domingo, 2 de março de 2008

Sintonia de nossa sincronia: Torquato Neto


Torquato Neto nasceu em Teresina, Piauí, em 1944. Mudou-se para Salvador, Bahia, aos 16 anos, onde conheceu Gilberto Gil, Caetano Veloso e foi assistente no filme Barravento, de Glauber Rocha. Mudou-se mais tarde para o Rio de Janeiro. Conheceu os poetas Décio Pignatari e Augusto de Campos, o artista visual Hélio Oiticica e o cineasta Ivan Cardoso, com os quais colaboraria e manteria um diálogo crítico. Torquato foi parte do grupo de artistas envolvidos com a Tropicália, assim como defendeu em seus artigos polêmicos outros movimentos atuantes na década de 60, como a Poesia Concreta e o Cinema Marginal, em especial o de Rogério Sganzerla, Júlio Bressane e Ivan Cardoso. Um poeta desconhecido-muito-conhecido, através das letras de muitas canções famosas, os poemas de Torquato Neto seriam reunidos por Wally Salomão no volume "Os Últimos Dias de Paupéria", na década de 80. Em 2005, a Editora Rocco lançou os dois volumes de sua "Torquatália". Torquato Neto cometeu suicídio aos 28 anos, no Rio de Janeiro, em 1972.


Literato cantabile, de Torquato Neto


Agora não se fala mais
toda palavra guarda uma cilada
e qualquer gesto é o fim
do seu início:


Agora não se fala nada
e tudo é transparente em cada forma
qualquer palavra é um gesto
e em sua orla
os pássaros de sempre cantam
nos hospícios.


Você não tem que me dizer
o número de mundo deste mundo
não tem que me mostrar
a outra face
face ao fim de tudo:


só tem que me dizer
o nome da república do fundo
o sim do fim
do fim de tudo
e o tem do tempo vindo:


não tem que me mostrar
a outra mesma face ao outro mundo
(não se fala. não é permitido:
mudar de idéia. é proibido.
não se permite nunca mais olhares
tensões de cismas crises e outros tempos.
está vetado qualquer movimento


da Série "Sintonia de nossa Sincronia"
da revista Modo de Usar & Co.


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