quinta-feira, 11 de abril de 2019

Alguns poemas contemporâneos que eu gostaria que vocês conhecessem

Postagem com poemas escritos nas últimas décadas que aprecio muito, dentre os vivos. A publicação é atualizada de tempos em tempos com textos mais recentes.

POEMAS CONTEMPORÂNEOS

Sabugo
André Capilé

1. um possesso

nunca nasci e assim me lembro.
tudo que tenho é o que carrego

no corpo: planisfério pele
e pelo — o que chamar de meu.

2. no teste dos dentes

imprescindível — para estar

íntimo — o silêncio.
tudo que sei desse pão
— que fazer desconheço —
é o mastigo.

do coração — pânico — não digo.

3. o afeto

só posso dar o que é meu.
e não me violento. naturalizo
algo frouxo de gesto e viço.

4. quando sou

não eu. raso me conheço e duro.
o resto é enquanto muro

a manutenção dos meus dias

(o que me faz sólida alvenaria
na reza medida dos tijolos do pórtico).

5. repentino

aguardo a constante surpresa,
embora nenhuma constante
surpreenda.

agarro a boca convicta
de não estar mímica.

a bolsa, mínima, desova
boas novas caídas por desuso.

6. no espólio

optar por mim
nunca foi boa aposta.

continua silêncio.

será que me chamam?
tudo que sei é agora.

7. das fruteiras

o alguidar e as frutas.
e as moscas nas frutas.

continua silêncio aqui.
e continua silêncio comigo.

obceco a fruta em tato cego.
bruto, sopro as moscas e sigo.

8. na mímica

não eu. algo que me falta é sem mímica.
meu escólio: forçar a escolha do toque.

fiar por fiar: já respirei sem janelas.

e o coração ainda pânico.
e nada do corpo se cabe.

9. de caber

e não me caibo, caibro pouco
e nada. ao conhecer a nudez,
diferi: vesti as estrias da noz.

10. avarandado

não haverá tradução de imagem
um salto? faz dia. a manhã já é.

lúcido

o sol arrasa as pernas
cortadas à sombra das persianas.

11. se sedento

estou, não movo passagens.
resumo tudo em estadia. se

sedento, bebo como quem percebe,
na colha, a bulha de folhas secas.

12. no fim

a areia silencia
a coreografia
de pequenos saltos.

cumpre o silêncio formigar domingos.

*

O cutelo
Dirceu Villa

São ossos. E às vezes, a banha amarela nos ossos;
e às vezes, o sangue vermelho nas unhas.
São porcos, ou são as cabeças dos porcos,
penduram num gancho as cabeças,
ou a cara de estúpida morte dos porcos
no vidro embaçado do açougue.
Ou o branco, mas branco embebido de rosa,
o sangue no sonho de tripas,
sonha o açougueiro: que empunha um cutelo.
E o branco avental que se banha
ou que bebe, o sangue que salta dos nervos
num abraço com ossos, onde vibra o cutelo,
e como brilha o cutelo que corta:
é essa a virtude do aço no punho, que sobe,
ou a ameaça na roda vazia que o prende
no espaço do açougue, visível aos olhos,
anúncio de corte. Ou espeta seu fio numa pedra,
e o único olho vazio se concentra, à espera da carne.
São cortes na pedra lanhada de sangue,
ou fendas, de onde a morte o espreita,
açougueiro no sonho vermelho, acariciando
o fio afiado, o sorriso sutil do cutelo,
que corta. E então o cutelo é outra coisa:
nem porcos, nem nervos, nem ossos,
nem mesmo o açougueiro que o sonha,
mas parte extensiva do braço que o vibra,
e parte indelével do que ele mutila,
o fio afiado, o sorriso sutil do cutelo, que corta.

*

Arame falado 
Marcus Fabiano Gonçalves


A

pela cabaça larga do berimbau, soa a garganta árabe do arame:
alambre que lembra o barbante em fio de ferro, lata ou estanho
a fina corda vocálica dos bantos, no varal ao vento, sem grampos

E

atenção a essa civil barricada bélica em sua ameaça nunca discreta:
CUIDADO: CERCA ELÉTRICA – no fio do mourão, o limite da gleba
torcido a torquês, a prego e martelo, ou urdido em arame na rede da tela

I

o artífice molda a gargantilha, o equilibrista sobre seu chão mínimo
um fio encapado que percorre condutível a bipolaridade alternativa
e de cujo enrolar nasce a bobina, essa mãe magnética do eletroímã

O

hoje a cobra vítrea da fibra ótica, ainda ontem os dois polos de cobre
o arame aéreo do telégrafo no poste, esse bisavô de wireless e modens
passando ao telefone seus trotes a bits e torrents, bisnetos do Morse

U

um arame que só sirva no mundo ao metalescente fio do discurso
flexível e dúctil, livre de acúleos, arame que jamais cerque redutos
como guetos de surdos, um arame falado: fio de luz no crepúsculo.


