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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

"Edad de oro: antología de poesía mexicana actual" (UNAM, 2013), com organização e prefácio de Luis Felipe Fabre



O grande Luis Felipe Fabre organizou e prefaciou o volume Edad de Oro: Antología de Poesía Mexicana Actual, lançada agora pela Universidad Nacional Autónoma de México - UNAM, não apenas com alguns dos melhores poetas mexicanos nascidos nos anos 70 e 80, mas alguns dos melhores poetas que conheço em minha geração e na seguinte, incluindo a arqueologopaica Paula Abramo, o maestro métrico Óscar de Pablo, o manual de passos de dança para o intelecto conhecido como Daniel Saldaña París, e o melômano genial Alejandro Albarrán, assim como Rodrigo Flores Sánchez, Maricela Guerrero, Minerva Reynosa, Inti García Santamaría e Yaxkin Melchy. Hipérboles são a única reação apropriada para o acontecimento. UNAM-se.

--- Ricardo Domeneck

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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Vídeo com Luis Felipe Fabre, lendo seus "Villancicos del Santo Niño de las Quemaduras", do livro La Sodomía en la Nueva España (2010)


Luis Felipe Fabre (Ciudad de México, 1974) vocaliza seus "Villancicos del Santo Niño de las Quemaduras",
do livro LA SODOMÍA EN LA NUEVA ESPAÑA (Madrid: Pre-Textos, 2010).
Gravado por Ricardo Domeneck, especial para a MODO DE USAR & CO.



O villancico, conhecido em português como vilancete, é uma composição poética geralmente musicada, comum na Península Ibérica nos séculos XV e XVI, praticada por poetas-compositores como Juan del Encina (1468 - 1529) e transplantada com muito talento no século XVII para a América Espanhola, por exemplo, por Sóror Juana Inês de la Cruz (1651 – 1695). Trata-se de poesia lírica irmanada a formas como a canção de amigo galego-portuguesa, a jarcha/moaxaja moçárabe e aos textos dos romanceiros ibéricos em geral.

Villancico
Juan del Encina

Floreció tanto mi mal,
sin medida,
que hizo secar mi vida.

Floreció mi desventura
y secósse mi esperança;
floreció mi gran tristura
con mucha desconfïança;
hizo mi bien tal mudança,
sin medida,
que hizo secar mi vida.

Hase mi vida secado,
con sobra de pensamiento;
ha florecido el cuydado,
las passiones y el tormento;
fue tanto mi perdimiento,
sin medida,
que hizo secar mi vida.

Fin

Secósse todo mi bien,
con el mal que floreció;
no sé cúyo soy ni quién,
quel plazer me despidió;
tanto mi pena creció,
sin medida,
que hizo secar mi vida.



Mais tarde, como se dá na Obra de Sóror Juana, a forma poética passou a ser composta exclusivamente com temas religiosos, como a assunção da Virgem e o nascimento de Cristo, e passou a ser empregada nas festividades católicas. Os vilancetes eram cantados por um solista e um coro.

Por exemplo, compostos para as celebrações do Natal de 1689 e cantados na Catedral de la Puebla de los Ángeles, os Villancicos de Navidad de Sóror Juana Inês de la Cruz iniciam-se:


Villancico de Navidad (1689)
Sóror Juana Inês de la Cruz

Primero Nocturno

Villancico I

Por celebrar del Infante
el temporal Nacimiento,
los cuatro elementos vienen:
Agua, Tierra, y Aire y Fuego.
Con razón, pues se compone
la humanidad de su Cuerpo
de Agua, Fuego, Tierra y Aire,
limpia, puro, frágil, fresco.
En el Infante mejoran
sus calidades y centros,
pues les dan mejor esfera
Ojos, Pecho, Carne, Aliento.
A tanto favor rendidos,
en amorosos obsequios
buscan, sirven, quieren, aman,
prestos, finos, puros, tiernos.



