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quinta-feira, 30 de julho de 2009

Barcelona!

Parto amanhã de manhã para Barcelona, tomo ali um trem, logo depois, para a cidade de Castelló, nos arredores de Valência, onde me apresento à noite no Espai d´Art Contemporani. Será minha apresentação mais longa até o momento. Passo o fim-de-semana em Barcelona, volto a Berlim na terça-feira. Talvez fique fora do ar por uns dias. Abaixo, dois poetas daquelas bandas:


(Bartomeu Ferrando, "Sintaxi")

§

Ócio

Ela dorme. A hora em que os homens
já estão despertos, e pouca luz
entra por ora a feri-los.
Com tão pouco temos tanto. Apenas
o sentimento de duas coisas:
a terra gira, mulheres dormem.
Reconciliados, seguimos
direto ao fim do mundo, que não
requer nossa ajuda.

(tradução de Ricardo Domeneck)

Oci

Ella dorm. L'hora que els homes
ja s'han despertat, i poca llum
entra encara a ferir-los.
Amb ben poc en tenim prou. Només
el sentiment de dues coses:
la terra gira, i les dones dormen.
Conciliats, fem via
cap a la fi del món. No ens cal
fer res per ajudar-lo.


(Gabriel Ferrater, in Teoria dels cossos, 1966)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Jovens poetas europeus: Eduard Escoffet


Eduard Escoffet nasceu em Barcelona, em 1979. É um dos mais ativos poetas da capital catalã, figura central da jovem poesia experimental espanhola. Desde o fim da década de 90, ainda muito jovem, Escoffet vem organizando festivais e encontros de poesia experimental em Barcelona. Entre 2000 e 2004, foi responsável pelo Festival Proposta de Polipoesia, trazendo à Catalunha poetas sonoros e performers como Américo Rodrigues (Portugal), Nobuo Kubota (Canadá), Nathalie Quintane, Anne-James Chaton e Christophe Fiat (França), Jörg Piringer e Christian Ide Hintze (Áustria), Michael Lentz (Alemanha), Sten Hanson (Suécia), além de catalães como Dolors Miquel, Josep Ramon Roig e o mestre Bartomeu Ferrando. A primeira edição do festival teria contado com a presença do brasileiro Philadelpho Menezes (1960 - 2000), se a morte não o tivesse colhido naquela estrada entre São Paulo e Rio de Janeiro.


Mesmo após o fim do festival Proposta, Eduard Escoffet segue organizando leituras e performances em Barcelona, sendo também um dos nomes espanhóis mais constantes em festivais de poesia experimental europeus.

Por muito tempo, seu trabalho esteve primordialmente ligado, segundo ele, a uma vindicação da oralidade, recusando-se à publicação. No entanto, Eduard Escoffet é um belíssimo exemplo daquele poeta verbivocovisual / multimedieval que acredito estar nascendo com força nestes últimos anos. Pois, em Escoffet, assim como em outros poetas atuais, o verbivocovisual assume um equilíbrio criativo em cada uma de suas raízes, num trabalho verbal de escrita, vocal em oralidade e visual, tanto em seu trabalho gráfico como em seu aspecto corporal, performático.

Ligado tanto à tradição da poesia moderna catalã de mestres como J.V. Foix (1893-1987) como ao trabalho do grupo barcelonês da retomada das estratégias das vanguardas no pós-guerra, o Dau-al-Set (tendo Joan Brossa como mestre maior, e ainda Antoni Tàpies, Joan Ponç e Arnau Puig), o trabalho poético de Eduard Escoffet manifesta-se como poesia sonora (ligada ao textualismo de Bernard Heidsieck e Michael Lentz), como poesia literária (fortemente marcada por uma intertextualidade rica em referências à tradição da poesia catalã medieval) e como performance, em que podemos sentir influências diversas como DADA, Fluxus, poetas como John Giorno e o grupo dos Ugly Americans (Lydia Lunch, Thurston Moore, Bibbe Hanson, etc).