*

Lúcida rendição
Maria Lúcia Alvim

Sei que é amor, embora dura
seja a perfeição de sua face. Sei do
frio sândalo que exala a palma reluzente
do timbre de seu riso
da madura
solidão que o aperta entre os braços.

Sei que é amor. Nenhum disfarce
diante do claro labirinto —
a voz, o gesto escasso
a velatura cúmplice dos cílios
e o secreto crivo
                                a capitular
dúctil e vivo.

Sei que é amor, conheço o passo
do gnomo solerte
o sopro exausto
a lenta
curvatura do corpo, quando espreita a própria fome,
e a língua presa
pelas palavras pálidas e tristes.
Sei que é amor. Sei e consinto
em sua lícita usura

na severa parábola ds múltiplos equívocos
— enquanto a fluida escolta

desamor
deflagra minha sombra ao seu redor.

*

As quatro estrações
Érico Nogueira

1.

A noite, e tudo o que é escuro e cíclico
e liquefaz-se ao tempo do farol,
está predita em todos os testículos,
nas orquídeas que chegam com a estação,
embora não vejamos. Só o ouvido,
que pinça o inominado, pinça, então,
do rio a cuja beira estive, estou,
o ar da bolha, da que morre o grito.
Eu não ouvia bem naquele tempo
quando meu olho, então recém-aberto,
se iluminava, fixo no desenho
que as folhas têm olhadas mais de perto;
tanto pior, tanto mais fria a noite
de quem vai nu ao mar, vai nu ao monte.

2.

a João Ângelo

Durante o átimo em que se aniquilam
dos corpos toda sombra e traço dúbio,
quando o globo é mais túrgido e mais nítido,
tem mais saliva a língua, que mergulha,
é quando o espinho, antes imprevisto
em fruta incandescente assim, e úmida,
entala na garganta e não afunda
se não levar quem mergulhou consigo.
Eu cuidava que as águas eram rasas,
e que corais nem pérolas havia
senão os ossos que à maré mesquinha
apetecia abandonar na praia:
lambido o fogo, vi-me em água densa
abrindo a ostra ao fogo nada infensa.

3.

Amarelece o ar, a terra, a água;
o fogo amadurece e, doce, azula;
se incide sobre as pedras na penumbra,
ele descobre-lhes a face exata
e delas vai fazendo busto e estátua:
tendo subido aqui, a esta altura,
indiferente sob estio ou chuva,
vejo que pedras tenho só, talhadas,
mas pedras mesmo assim. Pergunto ao fogo
de que me vale a mim a galeria,
se em breve escorrerei ao negro poço
e passarei: “De nada valeria,
se a cerejeira não florisse agora
sob o vento que passa e a luz que doura.”

4.

E a nuvem torna, torna enfim o vidro
de que se enche aquele mar imóvel
onde o cardume acaba, e o rio que corre;
o louro seco, a taça já sem vinho
e a neve elementar no céu friíssimo
parecem proclamar que se dissolve
o quanto pelos lábios dança e escorre:
se o galho esplende, pesa sobre o abismo.
Neste penhasco, na aridez da pedra,
me apronto agora para ser levado,
para voltar enfim a ser areia,
e penso em tudo, e olho a todo lado;
não sei se é luz ou não o que há no gelo,
mas sei que é calmo, que não vou temê-lo.

*

sereia a sério
Angélica Freitas

o cruel era que por mais bela
por mais que os rasgos ostentassem
fidelíssimas genéticas aristocráticas
e as mãos fossem hábeis
no manejo de bordados e frangos assados
e os cabelos atestassem
pentes de tartaruga e grande cuidado

a perplexidade seria sempre
com o rabo da sereia

não quero contar a história
depois de andersen & co.
todos conhecem as agruras
primeiro o desejo impossível
pelo príncipe (boneco em traje de gala)
depois a consciência
de uma macumba poderosa

em troca deixa-se algo
a voz, o hímen elástico
a carteira de sócia do méditerranée

são duros os procedimentos

bípedes femininas se enganam
imputando a saltos altos
a dor mais acertada à altivez
pois
a sereia pisa em facas quando usa os pés

e quem a leva a sério?
melhor seria um final
em que voltasse ao rabo original
e jamais se depilasse

em vez do elefante dançando no cérebro
quando ela encontra o príncipe
e dos 36 dedos
que brotam quando ela estende a mão

§

A bilha
Alberto da Costa e Silva

Assim o barro, em tuas mãos pequenas
e machucadas, ergue um voo, povo:
é um ai de terra, sem nenhum tormento,
um ai de rir e flora, de macio coito
de porcos, quase asa de garça, quase
paina de jatobá, esta moringa aberta
ao frescor que há no sol, charque, avoante,
forma de prenha mulher, quartinha, pote.

