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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Último dia em Berlim, seguido de 32 horas no Rio de Janeiro, featuring Rebello, Garcia, Chomski, Tirelli, Heringer e Freitas (in absentia)

Marília Garcia e Ricardo Domeneck num momento: "Assim deveriam ser encontros de poetas" - Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 2011

Escrevo já do México, mas quero falar um pouco sobre as felicíssimas 32 horas que passei no Rio de Janeiro. Está sendo uma verdadeira maratona. Acho que não durmo uma noite completa há uma semana. Meu corpo está começando a pifar.

O último dia em Berlim foi um dos mais estressantes e intensos que já vivi, mas ao fim do dia senti como se estivesse finalmente na areia após nadar e nadar muito no alto-mar das borrascas. Mal pude me despedir de amigos, e serão dois meses longe.

Mas cheguei ao Rio de Janeiro na sexta-feira à noite com um sorriso enorme no rosto. Mal podia crer que teria apenas 32 horas ali, naquela cidade cheia de amigos tão queridos. Esta postagem é uma celebração dos reencontros e novos encontros que desfrutei nestas poucas horas.

Como foi bom ser acolhido por meu amigo Dimitri Rebello, poder conversar como se fizesse dois minutos que não nos víamos, e não dois anos! Há amizades que distância nenhuma pode esfriar. Estar ali em seu apartamento, conversando e ouvindo-o cantar foi muito revigorante para o meu miocárdio em frangalhos.

No sábado, nos encontramos com Marília Garcia (com quem estive em Bruxelas e Berlim na mesma semana) e fomos à Livraria Berinjela para que eu pudesse rever meu caríssimo Daniel Chomski, o diretor da livraria e aquele que tem sido nosso companheiro e aliado na edição das revistas impressas. Sempre tão generoso (além de possuir wit verdadeira), ganhei dele um exemplar da Poesia Reunida de Osvaldo Lamborghini (livro que queria há tempos!) e uma edição peruana linda com poemas de Francisco Alvim e Zuca Sardan traduzidos para o castelhano, estes cavalheiros tão encantadores que tive a honra de finalmente conhecer pessoalmente na Bélgica.

Em Santa Teresa, com uma câmera na mão e um poema na garganta, Dimitri filmou a leitura que Marília e eu fizemos do poema "O livro rosa do coração dos trouxas", de nossa queridíssima Angélica Freitas. Era como ter nossa amiga pelotense tão amada ali conosco.



Marília Garcia e Ricardo Domeneck leem "O livro rosa do coração dos trouxas", de Angélica Freitas,
no Rio de Janeiro. Gravado por Dimitri Rebello, 10 de dezembro de 2011.


Mais tarde, uniram-se a nós duas criaturas de quem começo a gostar muito e a quem eu, pessoalmente, considero dois dos poetas mais interessantes surgidos nestes últimos poucos anos: Ismar Tirelli Neto, a quem já conhecera no Rio em 2009, quando lancei meu Sons: Arranjo: Garganta, mas com quem não tivera ainda a chance de conversar e conviver; e Victor Heringer, que encontrei pessoalmente pela primeira vez, ainda que já conhecesse seu livro de estreia, Automatógrafo (Rio de Janeiro: 7Letras, 2011), que ele tão gentilmente me havia enviado a Berlim. Vocês ouvirão mais sobre Heringer em breve, aqui neste espaço e no da Modo.

Para celebrar estes reencontros e encontros, deixo vocês com o vídeo para "Mercado negro", canção do grande Dimitri BR que ele me dedicou e que é uma de minhas canções favoritas; o vídeo das leituras de Ismar Tirelli Neto que preparamos para a Modo de Usar & Co.; e um poema de Victor Heringer do qual gosto muito. Em poucos dias, escrevo sobre os encontros maravilhosos que estou tendo aqui na Cidade do México. Beijos e abraços apertados a Marília, Dimitri, Chomski, Ismar e Victor, assim como a todos os generosos que frequentam este espaço.



