Reuben da Cunha Rocha é um poeta, artista visual e crítico brasileiro, nascido em São Luís do Maranhão a 28 de junho de 1984. Também assina
cavaloDADA. Publicou o ensaio "Ficção-Verdade: fronteira semiótica na montagem narrativa de Valêncio Xavier", traduziu poetas norte-americanos como Allen Ginsberg, Bill Knott e Richard Brautigan, e colaborou textualmente com os xilógrafos Ana Calzavara e Fabrício Lopez no álbum
Miragem no olho aceso (2013).
Texto de Reuben da Cunha Rocha/cavaloDADA em Miragem no olho aceso (2013).
Em 2012, apresentou-se em Nottingham, Inglaterra, com a performance CAIXAPREGO na Backlit Gallery, durante o World Event Young Artists.
Reuben da Cunha Rocha / cavaloDADA - "CAIXAPREGO" -
em apresentação na Backlit Gallery,
Nottingham, Inglaterra, 2012.
Trabalha também com poesia visual, exemplo da qual seria sua série de "pixo transmídia", publicada na revista randomia.
Reuben da Cunha Rocha / cavaloDADA - "pixo transmídia"
Reuben da Cunha Rocha, ou cavaloDADA, vive e trabalha em São Paulo, onde coedita a revista randomia e colabora com diversas outras publicações, entre elas a Modo de Usar & Co., para sorte de todos nós. O quarto número impresso da nossa revista, lançado no mês passado, traz dois poemas inéditos do autor.
POEMAS DE REUBEN DA CUNHA ROCHA (cavaloDADA)
Praça do Sol às 3 da tarde
risca o fósforo do incendiário
Praça do Sol às 3 da tarde
abre as narinas p/ o fedor dos muros
Praça do Sol às 3 da tarde
esconde a senha dos holocaustos
Praça do Sol às 3 da tarde
enerva cada coração covarde
Praça do Sol às 3 da tarde
aponta os mísseis à glória
Praça do Sol às 3 da tarde
depila as tuas rameiras
Praça do Sol às 3 da tarde
apascenta teus ambulantes
Praça do Sol às 3 da tarde
despista o fumo dos policiais
Praça do Sol às 3 da tarde
oculta o raio do cego
Praça do Sol às 3 da tarde
acode o baque das ondas
Praça do Sol às 3 da tarde
distrai o tédio do pipoqueiro
Praça do Sol às 3 da tarde
loas ao biquíni túrgido
Praça do Sol às 3 da tarde
acorda a renca dos ventos
Praça do Sol às 3 da tarde
diz a gíria do guardador de carros
Praça do Sol às 3 da tarde
toma gosto c/ as empregadas
Praça do Sol às 3 da tarde
pendura a nuvem nos galhos
Praça do Sol às 3 da tarde
trocados ao vendedor de coco
Praça do Sol às 3 da tarde
ouvido ao reggae das bacantes
Praça do Sol às 3 da tarde
Praça do Sol às 3 da tarde
Praça do Sol às 3 da tarde
devora a muvuca das gentes
cede teus bancos às fodas
legisla a rixa dos traficantes
senhora injuriada das trapaças
abre tuas pernas p/ os pivetes
engole o mijo da criança
§
perde os sapatos quando falo
esquece os sapatos
desfaz o embrulho do laço
tem 1atalho q dá na tua estrela
reviro os olhos no voo da abelha
aceso, teu nome
na cinza do skank
acolhe a saudade
nossa pena doce
minha febre é 1ataque de cócegas
o fofão q brinca c/ a criança
decifro antes de entender teu jeito
desse jeito tu dança
veloz e livre igual 1grilo
feliz e leve sou a terra toda
pequena cavalo do som
esquece os sapatos quando falo
perde os sapatos
desfaz o caroço do cadarço
§
Reuben da Cunha Rocha / cavaloDADA - "pixo transmídia" 
§
teu cabelo de espuma
sol cabeça de coruja
estou pesado como as ondas
tua cabeleira no azul
é a segunda vez
q dás o ar da graça
a primeira: pássaro
em pleno pouso
no braço do vento
adubando o som no bar
dos maconheiros
a segunda:
o rosto desfeito
em luz difusa
revoltas o ego
n1 espasmo
dissipas o ego
governado
pelo medo
§
vem o cheiro da chuva: passa
o rasta faz sinal: o céu desaba
dispersa o baculejo na zona
o astronauta atravessa
a rua: pousa e passa
na raiz da árvore: ñ recua
da experiência mundo
se despega da perda: entra
noutra história
(in Miragem no olho aceso)
§
cavaloDADA + Tazio Zambi - "z de zero" (2013)
§
A professora ensina a empalhar
personagens
operações universais, aplicáveis
ao trabalho de cada 1 dos presentes
A professora ñ acerta
ñ tem certeza
se me conhece doutro lugar
Quem dera estar
noutro lugar, quem dera enforcá-la
c/ a palavra corpus, usar
os dentes dela p/ triturar
a palavra objeto
Nada q vale a pena de ser lido
pode estar contido
na palavra objeto
quando 1texto está de pé
ñ vem c/ essa
São assim (p/ ficar nos gêneros clássicos)
a desobediência e o assalto a banco
Ó feiura estatística, sem amor
ou música das estudantes de Letras
acabadas feito Obras Completas
§
José
Agrippino de Paula
salta
bem em cima
d1
texto em progresso. Solta
pelos
nas teclas
amassadas do teclado
do computador
em
branco
Éguas,
Agrippino!
assim
seremos 2 a ficar carecas
digo
p/ o gato
enquanto noto
meu próprio
pelo tomar conta
do ladrilho
branco
Noutro tempo
tínhamos
1gato
mas
ñ se chamava
assim, José
Agrippino
de Paula
, era a invenção
d1 poeta inglês
1q sempre desaparecia
à hora q queria
deixando p/ trás
pouco mais
q 1sorriso
Levanto
d1 txt em progresso
p/ abrir a janela
O
vento, tlvz
1enciumado
poeta inglês
arrasta
p/ si
nossos
pelos e antes
q eu possa checar
se ñ terá levado
também
as palavras
q abri na tela, tu
abre
a porta
de casa,
sacolas
nos braços
a sombra
sozinha
da nuvem
ilhada
no
meio da água
§
TELEGRAMAS
DA L.A.I.A.