Inverso estio moldas em terra e água, 
cor de palha e de mel, meu povo, sem distâncias 
de serras com que sonhas junto ao cacto, 
mas que entorna a noite de seu bojo.

Se o colas ao rosto, vêm as brisas
dos regatos e à boca chegam barro
e ondas de um rio que são choros de parto,
breve esperar, sentido amor, memória
da meninice em tuas mãos que moldam
casa, banco, alguidar, bilros, cancela,
anjos toscos, na fome de teu corpo.

*

[ainda consigo escutar a máxima que cambaleia sobre a terra]
Érica Zíngano

ainda consigo escutar a máxima que cambaleia sobre a terra bêbada
insistindo nisso que relembra o erro de acertar a carta
e perder o jogo
todos já nascemos para trás
e continuamos evoluindo em busca
de um silêncio que conjugue
a vibração exata do período de resguardo
e o sono que regenere e nos faça amanhecer
sem rugas
eu faço experimentos eu misturo substâncias
eu não sou a primeira
eu não serei a última
nem todas as formas estão corretas
mas não existe uma regra
você pode confiar nas suas escolhas
apertar botões
selecionar estados de ânimo e alturas relevantes
nada será compreensível
até o ponto em que fulminante
o trem passa e lhe leva para outro lugar
antes de você nascer
nada pode consolar mais do que
o seu próprio vazio acolchoado
mas nem todos estão preparados para abrir a porta
vai ser necessariamente assim
existe um emissor e o receptor abre a carta
corta as bordas
rasga o tempo do envelope
aí começamos a descobrir de novo
quando o elevador está congestionado
e as paredes cheiram a esperma de um cinema pornô velho
os pênis nunca funcionaram como bons faróis
                         [para os navegadores
astutos a cachaça talvez
o problema são as vozes que começam a se acumular
no fígado e ao invés de regenerarem
não conseguem filtrar
mas é verdade que podem ser úteis para pendurar quadros
eu falo dos pregos dos pênis dos imãs de geladeira
necessariamente a ordem está invertida
eu falo de como você se nutre para depois explodir
e aí só depois os livros são vendidos limpos
passados a ferro
inúmeros exercícios de corte e feiras de eventos
mas os frágeis os sensíveis os indispostos os que têm
                         [vontade de vomitar
não conseguem acompanhar e ficaram presos
em algum ponto em que nem eles mesmos conseguem identificar
são os primeiros a morrer

*

Elites dirigentes
Sebastião Nunes


Q. de QUERMESSE. Ex.: «Nostalgias brasileiras/
São moscas na sopa de meus itinerários»

Quem somos? De onde viemos? Pra onde vamos?
(A elite dirigente do país se interroga.)

Somos decerto filhos da anterior elite.
Viemos é claro das escolas do poder.
Vamos é lógico construir um nova elite.

Quem semos? De onde vamos? Pra onde viemos?

(Na brasílica privada a elite penca e saga.
Merda fosse dinheiro pobre nascia sem Cu.)

*


[é uma lovestory e é sobre um acidente]
Márilia Garcia

é uma lovestory e é sobre um acidente
primeiro, a cena congelada
um dedo pousa no vidro,
a tela vibra.
                    você lembra o que
disse na hora? você gritou? doeu?
você lembra do que aconteceu?
a curva, a chuva, um clarão.
(depois ela acabou,
foi embora para belfast.)
você lembra o que disse na hora
em que o carro deslizou?
três horas na chuva esperando,
a curva, o estrondo, você lembra?
você entre as ferragens
perguntando o que houve.
(mas isso é um acidente
e é sobre uma lovestory.)
o amor, diz, é um efeito especial
pensa que viu tudo
mas quando acende a luz
os pontos
cegos se espalham:
          uma fossa abissal, uma nuvem
de distância e uma cidade chamada Vidro ou
Vértice
                    Volpi ou Verdi
o amor é alguém entrando
na geometria da sua mão
neste momento atravessa o corredor:
– não há mais isso entre nós,
de onde o timbre da sua voz
um efeito-estertor
(dentro do poema
pode sentir o efeito
e nessa hora todos os porquês
ficam guardados
em concha)
o amor é isso, diz,
não um corvo
mas um impermeável vermelho
pendurado na janela vindo de outro poema
para tocar na sua tela.
é você comendo o amarelo que sobrou
depois do estrondo.
o amor é este olhar que mancha
a retina na hora da emergência
um olho cinzento que treme
sempre que muda
de hemisfério.
“é difícil olhar as coisas
diretamente”
elas são muito luminosas
ou muito escuras.
2/3 deste país são feitos de água
e sempre que se vira, um
afogamento.
                    apenas um mergulho,
dizia a imagem. vamos ver o deserto,
andar pelo centro do mundo?
mas isso é um dicionário
e é sobre uma lovestory.