Sóror Juana atingiu grande sofisticação filosófica e poética em seus vilancetes. Seus Villancicos de la Asunción (1676) têm composições em castelhano, latim e tocotín, uma língua que mesclava o castelhano e o náhuatl, sem mencionar o Vilancete VII do "Tercero Nocturno" deste mesmo texto de 1676, em que se equipara com maestria à elegância da wit de seus contemporâneos europeus, como os metafísicos ingleses mais jovens Andrew Marvell (1621 – 1678) e Henry Vaughan (1622–1695).

Lançado no ano passado, La Sodomía en la Nueva España (Madrid: Pre-Textos, 2010), de Luis Felipe Fabre (Cidade do México, 1974), é um belíssimo trabalho de reconstituição poético-histórica do período de perseguição a homossexuais na Nova Espanha que culminou nos anos de 1657 e 1658, levando à execução (queimados na fogueira) de muitos homens na Cidade do México, como no caso de Juan de la Vega, conhecido como la Cotita. Baseando-se textualmente em documentos da época, Luis Felipe Fabre faz uma reconstituição e resgate ao dar voz aos acusados, mas, retomando a linguagem alegórica barroca do período, dá também voz à Santa Doutrina contra o "pecado nefando", ao Silêncio e ao Fogo que os consomem e retoma formas históricas como o villancico, o que traz mais de uma implicação est-É-tica ao livro, ao usar uma forma praticada com esmero por uma poeta religiosa como Sóror Juana, ela própria acusada e atacada sob suspeita de lesbianismo, ela que se aproxima de Safo de Lesbos ao cantar versos tão belos quanto estes para uma mulher chamada Filis:

Ser mujer, ni estar ausente,
no es de amarte impedimento;
pues sabes tú que las almas
distancia ignoran y sexo
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Penso no que escreve Walter Benjamin sobre o "historiógrafo perfeitamente convencido que diante do inimigo, e no caso deste vencer, nem sequer os mortos estarão em segurança. E este inimigo não tem cessado de vencer".

Em seus "Villancicos del Santo Niño de las Quemaduras", Luis Felipe Fabre retoma o episódio em que um dos acusados e queimados na fogueira em 1658 teve como prova e evidência contra si o fato de haverem encontrado em sua casa uma estátua do Menino Jesus queimada. Segundo a história, ele a teria queimado em um momento de fúria por não lhe ter sido permitido estar com seu amante.

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Luis Felipe Fabre, acompañado por Daniel Saldaña París y Paula Abramo,
lee fragmentos de su libro La sodomía en la Nueva España (Pre-Textos, 2010),
durante su participación en el festival Poesía en Voz Alta.
Ciudad de México. 23 de septiembre de 2010.


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La Sodomía en la Nueva España está entre os melhores livros de poesia contemporânea que li nos últimos tempos, e parece estar ligado a uma retomada da poesia lírica de forma extremamente consciente de sua historicidade, o que por vezes nos recorda o trabalho lírico dos Objetivistas Norte-Americanos dos anos 1930, trabalho de grande beleza e inteligência que também sinto nos livros El baile de las condiciones (Ciudad de México: Práctica Mortal, 2011), do mexicano Óscar de Pablo; e ainda no excelente La lírica está muerta (Bahía Blanca: Vox Senda, 2011), do argentino Ezequiel Zaidenwerg. Em sua retomada de uma forma lírica que tem suas origens na poesia medieval, o contexto atual da poesia latino-americana em que este trabalho de Luis Felipe Fabre se insere fez-me pensar também no último livro da brasileira Jussara Salazar, que acaba de ser lançado: Carpideiras (Rio de Janeiro: 7Letras, 2011), guardadas as devidas distâncias contextuais entre a retomada barroca dos villancicos de Fabre e a retomada das cantorias, coros e retábulos de Salazar. Unidos ao que venho chamando de lírica analítica nos trabalhos de poetas brasileiros como os cariocas Juliana Krapp, Marília Garcia e agora Victor Heringer, assim como a exuberância pluriformal dos últimos poemas de Dirceu Villa, parece cada vez mais claro que os que sambaram sobre o esquife vazio da Poesia Lírica certamente não a viram gargalhando à janela do velório, ainda que seja o caso, segundo a visão de Ezequiel Zaidenwerg, de "que la lírica es más bien un zombie que está muerto ab origine y que, por más que intenten matarlo, siempre vuelve a aterrorizarnos".


