bandeirão
finou em muxoxo sobre cardo,
como haveis de pururucar-vos,
pensais? Feito saltimbancos?
Quiçá vestindo saltimbarca.
Quede meios pra cardo, pirão?
Miojo custará olhos da cara.


Rocirda Demencock. Carcóvia (Kharkiv), Ucrânia - 2 de setembro de 2015.

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domingo, 11 de maio de 2014

Doodling over food

American burger for lunch,
some Arab poetry as dessert.
He smokes French cigarettes.
Then again comes hunger,
Coffee and Chinese noodles,
reflections on Gnostic Gospels.
Barbarians in jeans & heels
praising Dolci & Gabbana
disturb his mind´s poodle.
He is currently very upset
at a translation of Foucault.
And why do they misquote
Walter Benjamin´s Jetztzeit?
These idiots and their Žižek.
A little talk of Syrian bodies,
some complaints about rent,
he is poor, but he has porn,
who cares, he reads Chekhov.
If you mention the Ukraine,
his analogies become anal,
his historicism, anachronical.
Who would dare question
all his knowledge on Crimea?
Sensing he´s losing his edge,
in his skin he feels the crisis.
He listens to Cry me a river.
Whiskey calms his thoughts.
When lucky, he gets at night
what he loves, coke and cock.
Then to bed he takes his head,
the prized public intellectual.
He hugs a stuffed rabbit doll.
Tomorrow: tacos, sushi, et al.


Rocirda Demencock. Berlin, May 10th, 2014.

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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Dos satyricus: "Brace Brace for Crash Loving" (2014)


"Brace Brace for Crash Loving" (2014)

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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

poemetos de cozinha

poemetos de cozinha entre um cigarro e outro, o café esfriando.

amor

I.

      après Creeley


é uma coisa

           que nem eu

sei:

           óia lá

  o gato

             e

                  o rato

             e

   eu

                     não

sou cachorro

                     não



§



II.

sou eu
ou seu




Rocirda Demencock, dezembro de 2013



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domingo, 18 de agosto de 2013

Dos satyricus. Poema.

Vida de poeta de sucesso: 
paguei a dívida no puteiro,
reabriu-se-me o crédito,
tem shampoo no banheiro
pros meninos em oferta.

Ricardo Domeneck. 2013. Agosto. Foto: Philip-Lorca diCorcia, da série "Hustlers".




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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Como eu me vejo / Como os alemães me veem

Como eu me vejo na Alemanha.
How I see myself in Germany.
  
   
 § 

 Como os alemães me veem.
How Germans see me.

 

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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A história da gerenta






A história da gerenta

              kissing the feet of the man above,
              kicking the face of the man below.
                               Marianne Moore

Para sentar-se à mesa,
ela exibiu as cicatrizes.
Ao ascender à direita
do patriarca-messias
– o falho unigênito –
expôs as cicatrizes
e todos aos joelhos,
boquiabertos frente
à ilusão do materno.
Uma vez à cabeceira,
abobava os convivas
com as acrobacias
de suas cicatrizes.
A gritos de rainha
louca, aquietava
todos os muxoxos
seu salvo-conduto,
imunidade herdada
de suas cicatrizes.
Em meio às rusgas
e a caça às bruxas,
nem as suas rugas
tapam as cicatrizes.
Altaneira, que sono
de justa lhe doam
as suas cicatrizes,
como é sobranceira
ao ditar quem vive
e morre, sem tremer
sequer a sobrancelha!
Chicote em punho,
castigava os dorsos,
mas quem ousaria
questionar a dona
de tantas cicatrizes?
Quando terminou
enfim o genocídio,
– não por detê-lo
mas consumá-lo –
ainda distrairia
a todos, houvesse
alguém sobrado,
com a autoridade
de suas cicatrizes.
Só, afinal, à cama,
sonhou-se em Haia.
Não se sabe, porém,
se qual juíza, ou ré.

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domingo, 24 de junho de 2012