Dimitri Rebello, ou Dimitri BR - "Mercado Negro"

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Ismar Tirelli Neto - "Preocupações épicas" e outros poemas, vídeo de Marília Garcia

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Posições desconfortáveis
Victor Heringer


cotovelo no asfalto em cotovelo cotovela.
a fila espera. estou na fila. espero também.
a fila dá a volta num quarteirão inteiro
que suspeito não ser um quadrado perfeito.
não sei o que espero. não sei se a fila sabe.
espero. não pergunto. seria ridículo, agora,
depois de tantas horas com a mesma cara
bovina. sei fazer cara bovina. muito bem.
trouxe coisas para me ocupar: um jornal;
um lápis para escrever o Tratado para a
desinvenção da penicilina, opus magnum
romantiquinha; cinco dores (uma moral).
esqueci algumas outras coisas. me ocupo
com as que ficaram longe: o mínimo
necessário (por exemplo) para aterrissar
um aeroplano num rio que parece o mar.

a fila anda. eu ando atrás. não sei do quê.
ouvi dizer que é bom, bonito, barato não sei.
ouvi dizer de esquina, assim, canto de boca,
assim um sussurro que cotovelou o quarteirão
que não é um quadrado perfeito porque aqui
é o Rio de Janeiro. aquele é aquele. olharam
para mim. meu nome deu a volta no cotovelo
dobrei meu rosto. tenho que esperar. espero.
não posso ir, agora, bovinamente, falam de mim:
aquele que nem chegou a amar aquela ali
no espaço daquele dia. o que faz logo aqui.

a fila anda. eu ando atrás. não sei do quê.


in Automatógrafo (Rio de Janeiro: 7Letras, 2011)

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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Uma canção de Dimitri Rebello, mais conhecido como Dimitri BR, seguida de um poema recente seu.

Dimitri Rebello, mais conhecido como Dimitri BR


Eu acordei muito cedo esta manhã aqui na cidade de Berlim, mas com uma vontade muito grande de poder ter acordado na cidade do Rio de Janeiro. É que se eu tivesse acordado na cidade do Rio de Janeiro, eu poderia agora fazer um telefonema para meu amigo Dimi, o poeta Dimitri Rebello e o cantor mais conhecido por vocês como Dimitri BR, para tomar café-da-manhã juntos, talvez ir à praia, e conversar, conversar. Acordei com uma vontade muito grande de conversar com o Dimitri. No entanto, como eu estou na cidade de Berlim e Dimitri está na cidade do Rio de Janeiro, eu faço o que posso e tomo um café aqui, em meu quarto na cidade de Berlim, escutando uma das canções mais bonitas do Dimitri, chamada "o tamanho do caminho" e composta e gravada na cidade do Rio de Janeiro, e esta canção, que me parece uma das mais bonitas dentre as compostas no Brasil nos últimos X anos, me faz um bem muito grande e chega quase a substituir o que Dimitri poderia ter-me dito neste nosso suposto e desejado café-da-manhã na cidade do Rio de Janeiro, através desta canção que me parece ter nascido já clássica, mesmo sabendo que Dimitri tem canções muito mais elaboradas, mas sabendo também que artistas às vezes produzem pequenos artefatos à própria revelia, como se dissessem: "Eis esta pequena coisa, é o melhor de mim, pertence desde já ao domínio público". Sim, esta canção, que imagino ter sido composta há pouco tempo por Dimitri Rebello, o Dimitri BR, o Dimi querido Dimi, nasceu já dentro do domínio público, e as divas da MPB devem estar surdas ou loucas se ainda não descobriram o cancioneiro de Dimitri BR.

Aqui, neste meu quarto na cidade de Berlim, esta canção de Dimitri BR me mostra um dos possíveis caminhos: o que nos cabe.




Dimitri BR - participação especial de Silvia BR - "o tamanho do caminho" (2010)



o tamanho do caminho
[Dimitri BR]

neste mundo imenso só posso desejar
que o caminho tenha o tamanho do caminhar
só um desejo tenho neste mundinho
que o meu caminhar caiba no caminho

que o meu caminhar caiba no caminho
que o caminho tenha o tamanho do caminhar




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Eu encerro esta postagem, em que tento me aproximar de alguma maneira do meu amigo Dimitri, o poeta e cantor, que está provavelmente neste momento dormindo o sono dos justos na cidade do Rio de Janeiro, compartilhando com vocês esta canção tão bonita, que já não pertence a Dimitri BR (quem mandou compor um born-classic digno do domínio público?), e também o poema "perdi o sono", que ele publicou em seu espaço há pouco.