Ainda que Escoffet tenha prazer em ironizar o papel de literatos na produção poética contemporânea (sabendo-se herdeiro de uma tradição poética da voz, que remonta ao século XI), o poeta catalão segue produzindo belíssimos poemas escritos, compilados em seu livro gaire, que deverá ser lançado em 2009. Além destes textos escritos, produz textos para vídeos e peças sonoras, colaborando com artistas de diversas partes da Europa.

Atacando uma noção literarizante do século XVIII / XIX (que ridiculamente se crê antiquíssima), Eduard Escoffet alinha-se aos poetas trovadores occitanos (tanto provençais, com trabalhos da simplicidade minimalista de Guilherme da Aquitânia ou a exuberância formal de Arnaut Daniel, quanto catalães como Hug de Mataplana e Guillem de Cervera), mas também às vanguardas do início do século XX, em especial DADA (que é ruptura apenas se justaposta à noção poética literarizante do século XIX, sendo DADA muito mais uma religação à tradição poética medieval) e ainda aos grupos de retomada das vanguardas do pós-guerra, como os Lettristes parisienses, o Dau-al-Set barcelonês, o Noigandres paulistano, o British Poetry Revival londrino, etc.

Apresentamos aqui alguns exemplos do trabalho poético de Eduard Escoffet, como o poema sonoro "nadala tsingtao", o texto "mtp 1" e um vídeo de sua leitura no Festival de Poesia de Berlim de 2007, quando o conheci.


POEMAS DE EDUARD ESCOFFET:

mtp 1

a)

"um escritor é aquele que impõe silêncio à palavra" – Maurice Blanchot


b)

quase às vezes / quase quase sempre
quase às vezes / quase quase sempre
o texto que digitas:
cada letra escrita tem o traço
de um corpo: os cabelos e a pele vão tomando forma:
a letra. e um nome que é desintegrado.
quase às vezes / quase quase sempre.

c)

nada há a dizer e contudo necessitamos escrever.
as palavras sulcam a necessidade e contudo as reiventamos como calafetadores:
a madeira, a madeira que já não é madeira:
madeira no crânio, madeira no tórax, madeira nas entranhas.

hoje qualquer corpo / ele é a madeira
(a de um outro escrito)

d) agora agito as mãos e se move um pouco o ar.


(tradução inédita de Ricardo Domeneck)



mtp1


a)

"un escriptor és aquell que imposa silenci a la paraula" maurice blanchot


b)

quasi de vegades / quasi quasi sempre
quasi de vegades / quasi quasi sempre
el text que estàs picant:
cada lletra escrita té la traca
d´un cos: els cabells i la pell van prenent forma:
la lletra. i un nom que es desdibuixa.
quasi de vegades / quasi quasi sempre

c)

no hi ha res a dir, i tanmateix necessitem escriure.
les paraules solquen la necessitat, i tanmateix les reinventem talment calafatadors:
la fusta, la fusta que ja no és fusta:
fusta al cervell, fusta al cor, fusta a les entranyes.

avui qualsevol cos / ell és la fusta
(la d´un altre escrit)


d)

ara bellugo les mans e es mou un poc l´aire.


mtp, 1-viii-02



§§§


(Eduard Escoffet no Poesiefestival Berlin 2007)

§§§

Recomendo a visita à página de Eduard Escoffet no portal Myspace, onde se pode ouvir outros poemas sonoros, ver vídeos e poemas visuais.

Basta clicar AAQQUUII: POEMAS DE EDUARD ESCOFFET

§§§


(La Cooperative Montpellier: Eduard Escoffet, Jean-François Blanquet, Lucille Calmel e Mathias Beyler / video : Jean-François Blanquet, 2002)

domingo, 14 de dezembro de 2008

Poetas brasileiros em livrarias de Barcelona

Na Livraria Central, loja ao lado do MACBA (Museu d'Art Contemporània de Barcelona), há um sonho de qualquer poeta quando pensa na seção de poesia de uma livraria. Não apenas uma parte gigantesca de poesia catalã, como poesia em castelhano, seja espanhola ou latino-americana, livros em francês, inglês, português. É o único lugar em que entro e encontro, sem ter que encomendar, livros de poetas americanos como George Oppen, Susan Howe e Rosmarie Waldrop, ou franceses como Pierre Albert-Birot, Michel Deguy, sem falar nas traduções para o castelhano e catalão de poetas israelenses, japoneses, poloneses, suecos.

