quarta-feira, 10 de abril de 2019

Elegia quase uma ode para Scott Walker no frio da hora de sua morte




Está completa
a obra.
Estará repleto
o trabalho?

Consumado.
Inconsútil,
inútil
para o consumo,

sitiante
citadino,

está consumado
e não consumido.

Ele, sumido
no sumidouro
de tudo,
o homem. A obra
a nós consignada.

Não mais somada.
Não mais se soma.
Não mais se.

A coscinoscopia
do mundo,
buraco da agulha.
Nós, uns camelos.

Do sial e da sima
ao resto da crosta
ruge a subtração
da sina de nunca
mais canções.

Ele. Que negou
o terceiro canto
do galo, da crista
da onda, optou

pelo fundo
no mundo,

o habitat
de sibas,
de lulas,
de polvos.

Se fosse, foste
um cefalópode.

Polvos hão-de
te consumir,
consumar-te
cantos novos

e nós, nós
quando houvermos-de
haurir pensamentos de
corpo todo.

Música, música
para as lulas,
para as chuvas,

o retorno
dos corpos
às águas,

tua voz o mais
próximos
a chegarmos
de sonares.

§

Berlim, 25 de março de 2019.

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