Assim que as coisas se acalmarem, faço um relatório das viagens, mas agora segue a maratona em terras alemãs.
Cheguei de Dubai há poucas horas e, hoje à noite, participo do lançamento da antologia de poesia germânica e lusófona, na qual tenho poemas incluídos, assim como os brasileiros Angélica Freitas e Paulo Henriques Britto, portugueses como Pedro Sena Lino e Ana Luísa Amaral e alemães como Monika Rinck, Sabine Scho e Daniel Falb.
A antologia é fruto do Festival de Poesia de Berlim, que em 2008 dedicou-se à poesia em língua lusa; a leitura será no Literaturwerkstatt - mais info AAQQUUII -, e leio com os alemães Sabine Scho e Daniel Falb.
A antologia será lançada no Brasil pela Editora 34 e em Portugal pela Editora Sextante.
Mostrando postagens com marcador poesia européia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador poesia européia. Mostrar todas as postagens
terça-feira, 10 de março de 2009
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
Jovens poetas europeus: Damien Spleeters
Damien Spleeters é um jovem poeta belga, nascido na pequena vila de Montignies-sur-Sambre, em 1986. Publicou os volumes de poemas Amen (2005) e ouroboros (2008), o romance Transere (2006) e a peça de teatro La Prophétie (2008), todos lançados em Bruxelas, pela Maelström éditions. O poeta vive entre Bruxelas e Paris.
Conheci Damien Spleeters em 2006, quando recebi um convite para o festival organizado por sua editora, que ocorreria em Bruxelas em maio daquele ano. Com o convite, vieram alguns vídeos de poetas que participariam do evento. Entre eles, o vídeo de um poeta muito jovem, fazendo uma leitura que chamou minha atenção por sua ênfase na corporalidade da escrita e da performance. No vídeo, via-se apenas um jovem (muito bonito, diga-se de passagem) apresentar-se como Damien Spleeters, segurando uma máscara de oxigênio à boca, sem sabermos se a leitura já havia começado, se o poeta estava realmente doente, se aquilo tudo não passava de encenação e performance. Obcecado como sou pela busca da corpORALIDADE (usando a grafia de Ricardo Aleixo) do poeta, fascinei -me imediatamente pela criatura belga desconhecida.
Por coincidência, eu estaria na Bélgica no fim-de-semana do festival, pois havia sido convidado para apresentar-me como DJ em Antuérpia, e segui na manhã seguinte para Bruxelas, onde conheci Damien Spleeters. Desde então, mantivemos contato, troca de informações e organizamos uma leitura juntos em Berlim, em agosto de 2008, com a alemã Odile Kennel e a espanhola Sandra Santana.
Damien Spleeters alinha-se à tradição bárdica da poesia, a que foi mantida viva no pós-guerra por comunidades como a dos Beats americanos (Allen Ginsberg, Diane di Prima, Gregory Corso e os outros, mais ou menos conhecidos) , além de poetas que, se não se alinhavam exatamente ao bárdico, mantiveram a performance do poeta desperta, como o Grupo de Viena (Gerhard Rühm, Konrad Bayer, etc) ou os Lettristes parisienses. Na década de 70 alemã, havia Rolf Dieter Brinkmann e, hoje em dia, Michael Lentz e Nora Gomringer.
No início do século XX, estas preocupações foram reavivadas pelos poetas do Cabaret Voltaire (Hugo Ball, Tristan Tzara, Hans Arp) e outros poetas ligados à revista DADA, como Kurt Schwitters, religando-se a tradições negligenciadas pela história da literatura e o cânone de papel. Damien Spleeters pertence a uma tradição da poesia francófona que tem no trabalho do francês Serge Pey, por exemplo, um de seus representantes contemporâneos potentes. Aos 23 anos, Damien Spleeters é hoje um dos mais ativos poetas belgas jovens.