Estamos tomando café-da-manhã juntos, Dimi. Você percebeu? Quer açúcar no seu café? Você retomou o sono ou está insone na cidade do Rio de Janeiro? Sofrendo a insônia dos justos? Eu estive insone esta noite na cidade de Berlim. Agora tomo um café forte e com açúcar para despertar e tentar ser digno da vigília dos justos.



perdi o sono
Dimitri Rebello

perdi o sono
foi em 1987
em 1994
ou 2006
atrás da estante
embaixo da geladeira
no vão do sofá
(lápis moeda poeira
grampo de cabelo
sono que é bom nada)
não lembro bem
não sei dizer
alguém me empreste
um guarda-chuva
eu gosto de chuva
e queria dormir.


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segunda-feira, 1 de março de 2010

Um reencontro com Dimitri Rebello e Marília Garcia

Meu caminho começou a se cruzar com o de Marília Garcia e Dimitri Rebello, dois cariocas, há cerca de uma década, em São Paulo. Um desses momentos deu-se em 2001, quando Marília lançou a plaquete de poemas Encontro às cegas, pela coleção Moby Dick, da 7Letras. O lançamento foi no ponto tradicional de lançamentos da 7 Letras e da Cosac Naify: o Bar Balcão, nos Jardins. Foi ali que conhecera Dimitri um ano antes, ali estivera com Marília pela primeira vez. Ah! A teoria dos seis graus de separação, para mais tarde os seis degraus da evisceração.


Há um ano, Dimitri iniciou seu projeto DIAHUM, mostrando a cada primeiro dia do mês uma canção sua, com um vídeo especialmente preparado para ela. O vídeo deste mês foi feito em colaboração com a Modo de Usar & Co. e marca um reencontro entre Dimitri, Marília e eu. No ano de lançamento de Encontro às cegas, Dimitri musicou o poema "Ela não disse", que se tornou a canção "Problems and desire". Na noite de lançamento da plaquete em São Paulo, em 2001, Dimitri e eu estávamos caminhando para sua casa no Paraíso, quando fomos assaltados por dois rapazes. Nós estávamos completamente concentrados em uma daquelas conversas tão íntimas que apagam o resto do mundo e praticamente ignoramos os dois assaltantes. Eles insistiram e então arrancaram a única coisa que Dimitri tinha no bolso: o livro de poemas de Marília Garcia. Pensando racionalmente, deveríamos, é claro, ter sido mais cuidadosos com assaltantes que nos ameaçavam com uma possível faca sob a blusa. Mas a verdade é que nos sentimos, na verdade, ofendidos que eles estivessem interrompendo uma conversa tão íntima entre dois amigos. Dimitri gritou "Devolve isso já, cara!" e o assaltante, confuso, folheando aquele objeto esquisito, um livro de poemas!!!, acabou simplesmente por devolvê-lo, pedindo desculpas. Nós seguimos conversando sobre as eviscerações do mundo, nós as holotúrias sem anestesia.

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Na franquia eletrônica da Modo de Usar & Co., apresentamos esta e outras duas canções de Dimitri Rebello, tomando mais esta oportunidade para discutir o trabalho oral e o trabalho escrito.





problems and desire
[Dimitri BR + Marília Garcia]

Ela não disse*

dos dias em que esteve ausente
guardo a sombra dela
- sorrindo timidamente -
algumas letras
o sim que ela não disse
e seus silêncios profundos
querendo dizer nada,
talvez
problems and desire
there's nothing but problems and desire

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*poema do livro "encontro às cegas", de Marília Garcia (Moby Dick - 2001), musicado por Dimitri BR no ano da publicação

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diahum para modo de usar & co.

Dimitri BR - voz e violão
Ricardo Domeneck - texto e voz em off

filmado por Marília Garcia
editado por Alexandre Hofty

agradecimentos:
Silvia Rebello (produção)
Carlito Azevedo (o carteiro E poeta)

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domingo, 13 de dezembro de 2009

Viagem ao Brasil: chegada no Rio de Janeiro

Cheguei ao Rio de Janeiro na noite de quinta-feira, após dois voos, o primeiro de Berlim a Madri e o segundo, muito cansativo, de Madri ao Rio. Na noite de quarta-feira ainda tive que discotecar em Berlim, pois era quarta-feira, a noite do evento semanal que coorganizo. Fui para o clube com malas e às 5 da manhã peguei um táxi para o aeroporto.