Luis Felipe Fabre, La sodomía en la Nueva España (Madrid: Pre-Textos, 2010)

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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Ay, México.



Estou em São Paulo, depois de uma semana maravilhosa na Cidade do México ao lado de alguns de seus melhores poetas, e agora posso dizer com alegria e orgulho que são meus amigos. Nenhum texto de blogue poderia fazer justiça à generosidade e respeito com que me trataram, e as horas de intercâmbio poético, de noites regadas a tequila e mescal em que líamos, em bares ou apartamentos, poemas uns para os outros, os nossos e os de nossos mestres mortos. Voltei do México com muitos livros na mala, volumes da poesia completa ou quase completa de mestres como Xavier Villaurrutia, Salvador Novo, Gilberto Owen, Sóror Juana Inés de la Cruz, assim como livros de poetas contemporâneos como Juan Carlos Bautista e David Huerta.

A leitura na sexta-feira na Casa Refugio Citlaltépetl, com Luis Felipe Fabre, Julián Herbert, Minerva Reynosa, Ezequiel Zaidenwerg e eu, foi uma das melhores leituras da minha vida. Eu estava radiante por estar ali com 4 poetas que respeito tanto. Eu li meus poemas "Vida longa à poesia pura", "O acordeonista da Catedral de Bruxelas", "X + Y: uma ode", "Texto em que o poeta surpreende-se com a morte de Maria Schneider que parece formar uma sinédoque da qual não discerne a fronteira entre parte e todo" e "Entre o fogo e a derme". Meus companheiros leram as traduções para o castelhano, feitas por Cristian De Nápoli, Aníbal Cristobo e Paula Abramo.

Dois livros de poetas da minha geração deixaram-me com a visão clara de um momento privilegiado na poesia mexicana contemporânea: La sodomía en la Nueva España (Madrid: Pre-Textos, 2010), de Luis Felipe Fabre (Cidade do México, 1974); e El baile de las condiciones (Ciudad de México: Práctica Mortal, 2011), de Óscar de Pablo (Cidade do México, 1979). Livros de poetas que sabem que dia é hoje, de técnica precisa, cantores sobjetivos. Traduzirei poemas dos livros nas próximas semanas. Se unimos a eles ainda La lírica está muerta (Bahía Blanca: Vox Senda, 2011), de Ezequiel Zaidenwerg (Buenos Aires, 1981), temos três belos livros da poesia hispano-americana publicados no último ano.

Gravei muitos vídeos de leituras para divulgar o trabalho destes poetas no Brasil e além. Fora os três já citados, poemas que me alegraram e impressionaram na voz de seus autores, como os de Daniel Saldaña París; de Alejandro Albarrán; da americana Robin Myers, residente no México; de Paula Abramo. E mais. E outros. Percebi como sinto falta de ter por perto poetas com quem possa realmente conviver. Na Alemanha, meus amigos mais próximos são quase todos artistas visuais ou músicos. Não têm textos como parte integrante do oxigênio. Houve momentos em que tinha certeza ser aquela a alegria dos Beats ou dadaístas quando estavam juntos.

É muita coisa, tanta experiência que não poderei digerir assim tão rapidamente. Destes poetas, poderia dizer o que escreveu Drummond:

"Estes poetas são meus.
(…)
São todos meus irmãos, não são jornais
nem deslizar de lancha entre camélias:
é toda a minha vida que joguei."


Deixo vocês com o vídeo que fiz de Alejandro Albarrán (Cidade do México, 1985), lendo seu poema "Acumulación". Muitos outros vídeos virão, estou editando vários neste momento. Abraço grande a meus novos amigos e companheiros mexicanos.



Alejandro Albarrán vocaliza seu poema "Acumulación", Cidade do México, dezembro de 2011.
Gravado por Ricardo Domeneck para a revista Modo de Usar & Co.


