quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Poeminha recentíssimo, bem cheio de adjetivos, mas porque foram necessários, queridos, sem querer irritar os concisos com siso

O acordeonista da Catedral de Bruxelas

De Bruxelas eu
esperava tudo, talvez
a reprise
do que ali já vivera,
uma noite ao lado
de Jey Crisfar,
chuva e cansaço,
conversas com taxistas
e árabes, mas não
este acordeonista
loiro de 20 anos
diante da Catedral,
sim, a de Bruxelas,
acordeonista loiro e imberbe,
alto e imundo,
a quem doei 2 euros
num excitativo segundo de tacto
entre sua mão e meus dedos fechados
abrindo-se em bojo sobre sua palma,
após fazer com a visão
o rodízio contemplativo e luxurioso,
alternando o foco dos olhos
entre a catedral imberbe e loira
e o acordeonista alto e imundo,
a quem ensaiei, por 20 minutos
que mais pareceram seus 20 anos,
perguntar seu nome, quiçá filmá-lo
com a câmera que deixara
no Berlimbo,
ou imaginá-lo fotografado em série
por Adelaide Ivánova,
Heinz Peter Knes
ou qualquer fotógrafo
íntimo que me cedesse
os direitos autorais
desta imagem loira,
imunda,
para que eu de alguma forma
possuísse
este acordeonista imberbe e alto
em seus 20 anos,
a quem então batizo
em minhas glândulas
e passarei a chamar de Loïc
ou quem sabe Guillaume
pelo resto dos meus dias
após falhar em criar os colhões
de pedir seu nome,
e é assim, sr. Loïc ou Guillaume
aos 20 anos imundo e acordeonista,
que a você eu dedico
diante da alta e imberbe
Catedral de Bruxelas,
estes 2 euros
e uma ereção.



Ricardo Domeneck. Bruxelas, 8 de outubro de 2010.

.
.
.

11 comentários:

ArielNeves disse...

Nossa, você consegue unir as palavras tão bem que me faz parar para ler seus poemas.
Muito interessante seu trabalho...
Beijos

Ricardo Domeneck disse...

Obrigado, Ariel. Agradeço a visita, a leitura, e a generosidade em dar este retorno. Qualquer poeta que disser que não precisa deste retorno está mentindo.

abraço

Domeneck

Sebastião Ribeiro disse...

GREAT!

vodca barata disse...

ric, este poema é uma foto e isso quer dizer muita coisa... posso vodcá-lo?

Anônimo disse...

Adorei o poema. FC

Érico Nogueira disse...

Grande poema... Olha: já te disseram que v. escreve bem? Bj. E.

Ricardo Domeneck disse...

Muito obrigado, meus caros. Que legal.

Ivi, pode vodcá-lo quanto quiser... eu agradeço!

beijos

Ricardo

Anônimo disse...

Lindo. Já imprimi e tasquei na cortiça! E como não podemos ficar distribuindo assim dois euros a cada coisa linda que passar, sob risco de cairmos em pobreza extrema, fica o critério: que a coisa linda pelo menos saiba tocar acordeon.

Beijos,
Carlito

Ricardo Domeneck disse...

Eita, Carlito,
e eu por aqui fiquei
com sua "Debra Wingers abandonada no deserto" marcada na cabeça!
Linda ratazana.
beijo grande
Ricardo

Lino disse...

Belo Poema Ricardo! Quero mais!! Leitor chato neh!!rsrs To lendo os antigos e adorando!! Abraço!

Ricardo Domeneck disse...

Obrigado, Lino.
Que legal que você está curtindo os recentes e os antigos.
abraço
Ricardo

Arquivo do blog