Reuben da Cunha Rocha, ou cavaloDADA, ou o xamazenexu da poesia nata nos 80
Primeiro ouvi falar do senhor Cunha da Rocha por Fabiano Calixto, que recomendava publicarmos poemas do maranhense na Modo de Usar & Co. impressa. Eu poderia usar o atalho agora e dizer apenas: "O resto é História", pois desde então o xamazenexu (não procure no dicionário, pus as palavras na valise agora) da poesia nata nos 80 se tornou um dos maiores colaboradores da revista, com inúmeros artigos sobre poetas brasileiros, como Celso Borges (São Luís do Maranhão, 1959) e Cátia de França (João Pessoa, 1947), e traduções de estrangeiros como Allen Ginsberg (1926-1997), e.e. cummings (1893-1962) e Linton Kwesi Johnson (n. 1952).
No terceiro número impresso da revista, publicamos seu ensaio "Poesia inútil, poesia irrelevante?", fundamental para quem pensa hoje a poesia contemporânea e já disponível na franquia eletrônica. Vários poemas seus podem ser lidos por lá, assim como os artigos e traduções. Publico aqui, nesta série dedicada à poesia-nata-nos-80, dois poemas recentes do xamazenexu da década.
DOIS POEMAS RECENTES DE REUBEN DA CUNHA ROCHA (São Luís do Maranhão, 1984)
Reuben da Cunha Rocha / cavaloDADA : "Apokalypse Nau" (2014)§
LOGO ACIMA DO SILÊNCIO DO ÍNDIO Q SE SUICIDA
o enforcado sonha em disparada desta atmosfera pesada p/ outros mistérios + esferas
logo acima
dos abacates suspensos podres 1tupi akira
vara a febre do mosquito galopa aflito p/1lugar longínquo + escapa
às tentativas de assassinato
vista multidimensional do universo
amplo ataque do enxame sobre o exército
dura a pedra dura a pétala dura o bicho cada qual cada vez cada séc.
é o arroto do raio o trovão na imaginação do cego
depósitos de mão
de obra pobre
p/ as impraticáveis
monoculturas currais + covas
chamadas de reservas
o país q em favor do capital opera criminosamente a transferência brutal de indígenas terras
a homens rudes c/ rostos ocultos sem qqr relação c/ elas
gira o sumo no seio da panela morde a língua entre toras de palmito nasce o fogo q nasce do atrito enqto aspiram os seus cachimbos magníficos nova forma de banzo embalada pela nau do desdém LIMITE DE EMBARQ: 1100
papo rente nas vielas tortuosas nas cabeças nas rasantes calçadas talagadas entraves + tragadas ferve o sumo nas veias transtornadas
sem convívio
sobrevoa o continente o vestígio
d1 animal q achava q era gente espíritos nativos represados fantasmas samurais entre os guarani-kaiowás a curva ascendente dos casos de suicídio
tendência > 20x +
q entre os cidadãos brasileiros doutras classes sociais
ouve o rio
q ñ tem direção + q ñ anda a esmo
1000caminhos
entre a carne + o esqueleto corre o sangue avoado círculo ambíguo pragmático crespo lácteo mel ígneo magnético moro no olho q espelha 1velho espírito íntimo casa rua raiz campo fértil
microrganismo incisivo ligado respirando fundo + pelo mundo respirado 1calângo jubiloso + lânguido ágil réptil respirando fundo + indo à toda pela deslizante dentição da roda fétida
24h x 7
a mente vegetal prepara lenta a réplica
lépido radiante assalto à serra elétrica
p/ além do esgotamento q provém da ganância
suavidade p/ extirpar o veneno da vingança
nas entocas nas ferrugens do progresso
vai prudente
+ ñ se esquece
q a experiência é o +astuto mestre
+ a trilha longa em q caminha a luz dos corpos celestes
+ q só vamos saber o q é suficiente qdo soubermos o q é + q suficiente
na curva da cobra nos cornos do touro no couro
do tigre na pata
do elefante
percepções sutis na sombra de 1sutil caminhante
q desapareceu pq era agricultor + 1guardinha o confiscou = 1vil transeunte
relato q ele ouviu d1 pescador
da planta q depois do sol se pôr o ajudava a ver o mar brilhante
a vaga vaza + vai entre a enchente + a vazante
verdades estão além das certezas violência se vence c/ delicadeza equilibrismo dos pés em convictos barbantes grosseiros o sol calmo centro dentro vagueia atenção plena + inteira na linha descontínua d1 flecha fina q dissipa a espessa púrpura neblina + se dissemina c/ o coração à frente do caminho 1vivente insiste se afina no instante + amanhece
sem pino sem trava
sem tolice
Nenhum comentário:
Postar um comentário