segunda-feira, 3 de março de 2008

Revisões para o poema prematuro




Na sexta parte de seu texto “Thinking of Follows”, Rosmarie Waldrop escreveu sobre o processo de revisão dos próprios poemas, e menciona duas posições distintas quanto à sua reescritura: a de Robert Duncan (1919 – 1988), que considerava poemas revisados novos poemas, e a de John Ashbery (n. 1927) que, negando a busca pela “mot juste” ou ideais de precisão ou objetividade, declarou ter sempre a sensação de que qualquer verso poderia ter sido escrito de outra maneira, e que não teria necessariamente que se firmar como em sua versão “final”. Waldrop declara-se mais próxima da opinião de Ashbery, e diz “pensar no papel, revisar incessantemente.”

João Cabral de Melo Neto declarou em entrevistas que sabia se o poema estava pronto quando este fazia, em sua mente, algo como o som de um estojo que se fecha. Robert Creeley, por sua vez, escreveu que muitos de seus poemas favoritos surgiram prontos, e que isto era uma dádiva. Revisar os próprios poemas pode se tornar uma verdadeira obsessão. Vários poetas produzem muitas "variantes" do mesmo texto. Clarice Lispector dizia jamais reler ou revisar os próprios livros : livro publicado, livro morto.

Em meu primeiro livro, Carta aos anfíbios (2005), há um poema ("sem título `que meus lábios rachem com´") que revisei inúmeras vezes após sua publicação, por ter imediatamente gerado em mim este "incômodo do inacabado", até desfigurá-lo em nova roupagem de outridade, e ele gritar “sou outro! sou outro!”. Não sei dizer se podemos concordar inteiramente com Robert Duncan ou John Ashbery, já que as duas opiniões não se excluem ou se opõem. Talvez possamos permanecer, no processo de reescritura, a meio caminho da celebração do nascimento de um novo poema e da alegria da cirúrgia plástica no deformado/inacabado. Apreciando o calor da incubadora para o prematuro?




























É possível ler o importante texto de Rosmarie Waldrop,
clicando no link abaixo:

Thinking of Follows, by Rosmarie Waldrop

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