:

lovestory,
de a-z
a curva, a chuva, um clarão
a curva, o estrondo, você lembra
a retina na hora da emergência
a tela vibra
afogamento
apenas um mergulho
cegos se espalham
centro do mundo
de distância e uma cidade chamada vidro
de hemisfério
de onde o timbre da sua voz
dentro do poema
depois do estrondo
depois ela acabou
diretamente” elas são muito
disse na hora? você gritou? doeu
dizia a imagem, vamos para
dois terços desse país são feitos de água
e é sobre uma lovestory
e é sobre uma lovestory
e nessa hora todos os porques
e sempre que se vira
é difícil olhar as coisas
é você comendo o amarelo
em concha
em que o carro deslizou
ficam guardados
foi enviada para belfast
luminosas
mas isso é um acidente
mas isso é um dicionário
mas quando acende a luz
na geometria da sua mão
na janela vindo de outro poema
não há mais isso entre nós
não um corvo mas um impermeável
neste momento atravessa o corredor
o amor é um efeito especial
o amor é alguém entrando
o amor é este olhar que mancha
o amor é isso
os pontos
ou muito escuras
para tocar na sua tela
pensa que viu tudo
perguntando
pode sentir o efeito
primeiro a cena congelada
sempre que muda
três horas na chuva esperando
um dedo pousa no vidro
um efeito-estertor
um olho cinzento que treme
uma fossa abissal
uma nuvem
vermelho pendurado
vértice
você entre as ferragens
você lembra do que aconteceu
você lembra o que
você lembra o que disse na hora
volpi ou verdi

§

Museu da Polícia Militar
Fabiana Faleiros

BOLETIM DE OCORRÊNCIA N 548
MÊS/ANO: Junho de 2013
NATUREZ: Apreensão de cartaz
COMUNICANTE: E.S.
PROFISSÃO:prostituta

HISTÓRICO

A Prostituta E.S. segurava um cartaz com a frase “Sou feliz sendo prostituta” traduzido para a língua inglesa: I'm happy being a prostitute. Relata que pretendia somente exercitar o seu vocabulário para a Copa do Mundo. Ela não estava em nenhuma manifestação, estava sozinha. Não estava com nenhum cliente. Tampouco estava esperando um cliente. Relata que não estava fazendo programa e que não estava em uma manifestação. Era um exercício. A prostituta explicou que aprendeu a escrever em inglês no curso especial para a Copa chamado May I Have a Seat?, focado no vocabulário usado nos programas. Era uma tarefa do curso. A frase escrita foi identificada como plágio da campanha “Sem vergonha de usar camisinha”. A prostituta foi advertida que o Ministério da Saúde cancelou a campanha que combatia doenças sexualmente transmissíveis e valorizava a prostituição. Portanto o cartaz da prostituta foi apreendido, passando a integrar o Museu da Polícia Militar. A mulher foi encaminhada para uma delegacia da mulher, especializada neste tipo de ocorrência.


BOLETIM DE OCORRÊNCIA N 976    
NATUREZA: Invasão de domicílio
MÊS/ANO: Julho de 2013
COMUNICANTE M.F.
PROFISSÃO: artista visual

HISTÓRICO

Relata que se encontrava em sua residência artística quando começou a ouvir batidas na porta (na porta havia a placa “O artista está ocupado”) e logo após os acusados arrombaram a porta entrando na residência artística e partiram para a ocupação do local, que desde a remoção do Museu do Índio eles vivem lá, às vezes chegando a ser mais de 8 pessoas ao mesmo tempo. Que os acusados geraram transtornos que foram noticiados pelos veículos de comunicação. A vítima havia falado para o noticiário quem havia feito as ações de baderna logo depois a vítima teve que chamar a polícia. Desde então os acusados vivem na residência artística impedindo os artistas residentes de realizarem suas obras de arte sempre chamando a polícia quando os acusados retornam.


BOLETIM DE OCORRÊNCIA N 02
MÊS/ANO: novembro de 2013
NATUREZA: Apreensão de cartaz
COMUNICANTE: R.T.
PROFISSÃO: autônomo

HISTÓRICO

Homem negro de 25 anos foi abordado nos arredores do metrô Anhangabaú na cidade de São Paulo portanto um cartaz que promovia uma balada funk. O homem relata que não está promovendo “rolezinho” que muito pelo contrário ela está divulgando uma “balada” funk, o que é diferente de um baile funk ou rolezinho. A balada acontece no centro de São Paulo e que ele está ali por causa disso, procurando um promoter para divulgar o evento e que há tempos a música funk é ouvida fora da favela por pessoas de classe média e até mesmo classe A. O homem foi advertido de que não pode mais haver bailes funk na cidade de São Paulo que foram proibidos. Foi preso até que a “balada” seja averiguada.


