Ao chegar a meu apartamento depois de um encontro tão difícil, sabia que não podia escutar "Pedaço de mim" ou "Trocando em miúdos", de Chico Buarque; também sabia que nem podia chegar perto de "Feelings" na voz de Nina Simone; não podia sequer cantarolar "Rising" da Lhasa de Sela; muito menos cair na besteira de assoviar "Ne me quitte pas", imaginando-me uma Maysa em frangalhos; não, seria o abismo. Então pensei: "Cais", "Cais", "Cais", com aquele texto luminoso e cheio da coragem da lucidez viva, aquele pedregulho de simplicidade de Ronaldo Bastos; pensei imediatamente na interpretação maravilhosa de Elis Regina e ainda noutra de Nana Caymmi com o próprio Milton Nascimento, que musicou e tão justamente vocalizou o texto, sabia que era este poema que me mostraria o caminho daquela sensação que rima com "Cais".
CaisRonaldo Bastos
Para quem quer Se soltar Invento o caisInvento mais Que a solidão me dáInvento lua nova A clarearInvento o amor E sei a dor De encontrarEu queria ser felizInvento o marInvento em mim O sonhadorPara quem quer Me seguir Eu quero maisTenho o caminho Do que sempre quisE um saveiro pronto Pra partirInvento o caisE sei a vez De me lançar
3 comentários:
Esse é de tirar o fôlego. Abração.
Abraço, Sahea. Esse me dá o fôlego de volta, na verdade. Mas sei o que você quer dizer.
ronaldo bastos, tesouro niteroiense.
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