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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Ay, México.



Estou em São Paulo, depois de uma semana maravilhosa na Cidade do México ao lado de alguns de seus melhores poetas, e agora posso dizer com alegria e orgulho que são meus amigos. Nenhum texto de blogue poderia fazer justiça à generosidade e respeito com que me trataram, e as horas de intercâmbio poético, de noites regadas a tequila e mescal em que líamos, em bares ou apartamentos, poemas uns para os outros, os nossos e os de nossos mestres mortos. Voltei do México com muitos livros na mala, volumes da poesia completa ou quase completa de mestres como Xavier Villaurrutia, Salvador Novo, Gilberto Owen, Sóror Juana Inés de la Cruz, assim como livros de poetas contemporâneos como Juan Carlos Bautista e David Huerta.

A leitura na sexta-feira na Casa Refugio Citlaltépetl, com Luis Felipe Fabre, Julián Herbert, Minerva Reynosa, Ezequiel Zaidenwerg e eu, foi uma das melhores leituras da minha vida. Eu estava radiante por estar ali com 4 poetas que respeito tanto. Eu li meus poemas "Vida longa à poesia pura", "O acordeonista da Catedral de Bruxelas", "X + Y: uma ode", "Texto em que o poeta surpreende-se com a morte de Maria Schneider que parece formar uma sinédoque da qual não discerne a fronteira entre parte e todo" e "Entre o fogo e a derme". Meus companheiros leram as traduções para o castelhano, feitas por Cristian De Nápoli, Aníbal Cristobo e Paula Abramo.

Dois livros de poetas da minha geração deixaram-me com a visão clara de um momento privilegiado na poesia mexicana contemporânea: La sodomía en la Nueva España (Madrid: Pre-Textos, 2010), de Luis Felipe Fabre (Cidade do México, 1974); e El baile de las condiciones (Ciudad de México: Práctica Mortal, 2011), de Óscar de Pablo (Cidade do México, 1979). Livros de poetas que sabem que dia é hoje, de técnica precisa, cantores sobjetivos. Traduzirei poemas dos livros nas próximas semanas. Se unimos a eles ainda La lírica está muerta (Bahía Blanca: Vox Senda, 2011), de Ezequiel Zaidenwerg (Buenos Aires, 1981), temos três belos livros da poesia hispano-americana publicados no último ano.

Gravei muitos vídeos de leituras para divulgar o trabalho destes poetas no Brasil e além. Fora os três já citados, poemas que me alegraram e impressionaram na voz de seus autores, como os de Daniel Saldaña París; de Alejandro Albarrán; da americana Robin Myers, residente no México; de Paula Abramo. E mais. E outros. Percebi como sinto falta de ter por perto poetas com quem possa realmente conviver. Na Alemanha, meus amigos mais próximos são quase todos artistas visuais ou músicos. Não têm textos como parte integrante do oxigênio. Houve momentos em que tinha certeza ser aquela a alegria dos Beats ou dadaístas quando estavam juntos.

É muita coisa, tanta experiência que não poderei digerir assim tão rapidamente. Destes poetas, poderia dizer o que escreveu Drummond:

"Estes poetas são meus.
(…)
São todos meus irmãos, não são jornais
nem deslizar de lancha entre camélias:
é toda a minha vida que joguei."


Deixo vocês com o vídeo que fiz de Alejandro Albarrán (Cidade do México, 1985), lendo seu poema "Acumulación". Muitos outros vídeos virão, estou editando vários neste momento. Abraço grande a meus novos amigos e companheiros mexicanos.



Alejandro Albarrán vocaliza seu poema "Acumulación", Cidade do México, dezembro de 2011.
Gravado por Ricardo Domeneck para a revista Modo de Usar & Co.


Texto:

A C U M U L A C I Ó N
Alejandro Albarrán

*

Acumulación, me estoy hinchando. Encontrando
el mimetismo en los ahogados. En mi cuerpo
tumefacto. Soy tu contenedor, soy tu putita. Me
estoy llenando. Me estoy saciando, colmándome
de mí, me estoy tocando en las aristas con aristas,
en mis esquinas me estoy tocando con esquinas.
Gerundio, soy hinchazón, soy yo exagerado,
exacerbado. Necesito una salida. Un punto de
fuga o me desbordo, desbordado, soy,
acumulación. Soy garrafa. Un accidente paulatino.
Un desatino o tina que se llena hasta sus bordes.
Una salida o me reviento. Una calle, un
escampado, para salirme de mí, desbordado sí, en
el paisaje. Acumulación, me estoy hundiendo,
como un Nautilus, me vengo abajo.