A função social do poeta




A função social do poeta

         
                                           a Daniel Saldaña París


A Perse e Parra, o poeta
funciona tal qual mala 
conciencia de la época.
Pergunto, se os traduzo:
consciência má? Pesada?
Peso na ou da cuja dita?
Para uns, trata-se do id
dos ânus do tempo, R.G.
da lama entre as linhas
de mapas. Quiçá raio-X
genérico dos portadores
dos XX & XY de um país.
Outros estão mui certos
de que esta sua fatura
aumenta deveras o PIB,
ou que sua voz é o GPS
dos perdidos en la noche
oscura. Quando juntos,
dão-se ares de BNDES.
Entre os egos, talvez
seja o poeta o super-
ego do seu momento,
como uma tia chata
que ao invés de dizer
em alto e bom tom:
"coma logo as ervilhas",
recorre a vários métodos
obscuros de persuasão,
"esta ervilha é um mundo",
"esverdeadas dar-te-ão
eterna vida", "este legume
é como o planeta coberto
de gramíneas", "das vagens
às várzeas da tua louça",
"estas trezentas soldadas
são espartanas, faz agora
do teu prato as Termópilas",
"ervilha minha senil que
te comeste, tão logo desta
janta descontente", "pelo
menos um fruto em teu
ventre, solteirona". Ainda
por cima nos tantaliza
com suas tautologias:
"a ervilha é verdinha", etc.
É óbvio que os bar-roucos
prefeririam: "Ervilha-Fénix
das aias do escarra-velhos
do Himalaia, iactantia est".
Pois se alguns há séculos
insistem em lembrar-nos 
que o céu é azul, pássaros
voam e as flores se abrem
no mês de ____ (escolha,
leitor, o seu hemisfério). 
Tia chata, recorra à sátira,
pois os subnutridos não
são moucos só ao riso:
"Não querias comer Elvira?
No interregno, às ervilhas!"
Esqueçamos os legumes.
Os mortos-vivos só dão
ouvidos a energúmenos.
Por mim, possuísse
algum alto-falante
potente ou bastante,
esgoelaria: "devorem
logo toda essa merda
no prato, nos poupem
o trabalho", mas ao fim
sei que ninguém
comeria, anyway.
É como passar a vida
a buscar novas formas
para olha o aviãozinho.
Ai, de Sísifo,
já me basta
o phallus.
Dirão que um poeta,
ao dizer isso, pratica
a auto-sabotagem.
Ora encerremos,
dessarte, com algo
ambíguo e suficiente
para as meditações
em nossos próximos
Minutos de Sabedoria:
"Poeta: geringonça
entregue a ciclos
circadianos sem
qualquer zeitgeber."
Cansa-me a beleza.



Rocirda Demencock, a rolar no chão rindo da cara de Ricardo Domeneck,
Bebedouro - São Paulo, 24 de junho de 2012.


§

Nota escrita a 15 de julho de 2012:


Este poema surgiu ao ler uma citação do poeta chileno Nicanor Parra na página (Tumblr) do poeta mexicano Daniel Saldaña París, a quem dediquei este poema. A citação era: en un mundo desprovisto de racionalidad / la poesía no puede ser otra cosa / que la mala conciencia de la época / lo demás es literatura grecolatina”, de um poema escrito em 1992. Ao publicar aqui este poema, as primeiras linhas eram: "Parra escreveu: o poeta / funciona tal qual mala / conciencia de la época", em referência direta ao chileno. Naquele dia, o poeta gaúcho Marcus Fabiano Gonçalves chamou-me a atenção para o fato de que o poeta francês Saint-John Perse dissera coisa muito parecida em seu discurso em Estocolmo, ao aceitar o Prêmio Nobel em 1961: Face à l'énergie nucléaire, la lampe d'argile du poète suffira-t-elle à son propos? Oui, si d'argile se souvient l'homme. Et c'est assez, pour le poète, d'être la mauvaise conscience de son temps.” Decidi incorporar Perse ao poema, passando a iniciar o texto com o aliterativo "A Perse e Parra, o poeta", mantendo no entanto a citação em castelhano do latinoamericano, por ser mais imediatamente compreensível a um leitor lusófono, e porque me interessa o jogo com mala, falso cognato em português e espanhol.

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sábado, 7 de janeiro de 2012

Paródia tolinha (para os que concordam com a definição de Oswald de Andrade, por paronomásia, para a palavra "amor")


Lobotomia

Histeria, bruxismo, cefaleia e priapismo noturno.
A novela inteira do que poderia ter sido. Ou não.
Sniff, sniff, sniff.

Mandaram chamar o psicanalista reichiano.
_ Estique os braços trinta e três vezes.
_ Sniff, sniff, sniff.
_ Perspire.

O senhor sofre de transtorno obsessivo-compulsivo e da síndrome de Clérambault.
_ Então, doutor, não é possível tentar uma lobotomia?
_ Não, a única coisa a fazer é assistir a um filme do Almodóvar.




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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Tarde com Marília Garcia pelas ruas de Bruxelas, gravação da minha cantiga de escárnio "Quadrilha irritada" e leitura na Maison de la Poésie, em Namur

Ricardo Domeneck e Marília Garcia, editores-coruja da Modo de Usar & Co.,
na Maison de la Poésie, Namur, Bélgica. Foto de Arnaud de Schaetzen.

A manhã de sexta-feira começou com rojões, mas não era exatamente para celebrar a presença de quatro poetas brasileiros na cidade. Era a vez dos habitantes da capital oficial da Europa protestarem contra os planos de austeridade do Governo Belga, por conta e consequência das catástrofes de especuladores norte-americanos que explodiram em 2008. Francisco Alvim, Lu Menezes, Marília Garcia e eu, após o café-da-manhã no hotel, saímos para as ruas para acompanhar e observar os slogans e reivindicações da população bruxelense.