Texto:

A C U M U L A C I Ó N
Alejandro Albarrán

*

Acumulación, me estoy hinchando. Encontrando
el mimetismo en los ahogados. En mi cuerpo
tumefacto. Soy tu contenedor, soy tu putita. Me
estoy llenando. Me estoy saciando, colmándome
de mí, me estoy tocando en las aristas con aristas,
en mis esquinas me estoy tocando con esquinas.
Gerundio, soy hinchazón, soy yo exagerado,
exacerbado. Necesito una salida. Un punto de
fuga o me desbordo, desbordado, soy,
acumulación. Soy garrafa. Un accidente paulatino.
Un desatino o tina que se llena hasta sus bordes.
Una salida o me reviento. Una calle, un
escampado, para salirme de mí, desbordado sí, en
el paisaje. Acumulación, me estoy hundiendo,
como un Nautilus, me vengo abajo.

*

Esto es: necesito no ser yo. Confundirme. Ser tú,
por ejemplo. Ser tu sueño húmedo. Tu pesadilla.
Tu amor especial. Tu hombre de acción. Tu
postergación, tu crucifixión: tu crucifijo. La
mancha de sangre en tu toalla sanitaria. Tu santa
virgen, tu Eclesiastés, tu miedo al cambio, tu
cambio, en monedas de baja denominación, soy tu
elección, tu trueque. Tu lucha contra ti, soy tú
porque te ves en mí. En mi imagen. Tenme miedo
soy el diablo, tu Cristo de terciopelo, soy, soy tu
miedo, tu miedo a ti.


*

Soy la emperatriz de los escarabajos, en tu pubis
soy el anca de un caballo, en tu cabello soy dolor
de estómago, soy tu síntoma de mal, soy el mal, el
pervertido de voces, a veces, de muchas voces que
me anulan, soy eso: la anulación, mi anulación, la
vindicación de mí en nada.

*

Vuélvete confeti o fruta furibunda, vuélvete que
me estoy quitando el sexo. Por ti. Lo estoy
dejando en el buró como una estaca, un crucifijo.
Date vuelta: una lámpara que brilla (y ahora
brilla), una aliteración en nuestro entorno. Una
aliteración: canción que nadie canta porque
espanta.

*

Mi caballo sin ojos me dijo: "canta en mis
entrañas", "enséñame el paisaje". Aprendizaje. Mi
caballo me dijo: "ven a correr conmigo en mis
entrañas", me lo dijo esta mañana, desde mi
estómago, me lo dijo desde el vértigo, desde mi
trote caldo, en mi vientre me lo dijo, en mi
emoción, mi caballo sin ojos, mi potro hambriento
de camino. Soy camino, trayecto inconcluso es mi
oración. Ahora le canto, lo llevo al monte, a que
relinche.





quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Cidade do México. Na companhia de alguns de seus melhores poetas.

Daniel Saldaña París, Luis Felipe Fabre e eu, divertindo-nos durante a leitura de nossos poemas
na casa de Paula Abramo e Óscar de Pablo - Cidade do México, 12 de dezembro de 2011

Deixei o Rio de Janeiro na madrugada de domingo, chegando à Cidade do México à tarde, após uma escala na Cidade do Panamá e apenas um dia depois de um terremoto de 6.7 na escala Richter aqui na capital mexicana. Fui recebido por Paula Abramo, poeta mexicana e brasileira (que escreve em castelhano) que é diretora do Centro Cultural Brasil-México da Embaixada do Brasil, e seu marido, o poeta mexicano Óscar de Pablo. Após descansar um pouco no hotel, encontrei-me com eles e com o poeta argentino Ezequiel Zaidenwerg, que está passando um temporada no México e vive, como Abramo e De Pablo, a poucas quadras do meu hotel. Estamos no bairro dos escritores e poetas, a chamada Colónia Roma. Depois do jantar, na casa de Paula e Óscar, reunimo-nos ainda com o maravilhoso Luis Felipe Fabre, um dos melhores poetas latino-americanos da atualidade, e que tanto tem a ver com minha passagem pelo México por ter sido quem recomendou e apresentou meu trabalho a Paula Abramo. Hernán Bravo Varela completou a noite de poetas na noite de domingo.