Este fim-de-semana, visitando a livraria, comecei a pensar na idéia de Pound de que todo grande período de criação poética é precedido por um momento de intensa tradução. Se ele estiver correto, podemos predizer um século XXI frutífero para a poesia espanhola.

Comprei uma antologia bilíngüe do português Mário Cesariny, uma tradução para o castelhano do poeta israelense (nascido em Berlim, emigra para a Palestina com os pais durante o regime fascista) chamado Nathan Zach, e o livro de um poeta francês de quem eu jamais ouvira falar, nascido em Estrasburgo e chamado Jean-Paul de Dadelsen, que morreu muito jovem e praticamente inédito, amigo de Albert Camus (que estava preparando a edição póstuma de sua obra quando também morreu inesperadamente), um livro que me surpreendeu muito, chamado Jonas (Paris: Gallimard, 2005).

.
.
.

"La baleine, dit Jonas, c´est la guerre et son black-out.
(...)
La baleine est toujours plus loin, plus vaste; croyez-moi, on n´échappe guère, on échappe difficilement, à la baleine.
La baleine est nécessaire."


Jean-Paul de Dadelsen, "Jonas" (1956).

&

Poetas brasileiros vistos nas estantes
de poesia da Livraria Central, em Barcelona:

Manuel Bandeira (antologia em castelhano)

Carlos Drummond de Andrade (Sentimento do Mundo & O Amor Natural, traduzidos para o castelhano)

Murilo Mendes (Tempo espanhol, traduzido para o castelhano)

Vinícius de Moraes (antologia, traduzida para o castelhano)

Mario Quintana (antologia em castelhano)

Manoel de Barros (Gramática Expositiva do Chão - a edição brasileira, além de uma antologia em castelhano)

João Cabral de Melo Neto (O cão sem plumas, traduzido para o castelhano, além de uma antologia também em castelhano.)

Haroldo de Campos (Crisantempo, traduzido para o castelhano)

Ferreira Gullar (Poema Sujo, traduzido para o castelhano)

Armando Freitas Filho (Raro mar & Numeral Nominal, traduzidos para o catalão)

&

A performance foi boa, apesar de um ou outro "erro". Volto hoje a Berlim, saudades da cidade, mas preguiça do país de que é a capital (cada vez mais).

"A baleia é necessária."

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

terra de Brossa / Ferrater / Ferrando

Catalunya, terra do meu avô paterno,
Joan Domènech por estas bandas,
João Domeneck mais tarde no Brasil,
quisera fazer disto um poema,
grafia que muda, pronúncia
que permanece.

Gosto demais de Barcelona, é a única outra cidade
nesta Zooropa, além de Berlim, onde me sinto
estranhamente
em casa.

Catalunya dos poetas. Delícia de cidade, cheia de livrarias
(como Buenos Aires), as mais frutíferas e abarrotadas estantes
de poesia que já vi estão aqui.

Terra de

JOAN BROSSA (1919 - 1998)




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GABRIEL FERRATER (1922 - 1972)




OCI

Ella dorm. L'hora que els homes
ja s'han despertat, i poca llum
entra encara a ferir-los.
Amb ben poc en tenim prou. Només
el sentiment de dues coses:
la terra gira, i les dones dormen.
Conciliats, fem via
cap a la fi del món. No ens cal
fer res per ajudar-lo.

(Gabriel Ferrater, in Teoria dels cossos, 1966)

Ócio

Ela dorme. A hora em que os homens
já estão despertos, e pouca luz
entra por ora a feri-los.
Com tão pouco temos tanto. Apenas
o sentimento de duas coisas:
a terra gira, mulheres dormem.
Reconciliados, seguimos
direto ao fim do mundo, que não
requer nossa ajuda.

(tradução de Ricardo Domeneck)


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BARTOMEU FERRANDO (n. 1951)



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