terça-feira, 2 de abril de 2019

1° de Abril: Dia da Mentira das Revoluções




Em texto no Correio Braziliense, o jornalista Luiz Carlos Azedo se entrega a uma tarefa ingrata para o curto espaço: desenovelar de alguma forma o ninho-de-gato que eram as forças políticas atuando naquele março e abril de 1964.

Uma coisa que me interessa muito aqui é algo ao qual sempre retorno: sua exposição do golpismo inscrito no DNA da República, e não só. Ele retorna até mesmo à chamada “Noite da Agonia” — 12 de novembro de 1823 — quando Dom Pedro I mandou o exército fechar “a golpes de sabre” a Assembleia Constituinte, enquanto os senadores resistiam. O resultado foram prisões e o exílio, dentre outros, de José Bonifácio de Andrada e Silva (1763 — 1838).

Tudo no Brasil é sempre mais complicado. As mudanças para que tudo permaneça igual. Por mais republicano que eu seja, não é possível ignorar o movimento do alto para baixo que foi o movimento republicano no país, e sua paternidade em grande parte militar. As consequências disso. O exército vem interferindo na política nacional desde o fim da Guerra do Paraguai. Ao mesmo tempo, aprecio no texto a recuperação do nome de um militar democrata e legalista como o general Henrique Lott.

Talvez pareça exagero a alguns voltar a um passado que lhes parece distante. A mim não parece. A república começa entre golpes e renúncias. Nos jornais do fim do século XIX, Olavo Bilac e Raul Pompeia já trocavam insultos por causa do governo de Floriano Peixoto - que dera o golpe em 1891. Com a renúncia de Deodoro da Fonseca, se deveriam ter convocado novas eleições. Já no começo as desconfianças entre presidente e vice-presidente por causa da ideia maluca de desvincular a eleição de cada, por chapas diferentes e muitas vezes inimigas. Isso é central na crise de 1961 e no golpe de 1964. Golpe que havia sido frustrado em 1954 com o suicídio de Getúlio Vargas. O antipetismo de hoje. O antigetulismo de então. É provável que o Estado Novo estivesse fresco na memória de gente mais velha em 1964. Lembremo-nos das prisões de Graciliano Ramos, Dyonélio Machado e outros. Mesmo assim, NADA, absolutamente NADA justifica o golpe de 64 e os horrores que se seguiram, varios deles crimes contra a Humanidade de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Convenção de Genebra, etc. O Brasil sempre condenado ao beabá.

Estas são as conjunções apenas nacionais. Junte-se a tudo isso a Guerra Fria, o intervencionismo norte-americano, e está armado o circo sangrento. Eu concordo ser muito importante dar o nome certo às coisas. O que ocorreu no dia 1 de abril (o aniversário é hoje, mas isso é picuinha) foi um golpe militar. Mas... tudo no Brasil é mais complicado, então me permita demonstrar como não há sempre consenso sobre qual nome dar a quebras da ordem institucional. Eu nasci e cresci no estado de São Paulo. A maior parte da vida aprendi que o que aconteceu a 24 de outubro de 1930 foi o GOLPE de 1930. O resto do país parece chamar sem problemas de REVOLUÇÃO de 1930. Não sou ingênuo. É óbvio que os paulistas tinham interesses econômicos e políticos na manutenção da Velha República. Além disso, Vargas claramente teve um efeito modernizador sobre o país, e ele descaradamente fora fraudado nas eleições de 1 de março daquele ano, que deram a vitória a Júlio Prestes. Todos concordam que 1937, no entanto, foi um golpe. A velha história: revolução para quem ganha, golpe para quem perde?
Enfim, vale a leitura e a expansão do texto. 

Eu acredito que esforços como este, por parte de escritores e jornalistas, são inestimáveis em momentos de polarização como o nosso.

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