O que acontece quando poetas se juntam? O óbvio: discussões sobre quem presta e quem não presta na poesia contemporânea, elogios rasgados a um só para ouvir o companheiro do lado discordar veementemente, sacagens rápidas de livros das estantes para leituras-relâmpago querendo provar por que tal poeta é maravilhoso/horrível, etc. Foi uma noite muito divertida.

Em Berlim, convivo basicamente com músicos, DJs e artistas visuais. Tenho amigos na cena literária berlinense, mas aqueles com quem convivo mais a miúdo não lidam com textualidade de forma explícita. A noite de sábado no Rio de Janeiro, ao lado de Marília Garcia, Dimitri Rebello, Ismar Tirelli Neto e Victor Heringer; seguida desta noite de domingo na Cidade do México, ao lado de Paula Abramo, Óscar de Pablo, Luis Felipe Fabre, Ezequiel Zaidenwerg e Hernán Bravo Varela, mostraram-me como sinto falta desta convivência.

Mas o melhor veio na segunda-feira à noite. Reunimo-nos todos uma vez mais na casa de Paula Abramo e Óscar de Pablo, mas com mais poetas ainda:

Paula Abramo (México/Brasil)
Óscar de Pablo (México)
Luis Felipe Fabre (México)
Ezequiel Zaidenwerg (Argentina)
Robin Myers (Estados Unidos)
Daniel Saldaña París (México)
Hernán Bravo Varela (México)
Alejandro Albarrán (México)

e a fotógrafa Valentina Siniego (México/Argentina).

Depois de alguns tiros de mescal, nos pusemos a ler nossos próprios poemas uns para os outros. Foi uma experiência ótima. Primeiro round: cada um leu dois poemas. Eu li, em castelhano, os poemas “X + Y: uma ode” e “Texto em que o poeta surpreende-se com a morte de Maria Schneider que parece formar uma sinédoque da qual não discerne a fronteira entre parte e todo”. No segundo round, cada um leu mais um poema. Li neste round meu “Autorretrato para agência de acasalamento”.

Na sexta-feira, faço uma leitura na Casa Refugio Citlaltépetl ao lado de quatro dos melhores poetas latino-americanos da atualidade, em minha opinião: os mexicanos Luis Felipe Fabre, Minerva Reynosa e Julián Herbert, e o argentino Ezequiel Zaidenwerg, com este vosso Ricardo Domeneck representando o Brasil. É uma das mesas mais potentes das quais já tive a honra de participar.





Luis Felipe Fabre, poeta e crítico que respeito imensamente e já traduzi para a Modo de Usar & Co., presenteou-me com seu último livro, o petardo que é La Sodomía en la Nueva España (Madrid: Pre-Textos, 2010).


Luis Felipe Fabre lê poemas e conversa com sua usual
wit.


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Leitura na Cidade do México, do livro La sodomía en la Nueva España, com seu autor Luis Felipe Fabre,
acompanhado por Paula Abramo e Daniel Saldaña París.

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POEMA DE LUIS FELIPE FABRE

Sutra da vaca

Uma vaca:
branca e negra. Ruminando pastagem: verde.
E acima o céu

e no céu
uma nuvem cor de nuvem e detrás da nuvem

outra vez o céu: azul celeste: a cor
do divino Vishnu presenteando uma flor-de-lótus.

Azul: a pele do divino Vishnu.
Celeste: a ação de presentear uma flor-de-lótus.

Outra flor-de-lótus: branco
deixando de ser branco: branca
nuvem dissipada: meditação.

E a vaca
ruminando flores-de-lótus a sagradíssima:
ioga, desioga, reioga.

(tradução de Ricardo Domeneck)

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Sutra de la vaca
Luis Felipe Fabre

Una vaca:
blanca y negra. Rumiando pasto: verde.
Y encima el cielo

y en el cielo
una nube color de nube y tras la nube

otra vez el cielo: azul celeste: el color
del divino Vishnú obsequiando un loto.

Azul: la piel de divino Vishnú.
CelesteL la acción de obsequiar un loto.

