quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Minha caneta para "Charlie Hebdo"

© Jean Jullien


Nem gritos de ordem, nem
Ocidente versus Oriente.
Não cantarei a Marseillaise.
Sei não se isso, em risco.
O que comove são penas,
hoje canetas, em riste.
Mas guardando silêncio,
silêncio de palavra escrita.
Non, je ne suis pas Charlie.
Acordei, hoje. Bebi, comi.
O coração ainda bombeia
o sangue, que me irriga
enquanto o deles os salpica.
Kaváfis disse: Alexandria?
Saúda-a em plena perda.
Mas cada vez mais difícil
saber o que possuímos.
Europeu, eu? Ou patriota?
Fodam-se idiotez, Pegida.
Como escreveu Al-Ma'arri,
sempre algum novíssimo
conto de fadas no púlpito.
República? Meus amigos.
Se em perigo a Ucrânia,
sempre penso em Andriy.
Com as notícias em Paris,
"estará bem meu Antoine?"
Para mim, é Murad o Islã,
ele, que tem cinco filhos
na Turquia, por eles vende
seus quebabes na esquina.
Eu digo: "Salam, Murad."
"Wa alaykumu s-salam,"
ele diz, "Papa Francisco."
São estes os contatos,
os primeiros em risco.

--- Ricardo Domeneck, 8 de janeiro de 2015.

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