Poemas de António Barahona (Lisboa, 1939)
Cadáver esquisito heterodoxo com João Rodrigues no Café Gelo em 1961
Intimidade côr de bombazina
a cercar uma aranha de bambú
passa um polícia a cheirar a benzina
parte-se uma vidraça e surges tu
Sobrenadavam carpas na baía
um novo ritmo que vem de Las Vegas
daquele lado já nada se ouvia
quadrilha de gaivotas quase cegas
Por dentro era o som dum violino
por fora havia um vago marulhar
menos que nunca penso no destino
e bebo a tua sombra devagar.
§
No aniversário da diva
Passam por nós os anos, ígneos pássaros
apressados, e caem muitas penas
Passam por nós os anos: são cavalos
nervosos frente aos toiros nas arenas
Mas não envelhecemos sempre esperançados
na juventude eterna que não deixa marcas
Estamos marcados desde que nascemos,
transviados por onde não há estradas:
somente caminhadas sem sair de becos,
miragens de desertos nos confins das ilhas
Passam por nós os anos e só fica
um sulco que se fecha na memória em ferida
§
Calmaria
Clepsydra do Khalifa a lume da memória:
gotas d´água a cair no Poema Final
em um Livro pequeno, mas Grande Vitória,
de Camillo Pessanha, o Guerreiro Abismal.
E leio. E releio. E respiro vocal
este tempo medido em cascatas às cores,
em Flautas Incesssantes e em Barcos de Flores.
§
Remember
Lembro, em primeiro plano,
tua estatura de planta
e recomeço a esculpir-te
em miolo de pão, pétala a pétala.
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