(fotografia: Adelaide Ivánova)
Extrato de sardas
Ele
chega
sempre com
nada
mais
que seu corpo,
alto, rijo e magro,
o
qual tira de dentro
de
roupas e
mostra
seus
pelos loiros,
negros,
castanhos,
ruivos,
ou tão-só
ausentes,
e exibe
o
seu orgulho
ereto
e perpétuo.
Eu o recebo
como o projeto
urbanístico
de Brasília recebe
o céu do cerrado.
Eu plano, ele pilota.
Eu o recebo
como o projeto
urbanístico
de Brasília recebe
o céu do cerrado.
Eu plano, ele pilota.
Não
sabe conversar,
apenas
convergir,
não
possui discursos
além
do descorçoo,
não
sabe debater
senão
como verbo
reflexivo.
Minha
juventude
acabou
enfim,
rest
in peace,
mas
como esta
que
ele esbanja
parece
perene,
renovável, eterna.
É
certo, pensa
que
Wittgenstein,
Huizinga, Agamben,
Fustel de Coulanges
são
marcas de remédio,
diz
que meus filmes
em
preto e branco
são
só-tão soníferos,
e se na casa soam
gravações de Arnaut,
Bertran ou Marcabru,
pergunta se é o caso
de minha conversão
a uma seita New Age.
Uc de la Bacalaria?
Ele não come peixe.
Mas
deita-se manso
quando
quer
ou
feroz se convém
e
chega a hora
de
tocaia e estocada,
e
nisso nunca falha
o
seu instinto imberbe
nas
termas do
contexto.
Não
me basta a leitura
de
Estratão de Sardes
se
insistem em proibir
a
vasão do meu corpo
introvertido
ao avesso
nesse extrato de
sardas.
Se vigoram os textos
de Konstantínos Kaváfis
em minha mente
e outras glândulas
é porque tenho dedos
a cavar fios nos côncavos
e convexos de corpos
mui alexandrinamente.
Nem vão me saciar só
poemas de Frank O´Hara
sem poder ser franco
e dizer: "esse é o cara!,
é com esse que eu vou,
agora, e agora, e agora."
Nem vão me saciar só
poemas de Frank O´Hara
sem poder ser franco
e dizer: "esse é o cara!,
é com esse que eu vou,
agora, e agora, e agora."
Por
que, ora, esperar
mais
que a dádiva
de
sermos ao menos
por
alguns minutos
erastés
e erômenos
na
acrópole-e-abismo
dessa
ativa e passiva
gangorra
da
Musa Puerilis?
Entre
e fique, menino.
A
casa não é minha
mas,
como sói
ser,
sua.
.
.
.
Um comentário:
Domeneck,
Que bela poesia, encontrei-a por aí e entre tantas outras aqui acabei me inspirando. Meus deditos ficaram enérgicos e saiu isso: http://procurando-violet.blogspot.com.br/2013/08/nem-maestria-nem-burguesia-nem.html
Obrigada pela sua poesia. É sempre bom encontrar maravilhas como essa nesse vasto mundo virtual.
Abraço.
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