Ao chegar ao Rio, por volta das oito da noite, o mundo despencava em água, a cidade toda alagada. Chegar a Copacabana, onde devia encontrar meus queridíssimos Dimitri Rebello e Marília Garcia para jantar (a quem não via há 4 anos) foi uma maratona. Revê-los fez tudo valer a pena muitíssimo. Para completar o encontro, estava também Silvia Rebello, a irmã de Dimitri. Marília me aguardava com uma cópia do segundo número da Modo de Usar & Co., que está linda, especialmente com aquela capa em que sorri O Moço, meu moço. Duplo orgulho.

Dimitri é um amigo de longa data, de outros carnavais e também de outras quartas-feiras de cinzas. Um cantautor e poeta que respeito, já escrevi sobre ele aqui, quando ele gravou a canção "Mercado Negro", uma de minhas favoritas. Marília, como todos sabem, é coeditora da Modo de Usar & Co., além de responsável pelo seu aspecto gráfico e uma das criaturas mais doces que conheço. Sou leitor admirado de seu trabalho e compartilhamos a obsessão por alguns poetas, especialmente o francês Emmanuel Hocquard, que ela vem traduzindo lindamente. Já disse isso ao ar livre, repito-o aqui em letras: quando se trata do trabalho destas três mulheres - Marília Garcia, Angélica Freitas e Juliana Krapp - minha relação é de respeito mamute, "e se ele vier, defenderei, e se ela vier, defenderei, e se eles vierem todos, numa guirlanda de flechas, defenderei, defenderei, defenderei."

Estar com Dimitri, Marília e Silvia foi uma das melhores recepções que poderia imaginar. Dormi depois como uma pedra no belo hotel que a Cosac Naify reservou para os autores de fora, esperando sol no dia seguinte. O sol veio e caminhei pela praia de Copacabana agradecendo a Deus por cada segundo. Há outro agradecimento a ser feito: ao querido Augusto Massi e à Cosac Naify pelo convite incrivelmente generoso, que fez possível que eu voltasse ao Brasil depois de quatro anos, permitindo até agora que eu pudesse rever amigos como Dimitri Rebello, Rafael Segond, Marília Garcia, Carlito Azevedo, Bruno Learth Soares e os muitos amigos virtuais a quem pude finalmente dar uma face de carne e osso. Esta manhã ocorreu o lançamento lindo do segundo número da Modo de Usar & Co., na Livraria Berinjela de nosso querido parceiro Daniel Chomsky, assim como do meu livro Sons: Arranjo: Garganta, do Monodrama de Carlito Azevedo, do Mapoteca de Felipe Nepomuceno e do Ambiente de Walter Gam. Mas isso é assunto para outra postagem. Deixo vocês com meus queridíssimos Dimitri Rebello e Marília Garcia e vou dormir, dormir no Rio de Janeiro depois de um dia feliz, feliz.




sexta-feira, 3 de julho de 2009

Dimitri Rebello e a canção que me salvou o oxigênio numa manhã de chuva em São Paulo


(Dimitri BR, "Mercado Negro", pague seus pecados / ou então culpe a sorte [para ricardo domeneck e rafael mantovani])


Meu querido Dimitri, segue sendo um dos seus melhores poemas. As lembranças inundaram, como a chuva daquela manhã em São Paulo. Vou ouvir isso sem parar nos próximos dias. A canção está aqui, não é porque você ma dedicou, mas porque você sabe a importância que ela tem para mim, ela me ajudou muito naquele momento delirante por que passava quando você a tocou e cantou pela primeira vez. Assim como o poema da holotúria, da Wislawa Szymborska, mostrou-me o caminho fora da catástrofe; assim como os versos do Creeley: "let light / as air / be relief" foram mantra por alguns meses; essa canção salvou-me o oxigênio nas guelras naquela manhã de chuva, num canto de São Paulo. Quando penso em você, lembro-me sempre e ainda e ainda e sempre daquela noite em que caminhávamos para a sua casa, conversando, quando fomos assaltados e tudo o que você tinha no bolso era o livro Encontro às cegas, da nossa querida Marília (Garcia), e o assaltante o arrancou do seu bolso e você gritou "Devolve isso já, cara!" e o rapaz mal sabia o que fazer com aquilo, um livro de poemas (!!!) e o devolveu, sem jeito, quase pedindo desculpas por tentar nos assaltar, e nós seguimos conversando, como se nenhuma faca pudesse ter cortado pele alguma naquela noite.

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Para quem não conhece o trabalho de DIMITRI BR, acompanhe seu projeto DIAHUM, em que apresenta uma video-canção original no dia 1 de cada mês.

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