Os protestos estão explodindo por toda a Europa, da Espanha à Grécia, da Inglaterra à França. Na Alemanha, que tenta equilibrar os pratos bambos da União Europeia, as coisas parecem calmas, ainda que a população comece a se perguntar se o país pode mesmo dar ordem à confusão deste novelo embaraçadíssimo. É muito esclarecedor observar o que ocorre nos países vizinhos. O Brasil e a Alemanha parecem ter-se saído com arranhões mas sãos da crise iniciada em 2008, ou será ilusão? Meus amigos e eu temos sentido na carne o aumento abusivo dos aluguéis em Berlim, do preço da comida. Berlim já não é a cidade que era quando cheguei.

Mais tarde, Marília e eu seguimos para livrarias, queríamos pesquisar poesia belga para futuras traduções e artigos na Modo de Usar & Co.. Eu queria também tentar encontrar mais livros de Gerard Reve (ver postagem anterior). Encontramos algumas coisas interessantes, mas fomos aconselhados a tentar a Librarie Quartiers Latins, onde há tudo o que se busca de prosa e poesia belgas. Como era justamente a livraria onde faríamos a leitura de Bruxelas, deixamos o resto da pesquisa para o dia seguinte.

Almoçando, Marília e eu tivemos uma ideia muito legal para um volume de ensaios, para o qual pretendemos convidar alguns poetas em breve. Mais informações assim que a coisa se concretizar.

Estamos filmando as leituras no Europalia para prepararmos um vídeo para a Modo de Usar & Co.. Como eu havia escrito em Bruxelas uma cantiga de escárnio intitulada "Quadrilha irritada", paródia do poema de Carlos Drummond de Andrade, Marília quis que gravássemos a porrada maysada e lupiciníaca a quente. O resultado é o vídeo abaixo:



Ricardo Domeneck - "Quadrilha irritada", cantiga de escárnio e poema satírico-paródico, gravado em Bruxelas, Bélgica, a 2 de dezembro de 2011. Vídeo de Marília Garcia.

Mais tarde, seguimos para Namur, onde lemos novamente os quatro juntos na Maison de la Poésie, numa noite que foi realmente muito legal. O vídeo das leituras seguirá em breve.

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quarta-feira, 10 de março de 2010

"Poetry Police": da série dos poemas satyricus: "We have crashed their party."

"... he buzzes like a fridge,
he´s like a detuned radio."



"We have crashed their party."

Faço minhas as palavras do sublime caolho.

Mas ironia é por vezes a resposta mais elegante. Então, segue aqui um reversão irônica. Para ser lido ao som e ritmo de "Karma Police", do senhor Thom Yorke e seu coletivo Radiohead. Dedico este poema abaixo ao bufão-mor. Deveria ser lido apenas por pessoas adultas, dotadas de ironia. Pobre sr. CD. Como será o dia em que ele perceber como desperdiçou energia com sua pseudo-intifada leviana?

Os leitores, é claro, ganhariam muito mais se fossem apenas direto à Modo de Usar & Co., onde publiquei hoje algumas traduções para poemas de Harryette Mullen. Coisa de e para adultos. Mas, se vocês querem rir, segue abaixo um poeminha satírico. Para os que gostam de brincar de circo em chamas.



Poetry Police

Inquérito A-

Poetry Police:
apreenda os sujeitos
a perturbar
minha floricultura 
de metáforas luzidias,
situada à rua 
Nenúfares de Bulhufas,
invade seus dicionários
feito matilha de Moglis
em caça de tigres de jade 
no Himalaia imaginário.

Inquérito B-

Poetry Police:
detenha o pogrom midiático
de nossas pseudohiroshimas
de proxenetas de paulcelana,
nossos holocaustos de bolso
& pretty posters in neon
a berrar MAKE IT NEO
soniferam-lhes, bobos,
más allá de Tenerife
enquanto xiito
com auréolas 
de Aurélio.

Inquérito C-

Poetry Police:
protege nossas raparigas
que adornam as páginas
como biólogas marinhas
em Atlântida,
arranjando vasos sublimes
de versos em misticercose,
com suas polaroids
de aplicadas discípulas 
de Amy Lowell.

Inquérito D-

Poetry Police:
acompanha a procissão 
da fila dos noviços, 
de joelhos à minha benção,
Eu, a Besta Difásica,
estou ocupadíssima
a construir em castellano
meus castelos 
de cartas e castas.

Inquérito E-

Poetry Police:
veste teu vestuário,
sacerdote xamãpoo,
tua peruca de aura,
começou a intifada
pois já se hibridam
cowboys & indians
na confusão 
entre ética e Ática.

Inquérito F-

Poetry Police:
aponta os canhões
do cânone, 
defende-nos, 
nós, poor trans-histéricos,
de todo o malévolo
pau écran mafioso
do Barulho Adversário
e dos patos de borracha
do bad böse villain,
um tal de Mr. Quotidian.


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quinta-feira, 20 de março de 2008

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