BOLETIM DE OCORRÊNCIA N 909    
NATUREZA: Falsidade Ideológica
MÊS/ANO: Junho de 2013
PROFISSÃO: artista visual

HISTÓRICO
Homem de terno e gravata, sem expressão de desespero, utilizando máscara do rosto do empresário Eike Batista porta um cartaz em manifestação com os dizeres I'm desesperate (Eu estou desesperado). O homem de aproximadamente 21 anos de idade relata que ele não é autor do cartaz o qual na verdade é uma réplica de uma série de cartazes feitos pela artista inglesa Gillian Wearing que entregava folhas em branco para pessoas aleatórias nas ruas pedindo que elas escrevessem o que estavam pensando no momento. Disse ainda que a obra se chama What's on your mind? (O que você está pensando). O homem foi preso por falsidade ideológica por tentar se passar por outra pessoa e por plágio de obra artística. O acusado também foi enquadrado em desacato à autoridade por gritar repetidamente a frase “Eike desespero! Eike desespero!”


BOLETIM DE OCORRÊNCIA N 03
MÊS/ANO: novembro de 2013
NATUREZ: Flagrante
COMUNICANTE: Patrícia Alves
PROFISSÃO: desempregada

HISTÓRICO

Morena de 23 anos, conhecida como Maria UPP, foi flagrada praticando sexo grupal com policiais dentro de UPP's já em várias favelas do Rio de Janeiro. Os policiais que mantiveram as relações fizeram vídeos e fotos que foram divulgados na Internet onde a mulher aparece nua e fardada, segurando um fuzil. A mulher afirma que mantinha relações sexuais com vários PMs ao mesmo tempo que fez isso porque quis, porque gosta e faria de novo. Afirma já ter estado em todas as UPPs do Rio de Janeiro e que inclusive tatuou “UPP” próximo a sua vagina. Que pratica atos sexuais há 5 anos com policiais em horário de plantão durante a madrugada mas que também saiam juntos fora do trabalho. Ela não recebe para manter as relações, mas pede que pagem o taxi, e se possível, um lanche. Que se relacionou com aproximadamente 1000 policiais e que nunca imaginou que apareceria na mídia. Diz que não mantem mais contato porque trocou de número. Afirma que não faz parte de nenhuma facção criminosa que fez por conta própria. Não acredita ter cometido crime nenhum, consciência tranquila, sustentada pela família. A morena diz que sempre gostou muito da polícia, teve a oportunidade e fez por prazer.

*

Sinto teu ceticismo escorrendo por debaixo da porta
Tom Nóbrega







*

[Praça do Sol às 3 da tarde]
Reuben da Rocha

Praça do Sol às 3 da tarde
risca o fósforo do incendiário
Praça do Sol às 3 da tarde
abre as narinas p/ o fedor dos muros
Praça do Sol às 3 da tarde
esconde a senha dos holocaustos
Praça do Sol às 3 da tarde
enerva cada coração covarde
Praça do Sol às 3 da tarde
aponta os mísseis à glória
Praça do Sol às 3 da tarde
depila as tuas rameiras
Praça do Sol às 3 da tarde
apascenta teus ambulantes
Praça do Sol às 3 da tarde
despista o fumo dos policiais
Praça do Sol às 3 da tarde
oculta o raio do cego
Praça do Sol às 3 da tarde
acode o baque das ondas
Praça do Sol às 3 da tarde
distrai o tédio do pipoqueiro
Praça do Sol às 3 da tarde
loas ao biquíni túrgido
Praça do Sol às 3 da tarde
acorda a renca dos ventos
Praça do Sol às 3 da tarde
diz a gíria do guardador de carros
Praça do Sol às 3 da tarde
toma gosto c/ as empregadas
Praça do Sol às 3 da tarde
pendura a nuvem nos galhos
Praça do Sol às 3 da tarde
trocados ao vendedor de coco
Praça do Sol às 3 da tarde
ouvido ao reggae das bacantes
Praça do Sol às 3 da tarde
Praça do Sol às 3 da tarde
Praça do Sol às 3 da tarde
devora a muvuca das gentes
cede teus bancos às fodas
legisla a rixa dos traficantes
senhora injuriada das trapaças
abre tuas pernas p/ os pivetes
engole o mijo da criança

*

Limite
Juliana Krapp

Sebe é um acúmulo de varas entretecidas
cerceando
por vezes sim por vezes não

eu sei
do esforço para persuadir
naturezas terríveis

simultaneamente
à graça dos perímetros
que permanecem estanques

(a dor de coabitar
tanto as frinchas quanto os
confinamentos)

Quando rarefeitos, os movimentos
aguardam mais do que a conclusão, preferem
o desdém e o resguardo
ou mesmo esse estalido
(um arquejo)
embalado
pelo embaraço hipnótico
das pequenas sombras

Somente as ventanias são de fato enamoradas
e apenas nelas alijam-se
as imundícias mais profundas

como somente os ramos
estraçalham-se e engravidam-se
num único carretel de músculos em escombros

