terça-feira, 31 de maio de 2011

Poema recente de Angélica Freitas




Para as minhas calças
Angélica Freitas


Queridas calças, agora
rasgadas nas coxas
(dois rasgos horizontais
do uso intenso)
creio não mais precisar
de seus serviços, portanto
as aposento e agradeço.
Mas não sem antes cantar
a alegria que foi andar
por vocês vestida
e a sorte de não precisar
usar vestidos.
Com vocês passeei
por Lisboa, Madri e
Paris; sentei
nos jardins do palácio
em Fontainebleau.
O tecido macio
e generoso, que suportou
meu aumento de peso,
esgarçou pouco
no início, mas só
em dois anos cedeu.
O corte me permitiu
fazer poses de balé
nos jardins do palácio.
A cor, entre o verde
e o marrom,
disfarçava sujeiras.
Nos seus bolsos
guardei poemas,
recibos de supermercado,
tickets do metrô.
Perfeitas para
pernas e passeios,
descansem.
Tive outras calças,
mas vocês foram
as preferidas.
Queridos sapatos,
caso leiam esta elegia:



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Um comentário:

Anônimo disse...

Me ha encantado este poema. Lo que me gusta de Freitas es que es capaz de ver poesía en las cosas más cotidianas, y siempre desde una cierta ironía suave y sin amargura, sin solemnidad pero con lirismo.
So ein Gedicht hilft mir wirklich durch den Tag... bei der Lektüre musste ich wirklich schmunzeln.

Ich kann es mir nicht verkneifen, einen kleinen poetischen Dialog an dieser Stelle vorzuschlagen:

Claudio Rodríguez "A mi ropa tendida (El alma)"

"...¡Ved mi ropa,/ mi aposento de par en par! ¡Adentro con todo el aire y todo el cielo encima!"

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