Otro loto: blanco
dejando de ser blanco: blanca
nube disipada: meditación.

Y la vaca
rumiando lotos la muy sagrada:
yoga, desyoga, reyoga.

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Ezequiel Zaidenwerg também presenteou-me com seu último livro, chamado La lírica está muerta (Bahía Blanca: Vox Senda, 2011). Estes dois livros mostram como há pluralidade de qualidade verdadeira hoje na América Espanhola. Fabre e Zaidenwerg são poetas muitíssimo diferentes, mas eu gosto bastante do trabalho de ambos. Pretendo traduzi-los mais em 2012. Deixo vocês com o vídeo que fiz com Zaidenwerg em Berlim em 2010. Tentarei fazer vídeos com os outros poetas que tenho conhecido aqui.



Ezequiel Zaidenwerg lê os poemas "Doxa" e "Lo que el amor les hace a los poetas",
em Berlim, novembro de 2010. Filmado por Ricardo Domeneck


§

POEMA DE EZEQUIEL ZAIDENWERG

O que o amor causa nos poetas

não é trágico: é atroz. Uma ruína
fúnebre cai sobre os poetas que o amor captura,
sem que orientação ou identidade poética
interessem. O amor leva ao desastre completo
da uniformidade os poetas gays,
os poetas panssexuais e bissextos,
as poetas e poetisas feministas, fementidas ou honestas;
os obcecados pelo gênero e
os degenerados em geral e os polimorfos perversos:
e até os fetichistas dos pés
de verso cedem sob as plantas do amor,
que não distingue ideologia,
programa ou poética. Aos vates da torre de marfim,
lança-os do penthouse ebúrneo para o térreo. Aos apóstolos
do Zeitgeist, que proclamam sem inibição que a lírica está morta,
permite que insistam em seu equívoco
e em suas bachareladas prolixas. Produz uma hemorragia palatal
nos que arqueiam parcos aforismos oblíquos,
como nos herméticos de latão, nos que engarrafam
seus versos para o vazio, nos falsários do silêncio,
e nos que forjam haikais lusófonos
à moda itálica. Nos puristas da voz corta em seco
os lamúrios doces, e quebra as falanges
dos maníacos do ritmo, estraga
o metrônomo íntimo que carregam junto ao coração
para marcar a batida de seus versos. Domestica o sensorial
nos videntes e malditos e demais
rebeldes e insurretos sem razão
ou causa poética, cura o desregramento racional
de todos os sentidos. Desaloja de sua noite escura
os que pedem luz para o poema
nas cavernas do sentido, e os devolve sem escala
para o tresnoitar da carne literal. O que o amor
causa nos poetas, com paciência e mansidão,
enquanto as borboletas lentamente ulceram seus estômagos
e pouco a pouco o pâncreas deixa de funcionar,
é bastante inconveniente. Aos que buscam com afinco
e precisão cirúrgica a palavra justa, arruína
seus pulsos, e em vez de doar vida, aniquilam-na em sua ânsia.
E nos que perseguem com ardor e devoção
um absoluto no poema, como um graal
todo de luz, tesa, diáfana e febril,
nubla suas certezas e mesmo o desejo
de saciar sua ansiedade. O que o amor
causa nos poetas, desavisadamente,
enquanto costuram e cantam e se empanturram de perdizes, é agudo, terminal
e fulminante. É um torrencial avassalador
de prosa, que esporeia e multiplica, em progressão exponencial,
os estúpidos e toscos da poesia:
os que cortam sem motivo seus versos diminutos;
os jóqueis compulsivos que os encavalam;
os designers tipográficos do verso;
os que partem a sintaxe sem saber torcê-la;
os que fazem escavações no
éter em busca de inauditos neologismos inaudíveis;
os modernos sem pretexto; os que creem descobrir
a pólvora em seus versos balbuciantes;
os contestatários automáticos e os poetas-pornô;
os que semeiam grandes nomes pela densa
fronde de seus poemas, como Joãozinho e Maria jogavam
migalhas; os que erguem em sua voz
ausente as caretas de uma infância lobotomizada;
os poetas bonitos e felizes, teimosos;
as tribos urbanas e os groupies da poesia adolescente;
os poetas pop e os rock stars do verso; os videopoetas e performers;
os ovni-poetas, alados ou rastejantes, identificados;
os objetivistas sem objeto
nem vista; os que exigem que o poema
vista-se de mendigo; os poetas filósofos;
e os cultores convictos
da “prosa poética”. O amor,
que movimenta o sol e os demais poetas,
leva-os até o derradeiro paroxismo: transforma-os
em terra, em fumaça, em sombra, em pó, etcétera:
em pó enamorado. E se acontece
ainda que dentre eles
amem-se amorosos os poetas pares,
felizes em seu amor solar sem escansão,
como se fossem na verdade, um para o outro,
um buraco negro de opiniões nebulosas,
palmadinhas tácitas nas costas e comentários de passagem,
anões, esfriando-se, absorvem-se mutuamente
e desaparecem.