(um aparelho de tensões
alimentado pelo ritmo
dos sumidouros)

*

O cineasta do Leblon
Hilda Machado

“Aquele que escavar em sua consciência
até a camada do ritmo e flutuar nela
não perderá o juízo.”
Nina Gagen-Torn


O brilho de laranja ao sol
amendoeira rubra e pavão
oculta sobressaltos faustianos
encenam-se dramas na alma
suadas peripécias
lágrimas
mímesis
em sítios escusos está a mocinha raptada por um turco
e a nudez do missionário espancado
folheia-se uma antologia de acidentes
títulos afundam
e no lodo
personagens sem nome
e escândalos de fancaria

O comércio incessante
distrai das caudalosas sociologias do fracasso
idades do ouro perdidas
terror espetacular
recorta o esforço de colosso trágico
alçar-se acima da imensa massa de vencidos
violinos pela indesejada que fatalmente alcança e ceifa
carnaval exterior que é dublagem

Nos domingos de lua cheia
um infante sôfrego obriga a minuciosos tratados
miuçalhas
monopólio
asperezas
contrabando
e então
razias de corsário

na lua nova cruzo a cidade pra beijar a sua boca
transpor morros e encontrar a elevação
tropeça-se em pétalas de rosas
em trufas
visitas ao paraíso
as quartas-feiras são turvas
e trazem as penas do inferno
telefonemas seus
telefonemas meus
telefonemas da outra
e a ex
compomos o obrigatório conflito
repetir com honestidade a velha trama
até que ao fim do primeiro bimestre
erra-se no açúcar
escorrega-se na farsa
e mudam-se todos para a novela das 7

Homem da lua
fantasia de rudes hormônios
o bicho se coça
fervor marcial e bico de passarinho
cavalo rampante que rasga com as patas convenções de estilo
atravessa pontes queimadas
alcançou o vale feroz
terremoto maior que o de Lisboa arrasa cidadelas
afrouxa parafusos
e do colchão abala a mola-mestra

ouviu, carro?
tribos bárbaras desabam sobre a minha Europa

ouviu, montanha?
mudaram os livros que eu agora levo pra cama
antigas lendas fabulosas
uma grosseira rapsódia
cinco escritos libertinos
eu bebo como num banquete em Siracusa
e gozo como as prostitutas de Corinto
palmeira, ouviu?

*

[em noites mais quentes fazemos chás]
Carla Diacov

em noites mais quentes fazemos chás
da primeira mansidão da noite quente
chás
ou então sopas
das folhas imóveis das pedras agitadas
mentira
é que faz-me falta ter o homem do adubo
é que faz-me falta ter a mulher do adubo
nas noites mais frias faríamos sorvetes
ou então mentiras
é que eu estou só
estou só
conheço tudo pelo tato
em noites amenas estou só e toco a campainha dos vizinhos e corro
                          [pra debaixo do lençol só

uns fios de estar só
uns fios de cabelo na boca e só

o peso dessa espera me puxa pra cama
a gravidade dessa espera faz-me mais
longa me joga aos postes
me empurra ao largo das borrachas infláveis

estou só
conheço tudo pelo tato
a mentira dos olhos ouvidos
o truque nos joelhos dos poetas

faríamos chás sorvetes mentiras sopas

*

No bolso as moedas
Ederval Fernandes

perder o amor
não é perder o lápis
o relógio
de preguiça perder o poema
ou o comboio o elétrico 15E
sentido algés
por 6 minutos
a mais na cama
nas contas a serem
pagas nas culpas
nunca suturadas
perder o calor
do café
o amor perdê-lo não é
como precisar ir
mas ficar
andar e não correr
atrás disso
que fácil e lento passa
em frente à porta (ouvir
Dylan para entender
o uso deste sample)
perdê-lo o amor não é
como ir à praia sem querer
ir embora
e descobrir depois:
o melhor era ficar
perdê-lo o amor
é impossível
no bolso as moedas
se escondem
mas não
desaparecem

*

Metafísica e biscoito
Leonardo Fróes

no meio dos latidos da noite
quando o silêncio atinge a qualidade
dos latidos da morte e as folhas caem
impressionavelmente sangradas;
no meio frio de um colchão inquieto
com os olhos pensativos resvalando no teto
e as mãos descendo pelo corpo
como a buscar sua realidade longínqua
quando os morcegos da melancolia
atravessam sem bater entre as árvores
e alguma coisa enraizada confusa
parece brotar de novo entre as pernas;
nesse espaço fundamental reduzido
onde as idéias se sucedem largadas
numa associação intempestiva
que é impossível deter ou compreender;
no cerco sem limite de um quarto
que roda em vários mundos e alterna
com a sensação de não haver nada disso
que dá contorno e forma à própria insônia —
— o homem dá um salto e se puxa
para fora do pântano
e devora um biscoito
e bebe um copo d'água e acende
um cigarro e mais outro.

