terça-feira, 19 de agosto de 2008

Giuseppe Ungaretti (1888 - 1970)


(Giuseppe Ungaretti lê seu poema "Inno alla morte", do livro Sentimento del tempo)

Inno alla morte

Amore, mio giovine emblema,
Tornato a dorare la terra,
Diffuso entro il giorno rupestre,
É l'ultima volta che miro
(Appiè del botro, d'irruenti
Acque sontuoso, d'antri
Funesto) la scia di luce
Che pari alla tortora lamentosa
Sull'erba svagata si turba.

Amore, salute lucente,
Mi pesano gli anni venturi.


Abbandonata la mazza fedele,
Scivolerò nell'acqua buia
Senza rimpianto.

Morte, arido fiume...

Immemore sorella, morte,
L'uguale mi farai del sogno
Baciandomi.

Avrò il tuo passo,
Andrò senza lasciare impronta.

Mi darai il cuore immobile
D'un iddio, sarò innocente,
Non avrò più pensieri nè bontà.

Colla mente murata,
Cogli occhi caduti in oblio,

Farò da guida alla felicità.

(1925)


HINO À MORTE

Amor, meu emblema de jovem,
Que volta a dourar a terra,
Difuso no dia rupestre,
É a última vez que contemplo
(Ao pé deste barranco, de impetuosas
águas, suntuoso, funesto
De antros) o rastro de luz
Que, como a lastimosa rolinha
Inquieta, meandra no gramado.

Amor, salvação fulgurosa,
Pesam-me os anos do porvir.

Largado o bastão fiel,
Resvalarei para a água sombria
Sem um queixume.

Morte, árido rio ...

Imêmore irmã, morte,
Igual ao sonho me farás
Beijando-me.

Terei teu mesmo passo,
Irei sem deixar traço.

Tu me darás o coração indiferente
De um deus, serei inocente,
Sem pensamentos, nem cuidados.

Com a mente murada,
Com os olhos caídos em esquecimento,
Far-me-ei guia da felicidade.

Tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti


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(Pier Paolo Pasolini em conversa com Giuseppe Ungaretti)

2 comentários:

marcelo sahea disse...

Mas que beleza, Ricardo! Gratíssimo! Ungaretti é sempre bom.

Ricardo Domeneck disse...

Grande Sahea! Obrigado pela visita, cara. Este vídeo é espetacular, fiquei catatônico quando o vi pela primeira vez. Queria postá-lo há tempos, mas primeiro tive que contactar o tradutor Geraldo Holanda Cavalcanti, que gentilmente traduziu o poema para que eu o postasse na Modo de Usar & Co.
Nao havia sido traduzido ainda, nem por GHC, nem por Haroldo de Campos ou Aurora Bernardini. É incrível mesmo.
Espero que você esteja bem.
Beijo do
Ricardo

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