(tradução de Ricardo Domeneck)


:


Lo que el amor les hace a los poetas
Ezequiel Zaidenwerg

no es trágico: es atroz. Les sobreviene / una luctuosa ruina a los poetas que el amor captura, / sin importar su orientación o identidad / poética. El amor lleva al total desastre / de la uniformidad a los poetas gay, / a los poetas pansexuales y bisiestos, / y a las poetas y poetrices feministas, fementidas o veraces; / a los obsesionados con el género / y a los degenerados por igual, y a los perversos polimorfos: / y hasta los fetichistas de los pies / del verso capitulan a las plantas del amor, / que no distingue ideología, / programa ni poética. A los vates de la torre de marfil / los precipita del penthouse ebúrneo directo a planta baja. A los apóstoles / del Zeitgeist, que proclaman sin empacho que la lírica está muerta, / les permite insistir en el error / y en sus prolijas parrafadas. Les produce una hemorragia palatal / a los que comban parcos aforismos diagonales, / a los herméticos de lata, a los que envasan / sus versos al vacío, a los falsarios del silencio, / y a los que fraguan haikus castellanos / al itálico modo. A los puristas de la voz les corta en seco / su dulce lamentar, y a los maniáticos del ritmo / les quiebra las falanges, y estropea / el íntimo metrónomo que llevan junto al corazón / para marcar el paso de sus versos. Les compone el sensorio / a los videntes y malditos y demás / rebeldes e insurrectos sin razón ni causa / poética, y les cura el desarreglo razonado / de todos los sentidos. Desaloja de su noche oscura / a los que piden luz para el poema / en las cavernas del sentido, y los devuelve sin escalas / a la trasnoche de la carne literal. Lo que el amor / les hace a los poetas, con paciencia y mansedumbre, / mientras las mariposas lentamente les ulceran el estómago / y el páncreas poco a poco deja de funcionar, / es harto inconveniente. A los que buscan con ahínco / y precisión de cirujano la palabra justa les arruina / el pulso, y en lugar de dar la vida, la aniquilan en su afán. / Y a los que con ardor y devoción persiguen / un absoluto en el poema, como un grial / todo de luz, tirante, diáfana y febril, / les nubla las certezas, y el deseo mismo / de saciar su ansiedad. Lo que el amor / les hace a los poetas, inadvertidamente, / mientras cosen y cantan y se atoran de perdices, es agudo, terminal / y fulminante. Es un torrente arrollador / de prosa, que espolea y multiplica, en progresión exponencial, / a los zopencos y palurdos de la poesía: / a los que cortan sin razón sus versos diminutos; / a los jinetes compulsivos; / a los diseñadores tipográficos del verso; / a los que quiebran la sintaxis sin saber / torcerla; a los que escarban en el / éter a la busca de inauditos neologismos inaudibles; / a los modernos sin pretexto; a los que creen descubrir / la pólvora en sus versos balbucientes; / a los contestatarios automáticos y a los porno-poetas; / a los que sueltan grandes nombres por la densa / fronda de sus poemas, como Hansel y Gretel arrojaban / migas; a los que impostan en su voz / vacante los mohines de una infancia lobotomizada; / a los poetas bellos y felices, caprichosos; / a las tribus urbanas y los groupies de la poesía pubescente; / a los poetas pop y los rockstars del verso; a los videopoetas y performers; / a los ovni-poetas, voladores o rastreros, identificados; / a los objetivistas sin objeto / ni vista; a los que exigen que el poema / se vista de mendigo; a los filósofos poetas; / y a los cultores convencidos / de la “prosa poética”. El amor, / que mueve el sol y a los demás poetas, / los lleva hasta el postrero paroxismo: los convierte / en tierra, en humo, en sombra, en polvo, etcétera: / en polvo enamorado. / Y si resulta todavía que entre ellos / se aman amorosos los poetas pares, / felices en su amor solar sin escansión, / como si fueran en verdad el uno para el otro / un agujero negro de opiniones nebulosas, / tácitas palmaditas en la espalda y comentarios al pasar, / enanos, enfriándose, se absorben entre sí / y desaparecen.