*

[os pés de prato o barro]
Eliane Marques


os pés de prato o barro
os calos os mais redondos
o azul dos cílios o cinza
a redonda bacia das batatas

tudo encefalotrapo
batom terracota retratos
barulham o mesmo tudo
o mesmo nome muro abaixo
o brinco dos quais as contas
o lenço no trirreme onde troncos
troços um sonho
pan tan pan sobre os ouvidos
as veias as mais finas –
os puros-sangue da rainha

esquecidos os braços
no mármore de salamina
que outra seja a remadora
a madrepérola da rotina

que outro seja o azedo
daquela maçã nas papilas


*

[O futuro? Tem orelhas]
Júlia de Carvalho Hansen

O futuro? Tem orelhas,
mas é surdo. E é manco.
Se arrasta, sem espanto
mais alheio do que lúcido
com o nosso despreparo.

Se fosse um deus amava o humano, mas como não existe
o futuro tem de amansar seus ventos, marcando as peles,
as montanhas. Sendo um gênio, não é um exército
de cronogramas, nem de antecipações.

Tem firmeza de flor. E é
invisível, reconhecido
por seus efeitos de brisa
furacão. Nunca adiado.
Não tem nada a ensinar
no entanto é um mestre
dizem os esgrimistas
os observadores de saltos
os gatos também
aprendem certos truques com ele.

E se ama os despreparados
lhe sabem tanto os que fazem
quanto os que esperam.
Os otimistas valem mais
valem quanto?
Cem bifurcações,
sucessivas gerações
de bem-aventurados
que topam em pedras
cicatrizam e correm
bem alimentados
com fome de mais
alimento.

São seus sinais
os imprevistos, os cavalos
os pontos cardeais
os cinco sentidos
e os sete buracos da cabeça.

*

Sobre o tempo
Lívia Natália

Se este vento persistir ainda alguns verões
e a flama acesa ainda banhar a mesa
e dançar nas paredes com suas sombras luminosas,
teremos pão. Teremos corpo,
e algo de um silêncio que não nos corte muito fundo.
Teremos a lâmina com seu fio imperfeito tangendo os tempos.

Em persistindo o vento sobrelevando as estações
Ainda serão seus cabelos que lamberão minha virilha
e terei seus olhos fechados me tateando no ar.

Em persistindo,
para além da chuva imensa e do acre que devora o verão
esta alegria descortinada e estes olhos de lágrima e brisa,
mais seremos um para o outro,
e estaremos mergulhados neste entreentranhas que,
quando venta,
somos nós.

*

filho de
Frederico Nercessian

filho de
yan
filho de
yan
em nome do
pai,
do filho
filho de
alguém

yan,
parte de pai,
maternidade X
filho de dois

meu yan
escrito com i
ian
também filho de
filho de um outro,
ian
fim de sentença
yan ou ian
natimorto,
filho de qualquer coisa
que alguém queira chamar
filho de um pai,
filho também de,
e de uma mãe
agora,
sem ian na
escritura.

língua paterna,
dos filhos de, confesso,
pouco aprendi.
sei que em alguns casos,
poucos, se escreve com i,
ian
e em poucos mais poucos,
com y
yan,
filho paterno da língua paterna que não
sei.

*

o que aconteceu conosco
Philippe Wollney

que neste inverno
o que nos tira o frio
são as fagulhas de nosso inferno

o que aconteceu conosco
o sarcasmo de nossos olhares
transmutado
na tragédia do zodíaco a dois

o que aconteceu conosco
a manhã sorridente de papel celofane
dasanuviado
a sobra apenas dos caninos

o que aconteceu conosco
abraços carregados nos dentes
afagos nas cáries
e um delicado carinho de barbárie

o que aconteceu conosco

brotoejas de anêmonas no pescoço
trocando colares
de dedos e dentes de crianças

o que aconteceu conosco

tórax essa caixa de muambas
coração do paraguai
um futuro made in china

o que aconteceu conosco

o reduto do vinho, o umbigo
parada obrigatória
da língua na chaga no ventre

o que aconteceu conosco

assovios de encantar serpente
da cobra
a pele morta do dia aparente

o que aconteceu conosco

o que se abria em lábios
do beijo
o sobejo de uma carne que não se digere

o que aconteceu conosco

pés que tilintam são ecos
em um salão vago
e uma sinfonia de calos e vida encravada

o que aconteceu conosco

que de morno os nossos nomes
o mofo
e a fome de pastores tangendo o rebanho

o que aconteceu conosco
o que aconteceu com nós
com os nós

*

Transmissão 
Tatiana Pequeno


Álibi que encosta a crosta da língua
no cerne do pavio,
na gordura espessa da várzea,
no efeito cáustico do globo em brasa
brisa noturna de vespertinas covas.

