segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Outros poemas de Rubens Akira Kuana

Rubens Akira Kuana nasceu em Videira, Santa Catarina, em 1992. 
Atualmente, reside em Curitiba, Paraná, onde estuda arquitetura e urbanismo.




velozes e furiosos 7

não é de toda
força ou modéstia
que se faz uma canoa

você encontra
uma canoa e deseja
rebaixá-la
levá-la junto com sua família
adotiva

this is brazil

escuta em um trailer
após o jogo
condecorativo
hoje
a floresta Amazônica
está pronta

para receber eventos
deste porte
uma proliferação
de agências de turismo
mosquitos
mordaças

sua família está a salvo
sua reputação está a salvo
seu investimento está a salvo

this is brazil

você cria um alter ego
silvio santos
explode cais e banco
com as mãos atadas
tira a camisa e resgata

o ritual
uma aldeia
o clube inteiro

compartilha

porque todo homem é um totem

pela safra seguinte
já constrói canoas
penhora-as e reclama
o reembolso

estes remos não remam
estes jeans encolhem
rápido, melhor
cultivar algodão transgênico
exigir cosméticos
mercenários
1, 2, 3
mas oi

peguem logo
os seus malditos macacos

this is brazil

cadê dinheiro


§

esvaziar o freezer jogar tetris cair

porque eu ainda não sei se o reflexo
que eu faço
sobre a pia
é a síntese das minhas costas
ou do hábito noturno talvez
não é o meu
olha
dentro da boca
o cotovelo caberia
se alcançasse
o seu queixo
deitado
é a espera
entre um charco e outro
nunca houve uma superfície inteira
que pudesse esperar
pelas minhas pernas
por favor
estão distantes demais
eu nunca vi neve na minha vida
e sinto que estou perdendo

tudo que não gravei em MP3 
quando os calcanhares se tocam
também
em horas ímpares
eu estou perdendo

fôlego acima de tudo

porque acima de tudo eu separei
um curso d'água 

até a calçada e de volta
até a sua

§

capotagens

a curva que você repete está indisponível
quando eu me jogo da varanda
direto para o sofá
é o ponto de apoio que eu pondero
é a pronúncia dos efes
f aquilo
f ábaco
f uma vertigem

f aquilo

agora podemos conversar sobre a estante
o ângulo que ela faz com os litros
de leite na sua mão esquerda
aproveitam para exclamar 
um F5 um tanto
autoritário

há uma única estação que nos impede
não foi feita para contornar
não foi feita conosco

a curva que você faz

quando está em pedaços

é mais curva do que o necessário

§

acidentes domésticos envolvendo toalha

o mistério ainda é maior
quando a descamação completa
eu me fecho

a porta da lavanderia
 completa
bato três vezes mais

fica mais fácil te explicar
o porquê das cortinas
estarem todas no chão

é que eu esqueci 

o salto dos sapatos
os noticiários esportivos
argumentavam
Borges era bulímico e não sabia
minha genealogia
o remédio

são as opções
quando eu jogo um pano de prato em cima

quando eu jogo um pano de prato
o mistério ainda é maior

em cima

da minha última carta de amor
restou uma passagem não-autobiográfica
é a primeira que eu levaria 
caso alguém consertasse o gelo
e aceitasse o troco
com amor até

logo muito
obrigado sinceramente
por favor


§

Gertrude Stein tinha um cão eu tenho dois

a notícia do cerco ao átrio
me convalesceu imensamente
porque eu pensei que todas as pessoas
ou pelo menos as pessoas
que eu adiciono
em uma escada
conheceriam o repertório completo

em uma escala

cada grito contra os outdoors
foram o que sobrepôs
o sangue

foi o sangue de uma pomba

o que me cercou

são projetos de vida
lacunas na minha pele 

indicam a direção

onde a notícia torna-se amena

será sangue
será inútil
será um

§

coincidências histéricas

eu quis comer a terra
que o seu pé esquerdo não possui
eu quis comer a terra
que o seu pé ainda não possui
eu ainda quis comer terra
apesar da sua cintura
ser ligeiramente menor
que o meu campo de visão
porque o meu campo de visão
é uma gangorra

.
.
.

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