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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Nota sobre a última leitura na Bélgica, na Librarie Quartiers Latins em Bruxelas, seguida do primeiro anúncio sobre minha conferência no México

No último dia na Bélgica, participamos de uma conversa entrecortada por leituras de poemas na Librarie Quartiers Latins, em Bruxelas. Trata-se de uma livraria especializada em literatura belga de expressão francófona. Eles têm, no entanto, uma seleção ótima de poesia e prosa estrangeiras em tradução para o francês. Fomos cumprimentados logo na bancada de entrada por uma bela edição em francês dos poemas de Ana Cristina Cesar. Em conversa com Philippe Hunt, que fez a moderação de nossa mesa de leituras e debate com o público (incrível o número de belgas que apareceram nas leituras falando português fluente), e também com Thierry Leroy, o editor da antologia bilíngue português/francês lançada pela editora Le Cormier por ocasião do Europalia, Marília Garcia e eu encontramos graças às sugestões deles alguns livros de poetas belgas contemporâneos que logo aparecerão na Modo de Usar & Co..

O debate foi muito bom, e fiquei surpreso, por exemplo, com o quanto discutimos os efeitos da ditadura militar sobre o Brasil de hoje, a relação da poesia brasileira com o período e também com suas consequências, com um público belga interessadíssimo, e que parecia conhecer bem o que discutíamos.

Passei minha última noite em Bruxelas ao lado do meu queridíssimo J.C., numa reprise linda daquelas reprises que menciono em meu poema "O acordeonista da Catedral de Bruxelas". Algumas pessoas simplesmente são capazes de revigorar nossos poros.

Estou de volta a Berlim, fazendo os últimos preparativos para minha viagem ao México, onde darei uma conferência sobre poesia contemporânea brasileira no Centro Cultural Brasil-México, entre os dias 13 e 15 de dezembro. Encerro minha primeira passagem pelo país dos grandes poetas Xavier Villaurrutia (1903 - 1950) e Salvador Novo (1904 – 1974) com uma leitura no dia 16 de dezembro na Casa Refugio Citlaltépetl, onde serei recebido e terei a honra de ler com três dos poetas mexicanos contemporâneos que mais respeito: Julián Herbert, Luís Felipe Fabre e Minerva Reynosa. Por uma coincidência que me deixou muito feliz, o poeta argentino Ezequiel Zaidenwerg, que também respeito tanto, estará de passagem pela Cidade do México naquela semana e participará da leitura. Devo acrescentar que tudo isso está acontecendo graças ao entusiasmo de Paula Abramo, embaixadora da poesia brasileira no México.

Sendo assim, nesta sexta-feira voo para o Rio de Janeiro, fazendo uma passagem relâmpago de cerca de 32 horas antes de embarcar para a Cidade do México, onde fico então cerca de 10 dias, voltando depois ao Brasil para ver minha família, meus amigos amados e lançar meu novo livro de poemas, chamado Ciclo do amante substituível (Rio de Janeiro: 7Letras, no prelo).

Estou cansadíssimo e entusiasmadíssimo.





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