Para um brasileiro educado na poesia átona e tímida-em-performance de Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, ou mesmo entre aqueles que escreveram poemas-para-vozes, como Joaquim Cardozo, João Cabral de Melo Neto e Augusto de Campos, com nossa fobia pelo teatral-discursivo, é difícil compreender as escolhas de poetas como Damien Spleeters. Apesar de uma intercessão-pela-performance como a dos poetas da comunidade dos Tropicalistas (penso tanto em Caetano Veloso como em Torquato Neto), os poetas brasileiros mantiveram-se extremamente tímidos. Isto traz aos poetas brasileiros forças e fraquezas. Confesso que me intriga como o "país do carnaval" deixou de gerar uma tradição realmente forte e ampla de performance, seja entre "poetas" ou "artistas".
Apenas algumas das questões que o trabalho de jovens poetas como Damien Spleeters levanta na minha cachola.
Na semana que vem começa o festival Soirées Babel: OFF Festival, em Bruxelas, organizado por Spleeters, onde devo apresentar uma de minhas performances vídeo-textuais. Dividirei o palco com outros poetas que respeito, jovens europeus, aliados e cúmplices, como o catalão Eduard Escoffet, a americana/austríaca Ann Cotten e a alemã Monika Rinck.
§
POEMA DE DAMIEN SPLEETERS oralizado no vídeo acima:

(clique sobre a imagem para aumentá-la)
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
Inger Christensen (1935 - 2009)

Descobri o trabalho de Christensen apenas no ano passado, quando ela fez sua leitura na noite de abertura do Festival de Poesia de Berlim, a mesma noite em que Arnaldo Antunes fez a performance de encerramento. (Alguns dias depois, Angélica Freitas e eu leríamos com outros poetas lusófonos e germânicos). A leitura de Christensen foi tratada com reverência e só mais tarde percebi que se tratava de uma das mais respeitadas poetas européias do pós-guerra. Quando o diretor do festival apresentou-a, vi apenas uma naniquinha de velhice compacta erguer-se da cadeira e cambalear com seu vestido impecável e bolsa até o palco.
O trabalho mais conhecido de Inger Christensen é o poema-em-série/livro Alfabeto, de 1981, em que a poeta usa as letras do alfabeto, de A a N, e a chamada seqüência de Fibonacci para conduzir um dos mais belos poemas que li nos últimos tempos. Esta prática a encaixava na gaveta da "poesia experimental", ainda que as constrições formais de Christensen funcionem de forma bastante diferente do que vemos nos poetas dos grupos OuLiPo e L=A=N=G=U=A=G=E. Vale dizer que seu último trabalho importante foi um ciclo de sonetos.
Tenho pensado em como o Brasil está atrasado e faminto em termos de poetas traduzidos. Não me refiro sequer aos poetas mais obscuros, como Pierre Albert-Birot, Umberto Saba ou Jack Spicer. O país passa ao largo até mesmo do que no mundo poderia ser chamado de "estrelato da poesia", com aqueles nomes mais famosos. Mesmo poetas como Czeslaw Milosz, Derek Walcott e Joseph Brodsky, que foram "estrelas" da poesia do pós-guerra, não têm volumes de poemas traduzidos no Brasil. Hoje em dia, penso em poetas como o estadunidense John Ashbery, o russo Yevgeny Yevtushenko ou o esloveno Tomaž Šalamun, também pouquíssimo divulgados no Brasil.
Busquei algo de Inger Christensen em português, para poder postar aqui e na franquia eletrônica da Modo de Usar & Co. Nada encontrei. Não em português, pelo menos até agora.
