quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Uma instalação em Berlim de/com Adelaide Ivánova

Conheci Adelaide Ivánova em 2003, quando ambos buscamos moradia e asilo político-artístico-financeiro em uma casa da Vila Madalena, atrás do cemitério da Cardeal Arcoverde em São Paulo, que já chamávamos desde sua fundação wittgenstein/tautologicamente de O Sobrado, lugar que se tornaria o epicentro de nosso grupo de amigos entre 2001 e 2000-e-alguma-coisa. Era minha segunda passagem pel´O Sobrado, a primeira de A.I., que chamamos de Ivi entre os amigos. Em seu período de existência, passaram pel´O Sobrado, todos jovens, pobres e iniciantes: poetas, cineastas, atores, fotógrafos, teatrólogos, antropólogos, escritores, todos amigos ou, em alguns casos, ocasionalmente algo mais.

Há exatos 7 anos, no aniversário de Ivi (ou "a fotógrafa Adelaide Ivánova" para vocês), em agosto de 2003, organizei sua primeira "exposição" no próprio Sobrado. Fui seu primeiro, digamos, "curador". Ah! a autoimportância deliciosa e determinante de quando temos vinte-e-poucos anos. Todos tínhamos vinte-e-poucos anos. Parecia ser a idade a se ter naqueles tempos, como Gertrude Stein escreve com humor em sua Autobiography of Alice B. Toklas: there came the time when everyone was twentysix, it just seemed the right age to be at the time, ou algo assim... citar Gertrude Stein de memória é sempre bom. No texto sobre a mostra das fotos, que se perdeu nos dias e noites daquele Sobrado, eu falava sobre Imogen Cunningham, Nan Goldin, Wolfgang Tillmans, quando tudo o que eu queria e deveria dizer é que eu simplesmente gostava das fotos de Adelaide Ivánova. É que, como jovem poeta brasileiro escrevendo seu primeiro livro, o que viria a ser o Carta aos anfíbios, olhando ao redor e vendo apenas aqueles poetas mais velhos da década de 80 e 90 trans-historicamente flutuando em um limbo cor-de-rosa pós-utópico que não se sabia se em 1822 ou 1922 fingindo-se quase todos no deserto cabralino sendo muito concisos e incrivelmente entediantes e hiper universais, eu identifiquei-me imediatamente com aquelas fotos pessoais, expondo-se em intimidade pública, baseadas em um eu que não sabia se esconder, contextuais, DATADAS NO MELHOR SENTIDO DO TERMO. No único sentido do termo. Ah, Ivi, minha querida, eu também queria e quero escrever apenas poesia datada, datada... desde que a data seja a de hoje... sabemos que aquele que escreve para hoje será lido em 1000 anos, sabemos, nós sabemos que os que escrevem para daqui 1000 anos nem hoje serão lidos. Eu aprendi isso com Catulo, Wittgenstein, Clarice Lispector, Hilda Hilst, Frank O´Hara. Acho que você aprendeu com Nan Goldin, Wolfgang Tillmans, também com Clarice, e outros?

Sete anos depois, na semana do aniversário de Ivi (ou "a fotógrafa Adelaide Ivánova" para vocês), ela apresenta hoje em nossa SHADE inc, na sala subterrânea que chamamos de Shadebox e onde artistas e DJs já apresentaram filmes, vídeos, DJ sets, instalações, Adelaide Ivánova apresenta sua instalação 100 Men, com uma peça sonora irritante-pungente minha, baseada, vejam só, em uma chanson da Edith Piaf. Especialmente quando apaixonados, nós gostamos de confundir de que lado da linha que separa o sublime e o cafona nós vivemos.

Hoje à noite, na SHADE inc, 18 de agosto de 2010, a instalação 100 Men, de Adelaide Ivánova, "projeção sobre lençol" (apropriadíssimo), com uma peça sonora deste que vos irrita.


FOTOS DE ADELAIDE IVÁNOVA
incluídas na instalação











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4 comentários:

Érico Nogueira disse...

Como freqüentador do Sobrado, eu tb. só posso sentir saudades... Falou e disse, meu amigo: eu assino embaixo. Bj. E.

Ricardo Domeneck disse...

Sim, Érico, muita, muita saudade.

beijo.

R

vodca barata disse...

sim, ricardo e erico, muita muita saudade. mas ao menos agora somos capazes de pagar nossas contas de luz!

beijos nos dois.

Dimitri BR disse...

entrando no côro de saudosos amorosos frequentadores d'O.

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