1FABRICANTE
DE PIANOS (SCHMIDT, DE ESTRASBURGO) CONSTRUIU A 1aGUILHOTINA.
“SE ALGO EXISTE DE CERTO
NESSA VIDA, SE A HISTÓRIA NOS ENSINA ALGUMA COISA, É Q SE PODE
MATAR QQR1”. CUIDADO
C/ O TRUQUE DO ELOGIO COMO FORMA DE CONVENCIMENTO
MESMO C/
3DIAS DE ATRASO, A LEITURA DO JORNAL PERMANECE DESINTERESSANTE.
LEGALIZE
A FRUTA Q LAMBUZA. ABAIXO
A CÓPIA AUTENTICADA. (TODO
MUNDO SABE Q) A VIAGEM NO TEMPO ESTÁ COMPROVADA PELA PRESENÇA
MACIÇA DE CABEÇAS DO SÉCULO RETRASADO NESTE
A
TERRA É 1TAPETE VOADOR.
1CABEÇA Q CONVERSA É COMO 1UNIVERSO. O
TELEJORNALISMO NOS DÁ VONTADE DE BATER C/ AS CABEÇAS NA PAREDE (Ñ
AS NOSSAS CABEÇAS). E Ñ
ADIANTA ALIVIAR C/ A TELENOVELA
A ÚNICA
COISA PIOR Q 1GOVERNO É 1GOVERNISTA.
O
POLÍTICO CONSERVADOR PODERIA SE INSPIRAR NO ARTISTA CONSERVADOR E AO
MENOS SE TORNAR INOFENSIVO.
LEGALIZE O SOL ANTES
DAS SEIS
NA
CLASSIFICAÇÃO GERAL DE TUDO O Q É TRISTE
O
PENSAMENTO POBRE PERDE
P/
O PENSAMENTO CONVENIENTE
(in As
aventuras de cavaloDada em + realidades q canais de tv)
§
TESTE DE
INDETERMINAÇÃO INDUZIDA
materiais:
luz, ônibus, paisagem
dentro d1
ônibus, c/ destinação variável, posicione-se ao sol. A
preferência é por horários em q a incidência de luz favoreça a
formação de sombras a partir do exterior do veículo e por durações
amplas, c/ razoável transformação de paisagem. (Desaconselha-se o
verão.) Trânsito fluido (se ñ livre) facilita a experiência.
Casas, prédios sem nenhuma coerência arquitetônica, árvores c/
folhagem de densidade variável, túneis, aviões e outras naves,
nuvens, são voluntariamente derretidos durante o trajeto n1 único
filtro de luz sobre a superfície dos corpos dentro do ônibus. A
ambiência (grande tubo de metal, pneus dando esparro) dá 1ideia de
caleidoscópio c/ pigarro, e a mutação das sombras destila suave
lisergia
materiais:
quadril, coxas, biblioteca
no interior
da biblioteca, durante a leitura, prossiga n1a boa enquanto aguarda,
sentado. A bateria de samba se posiciona no espaço contíguo à
biblioteca (ou seja) no verso d1a parede próxima, q no modelo
utilizado acompanha vasta área livre. A qqr momento a bateria dá
início à música (q estimula quadril e coxas). Certifique-se de ñ
fazer nada. Siga resolutamente a leitura, permitindo a quadril e
coxas q pensem por si mesmos, estimulados pela dinâmica das
vibrações. Em pouco tempo (espontaneamente) o corpo se empenha em
mil posições na cadeira ocupada, beneficiando postura, respiração
e humor
materiais:
alimento sólido, caixa craniana
durante a
explicação, mastigue. O tema discutido ñ altera o experimento,
pois seu verdadeiro conteúdo é o desejo de ñ estar ali. “Ali”
designa espaços variados: sala de aula, debate, reunião,
importantes discursos. Importante também o conteúdo q se leva à
boca, dando-se preferência aos crocantes, q amplificam a ação
acústica produzida por maxilar, dentes e ouvido interno. (A depender
do alimento escolhido recomenda-se acompanhamento médico.) O crânio
desempenha o papel de caixa ressonante p/ seu portador (de efeito
imperceptível p/ os circundantes) e solapa a fala externa
(in As
aventuras de cavaloDada em + realidades q canais de tv)
§
Autorretrato enquanto retirante
p/ essa cidade
eu vim trazer
preguiça
gíria lânguida
“ñ perturbe”
no pórtico,
contrabando
pelo andar
da minha
rua (onde no
início a banca
de revistas
fechava qdo
muito aos
feriados
e hj ñ abre
+ p/ nada)
parece quase
certo q anda
tudo rente
ao plano
exceto claro
pelo amor
elétrico q
lanço a essa
zona
ambivalente
cidade
anômala
lépido
o amor q lhe
dedico
quase encalça
a pressa c/ q
me aplico
nos jornais
aos títulos
às listas
de 10+
e aos
retrospectos
de final
de ano
(Publicado originalmente aqui na franquia eletrônica da
Modo de Usar & Co., na
série de inéditos).
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