terça-feira, 16 de setembro de 2008

Quando o fim das gentilezas é a manhã

Acordar num colchão sem lenço de sol e admitir com o vidro da janela que o verão nada sumério nestas paragens chegou a sua finissagem. Pode vir, inverno berlinense. Faz de meu setembro o teu novembro e sussurra: "Quites por teus excessos de julhos". Cerra os punhos e pelo menos neva sobre minha cabeça este ano. Eu agüento mais um, desde que ignores o aquecimento e as abelhas e me cubras os ossos de neve suja.

Há o consolo do som de alguém moendo grãos de café na cozinha. Quem será? Sim, agora me lembro. Mesmo que não haja leite no refrigerador, há o açúcar, há o açúcar.

Com a jaqueta mais nova e os sapatos mais velhos, faço a ronda pelos cafés do bairro com os livros e revistas recentes: o número 10 da revista portuguesa Águas Furtadas, que ganhei de Angélica Freitas este fim-de-semana em Berlim, o livro A Singular Modernity de Fredric Jameson e uma das antologias mais interessantes que já vi da poesia estadunidense do pós-guerra, editada por Paul Hoover, encontrada em um abençoado sebo.

Apesar do nome bobo (Postmodern American Poetry), o editor impressiona ao incluir na antologia (além dos nomes excelentes mas óbvios de sempre, como Charles Olson, Allen Ginsberg, Robert Duncan ou John Ashbery), poetas muitas vezes excluídos por não se encaixarem muito bem no "cânone do gênero", como John Cage, que comparece com os "25 Mesostics Re and Not Re Mark Tobey" e seu "Writing through The Cantos"; Jackson Mac Low com vários de seus poemas compostos por chance operations; Jack Spicer, com algumas de suas Imaginary Elegies e ainda textos dos "Morphemics" and "Phonemics"; Hannah Weiner, com trechos de seu Clairvoyant Journal; David Antin com um de seus "talk poems" completo ("a private occasion in a public place"); e ainda Susan Howe, Rosmarie Waldrop, Nathaniel Mackey, Lyn Hejinian, Mei-mei Berssenbrugge ou figuras mais conhecidas como romancistas, como Charles Bukowski e Dennis Cooper.

Antes de ir visitar meu amigo Jonas Lieder, cujas tonsilas haviam adquirido tamanho e cor de bolas de baseball, passo pela livraria inglesa, onde compro um livro de ensaios de Susan Sontag e o livro de Thurston Moore e Byron Coley sobre o No Wave pós-punk nova-iorquino do período 1976 - 1980. Alugo dois filmes estrelados por Bette Davis para distrair-me com Jonas no estômago da baleia e o resto do dia soa algo assim como velhas canções de DNA.




Um comentário:

nora disse...

Domeneck, não muito frio para vc não. Se vc soubesse como não vejo a hora deste computador ser mais rápido para eu poder infiltrar-me totalmente em suas postagens !!!
Fico contente pela antologia, vc deve ter ficado hiper feliz !! O bom é q a gente se sente passeando com vc ai tbem.
Será q não vai nada lá para a próxima Modo?
Te agradecendo todas as suas as palavras, e gentileza.
Não sei como dizer isto, mas te acho MUITO legal .

bjs nora

Arquivo do blog