terça-feira, 27 de setembro de 2011

Retorno de Portugal com os primeiros sintomas de uma nova obsessão: Maria Gabriela Llansol

Voltei hoje a Berlim, depois de uma passagem muito boa por Portugal, minha primeira vez, com leituras/performances em Lisboa e Porto. Muitos livros na mala. Há muito o que contar, muitas ideias, leituras e encontros, mas, por ora, comento apenas estar passando pelos primeiros sintomas do que certamente se tornará uma nova obsessão - pela escritora portuguesa MARIA GABRIELA LLANSOL (1935 - 2008).

Já havia lido referências a ela aqui e acolá, mas foi uma conversa em Lisboa com a poeta cearense Érica Zíngano que me fez percorrer os alfarrabistas (sebos) do Porto até encontrar um livro da autora, que morreu há poucos anos. Encontrei o estranho e maravilhoso Um Falcão no Punho (1985), que comecei a ler na mesma noite e está me absorvendo por completo. A última vez que me lembro de ter sentido isso foi quando descobri Hilda Hilst, há mais de uma década.

Este livro, que se constrói e descontrói a forma do diário, lançando-se nas águas das expectativas de gênero (GENRE/GENDER), é ficção e construção de realidade, não sei ainda o que dizer, estou absorto e acabei de entrar no universo de Maria Gabriela Llansol.

Deixo vocês com uma página do livro:


Herbais, 26 de julho de 1981

Relativamente a nós, o meu corpo foge, e parece que, só, desço um rio, e faço um exame atento do seu leito. Este não foi, no entanto, o princípio fidedigno dos meus pensamentos, hoje. O que me ocorreu é que o meu corpo foge de mim e que, um ou outro, deslizam sem protecção, para o interior de uma obra; ninguém pode deter-se de permeio deveria também ter dito que sou submetida à prova de uma cosmogonia, e que leio, com paixão, textos do mundo medieval. Em concomitância, convirjo para Spinoza.

Idade Média:
Quando ler um texto era comentá-lo..., a ideia de que um texto é para bom uso, faz-me evocar o meu próprio corpo, e a sensualidade do entendimento. Abelardo dava o seguinte conselho: "aprende durante muito tempo, ensina tarde, e somente o que julgares valer a pena. Quanto a escrever, não te apresses".

Estarei no momento em que me desvio para aprofundar a confusão de uma experiência, do prazer carnal? Não me dou conta de que, como a lectio, sou um ser livre, solto na dependência, e na obscuridade.



§

Página de Um Falcão no Punho (1985), de Maria Gabriela Llansol (1935 - 2008). E o obsessão enraíza-se e lança aos altos seus galhos.


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Um comentário:

Gabriela Galvão disse...

Palpito, mudo a respiração só de ver o nome dela.

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