*

Esto es: necesito no ser yo. Confundirme. Ser tú,
por ejemplo. Ser tu sueño húmedo. Tu pesadilla.
Tu amor especial. Tu hombre de acción. Tu
postergación, tu crucifixión: tu crucifijo. La
mancha de sangre en tu toalla sanitaria. Tu santa
virgen, tu Eclesiastés, tu miedo al cambio, tu
cambio, en monedas de baja denominación, soy tu
elección, tu trueque. Tu lucha contra ti, soy tú
porque te ves en mí. En mi imagen. Tenme miedo
soy el diablo, tu Cristo de terciopelo, soy, soy tu
miedo, tu miedo a ti.


*

Soy la emperatriz de los escarabajos, en tu pubis
soy el anca de un caballo, en tu cabello soy dolor
de estómago, soy tu síntoma de mal, soy el mal, el
pervertido de voces, a veces, de muchas voces que
me anulan, soy eso: la anulación, mi anulación, la
vindicación de mí en nada.

*

Vuélvete confeti o fruta furibunda, vuélvete que
me estoy quitando el sexo. Por ti. Lo estoy
dejando en el buró como una estaca, un crucifijo.
Date vuelta: una lámpara que brilla (y ahora
brilla), una aliteración en nuestro entorno. Una
aliteración: canción que nadie canta porque
espanta.

*

Mi caballo sin ojos me dijo: "canta en mis
entrañas", "enséñame el paisaje". Aprendizaje. Mi
caballo me dijo: "ven a correr conmigo en mis
entrañas", me lo dijo esta mañana, desde mi
estómago, me lo dijo desde el vértigo, desde mi
trote caldo, en mi vientre me lo dijo, en mi
emoción, mi caballo sin ojos, mi potro hambriento
de camino. Soy camino, trayecto inconcluso es mi
oración. Ahora le canto, lo llevo al monte, a que
relinche.





terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Nota sobre a última leitura na Bélgica, na Librarie Quartiers Latins em Bruxelas, seguida do primeiro anúncio sobre minha conferência no México

No último dia na Bélgica, participamos de uma conversa entrecortada por leituras de poemas na Librarie Quartiers Latins, em Bruxelas. Trata-se de uma livraria especializada em literatura belga de expressão francófona. Eles têm, no entanto, uma seleção ótima de poesia e prosa estrangeiras em tradução para o francês. Fomos cumprimentados logo na bancada de entrada por uma bela edição em francês dos poemas de Ana Cristina Cesar. Em conversa com Philippe Hunt, que fez a moderação de nossa mesa de leituras e debate com o público (incrível o número de belgas que apareceram nas leituras falando português fluente), e também com Thierry Leroy, o editor da antologia bilíngue português/francês lançada pela editora Le Cormier por ocasião do Europalia, Marília Garcia e eu encontramos graças às sugestões deles alguns livros de poetas belgas contemporâneos que logo aparecerão na Modo de Usar & Co..

O debate foi muito bom, e fiquei surpreso, por exemplo, com o quanto discutimos os efeitos da ditadura militar sobre o Brasil de hoje, a relação da poesia brasileira com o período e também com suas consequências, com um público belga interessadíssimo, e que parecia conhecer bem o que discutíamos.

Passei minha última noite em Bruxelas ao lado do meu queridíssimo J.C., numa reprise linda daquelas reprises que menciono em meu poema "O acordeonista da Catedral de Bruxelas". Algumas pessoas simplesmente são capazes de revigorar nossos poros.

Estou de volta a Berlim, fazendo os últimos preparativos para minha viagem ao México, onde darei uma conferência sobre poesia contemporânea brasileira no Centro Cultural Brasil-México, entre os dias 13 e 15 de dezembro. Encerro minha primeira passagem pelo país dos grandes poetas Xavier Villaurrutia (1903 - 1950) e Salvador Novo (1904 – 1974) com uma leitura no dia 16 de dezembro na Casa Refugio Citlaltépetl, onde serei recebido e terei a honra de ler com três dos poetas mexicanos contemporâneos que mais respeito: Julián Herbert, Luís Felipe Fabre e Minerva Reynosa. Por uma coincidência que me deixou muito feliz, o poeta argentino Ezequiel Zaidenwerg, que também respeito tanto, estará de passagem pela Cidade do México naquela semana e participará da leitura. Devo acrescentar que tudo isso está acontecendo graças ao entusiasmo de Paula Abramo, embaixadora da poesia brasileira no México.

Sendo assim, nesta sexta-feira voo para o Rio de Janeiro, fazendo uma passagem relâmpago de cerca de 32 horas antes de embarcar para a Cidade do México, onde fico então cerca de 10 dias, voltando depois ao Brasil para ver minha família, meus amigos amados e lançar meu novo livro de poemas, chamado Ciclo do amante substituível (Rio de Janeiro: 7Letras, no prelo).

Estou cansadíssimo e entusiasmadíssimo.





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