Olhei vestida de soldado
com quepes de molho,
pura sanitária
e com bastões e estandartes de ouro
reconheci no aspecto homogêneo da arnica
a benfeitoria dos apaches, meus irmãos.

Olhei vestida de álibi a crosta do pavio,
como se houvera sido pedra
não fosse o papel incendiário a que sempre sucumbi
o selo legítimo dos lipomas.

*

Conheço vocês pelo cheiro
Ricardo Aleixo

Conheço vocês
pelo cheiro,

pelas roupas,
pelos carros,

pelos aneis e,
é claro,

por seu amor
ao dinheiro.

%

Por seu amor
ao dinheiro

que algum
ancestral remoto

lhes deixou
como herança.

Conheço vocês
pelo cheiro.

%

Conheço vocês
pelo cheiro

e pelos cifrões
que adornam

esses olhos que
mal piscam

por seu amor
ao dinheiro.

%

Por seu amor
ao dinheiro

e a tudo que
nega a vida:

o hospício, a
cela, a fronteira.

Conheço vocês
pelo cheiro.

%

Conheço vocês
pelo cheiro

de peste e horror
que espalham

por onde andam
– conheço-os

por seu amor
ao dinheiro.

%

Por seu amor
ao dinheiro,

deus é um
pai tão sacana

que cobra por
seus milagres.

Conheço vocês
pelo cheiro.

%

Conheço vocês
pelo cheiro

mal disfarçado
de enxofre

que gruda em
tudo que tocam

por seu amor
ao dinheiro.

%

Por seu amor
ao dinheiro,

é com ódio
que replicam

ao riso, ao gozo,
à poesia.

Conheço vocês
pelo cheiro.

%

Conheço vocês
pelo cheiro.

Cheiro um e
cheirei todos

vocês que só
sobrevivem

por seu amor
ao dinheiro.

%

Por seu amor
ao dinheiro,

fazem até das
próprias filhas

moeda forte,
ouro puro.

Conheço vocês
pelo cheiro.

%

Conheço vocês
pelo cheiro

de cadáver
putrefato que,

no entanto,
ainda caminha

por seu amor
ao dinheiro.

*

invocações
Rodrigo Lobo Damasceno

do quintal
um corpo cheio de comida e memória
levado de um lado a outro pela rede
vislumbra
(no mato escuro próximo ao trópico de capricórnio)
dois ou três vaga-lumes
e volta de volta à vida em que ainda voavam
aos bandos de vinte e nove
e nas conchas de minhas mãos miúdas
lançavam suas luzes
verdes –

de longe, de óculos na cara
e cigarros hollywood no bico,
meu pai me espreita

do caruru
um corpo azedo de suor e cheio de azeite
no bucho baixa às outras noites
de caruru – um
dos sete meninos escreve,
e os outros, soltos
na noite aberta e vermelha do continente,
sentem
(ao mesmo tempo)
os cheiros
de dendê, vatapá, pipoca –

caruru não há mais,
mas os meninos
(os sete, por sorte)
ainda voltam

*

Diante da lei Ismar Tirelli Neto
Não, Senhor Não fiz minha parte em erradicar a Beleza do mundo Cuidei no entanto de deixar em cada palavra Ao menos uma luz acesa Uma fresta que em certa medida era também Eu a passar como uma rede por estas cidades As cidades Pegando-se a mim pelos furos Eis-me aqui para a prestação de contas No restaurante Onde ontem almoçamos uma moça Ensinava a filha pequena a jogar dominó Percorrendo uma galeria cruzei-me Com um rapaz bastante moço que dizia Para a jovem chorosa que o acompanhava “Juro pelo que há de mais sagrado”

*

Três cantos da mulheres do povo Kuikuro



1.

tuãka kete    vamos banhar
uhisü kilü uheke    disse-me o meu amor
utalitsügü  kutsonkgitomi    lave-me e tire um pouco do meu cheiro de copaíba
umüngitsügü kutsonkgitomi   lave-me e tire um pouco do meu urucum
uhisü kilü uheke hegei   disse-me o meu amor


2.


osiha kukihini    vamos fugir
Atahukula    Atahukula
ige ngahaponga kukihi  kukihini  para as cabeceiras do mundo vamos fugir
Atahukula    Atahukula
tuã hepüati kukihi kukihini   onde começaram as águas vamos fugir
Atahukula     Atahukula    
ige ngahaponga kukihini   para as cabeceiras do mundo vamos fugir
Atahukula    Atahukula

3.

kukahetekege    que nasçam asas em nós
einhakagagü unkguati utetomi  na palma da tua mão vou aportar
tukuti utetomi    feito beija-flor



(Traduções de Bruna Franchetto, Kanu Kuikuro, Magia Kuikuro e Jamalui Mehinaku)


.
.
.

Nenhum comentário:

Arquivo do blog