O poema-em-série "Alfabeto", em dinamarquês, começa assim: "1. abrikostræerne findes, abrikostræerne findes / 2. bregnerne findes; og brombær, brombær / og brom findes; og brinten, brinten". Vai aqui o início do poema em inglês:
Alphabet
1
apricot trees exist, apricot trees exist
2
bracken exists; and blackberries, blackberries;
bromine exists; and hydrogen, hydrogen
3
cicadas exist; chicory, chromium,
citrus trees; cicadas exist;
cicadas, cedars, cypresses, the cerebellum
4
doves exist, dreamers, and dolls;
killers exist, and doves, and doves;
haze, dioxin, and days; days
exist, days and death; and poems
exist; poems, days, death
5
early fall exists; aftertaste, afterthought;
seclusion and angels exist;
widows and elk exist; every
detail exists; memory, memory's light;
afterglow exists; oaks, elms,
junipers, sameness, loneliness exist;
eider ducks, spiders, and vinegar
exist, and the future, the future
6
fisherbird herons exist, with their grey-blue arching
backs, with their black-feathered crests and their
bright-feathered tails they exist; in colonies
they exist, in the so-called Old World;
fish, too, exist, and ospreys, ptarmigans,
falcons, sweetgrass, and the fleeces of sheep;
fig trees and the products of fission exist;
errors exist, instrumental, systemic,
random; remote control exists, and birds;
and fruit trees exist, fruittherein the orchard where
apricot trees exist, apricot trees exist
in countries whose warmth will call forth the exact
colour of apricots in the flesh
7
given limits exist, streets, oblivion
and grass and gourds and goats and gorse,
eagerness exists, given limits
branches exist, wind lifting them exists,
and the lone drawing made by the branches
of the tree called an oak tree exists,
of the tree called an ash tree, a birch tree,
a cedar tree, the drawing repeated
in the gravel garden path; weeping
exists as well, fireweed and mugwort,
hostages, greylag geese, greylags and their young;
and guns exist, an enigmatic back yard;
overgrown, sere, gemmed just with red currants,
guns exist; in the midst of the lit-up
chemical ghetto guns exist
with their old-fashioned, peaceable precision
guns and wailing women, full as
greedy owls exist; the scene of the crime exists;
the scene of the crime, drowsy, normal, abstract,
bathed in a whitewashed, godforsaken light,
this poisonous, white, crumbling poem
Alphabet, de Inger Christensen, traduzido para o inglês por Susanna Nied.
Marcadores:
inger christensen,
mortes de poetas,
poesia européia
Assinar:
Postagens (Atom)
Mais ou menos de mim
Projetos Paralelos
Leituras de companheiros
- Adelaide Ivánova
- Adriana Lisboa
- Alejandro Albarrán
- Alexandra Lucas Coelho
- Amalia Gieschen
- Amina Arraf (Gay Girl in Damascus)
- Ana Porrúa
- Analogue Magazine
- André Costa
- André Simões (traduções de poetas árabes)
- Angaangaq Angakkorsuaq
- Angélica Freitas
- Ann Cotten
- Anna Hjalmarsson
- Antoine Wauters
- António Gregório (Café Centralíssimo)
- Antônio Xerxenesky
- Aníbal Cristobo
- Arkitip Magazine
- Art In America Magazine
- Baga Defente
- Boris Crack
- Breno Rotatori
- Brian Kenny (blog)
- Brian Kenny (website)
- Bruno Brum
- Bruno de Abreu
- Caco Ishak
- Carlito Azevedo
- Carlos Andrea
- Cecilia Cavalieri
- Cory Arcangel
- Craig Brown (Common Dreams)
- Cristian De Nápoli
- Cultura e barbárie
- Cus de Judas (Nuno Monteiro)
- Damien Spleeters
- Daniel Saldaña París
- Daniel von Schubhausen
- Dennis Cooper
- Dimitri Rebello
- Dirceu Villa
- Djoh Wakabara
- Dorothee Lang
- Douglas Diegues
- Douglas Messerli
- Dummy Magazine
- Eduard Escoffet
- Erico Nogueira
- Eugen Braeunig
- Ezequiel Zaidenwerg
- Fabiano Calixto
- Felipe Gutierrez
- Florian Puehs
- Flávia Cera
- Franklin Alves Dassie
- Freunde von Freunden
- Gabriel Pardal
- Girl Friday
- Gláucia Machado
- Gorilla vs. Bear
- Guilherme Semionato
- Heinz Peter Knes
- Hilda Magazine
- Homopunk
- Hugo Albuquerque
- Hugo Milhanas Machado
- Héctor Hernández Montecinos
- Idelber Avelar
- Isabel Löfgren
- Ismar Tirelli Neto
- Jan Wanggaard
- Jana Rosa
- Janaina Tschäpe
- Janine Rostron aka Planningtorock
- Jay Bernard
- Jeremy Kost
- Jerome Rothenberg
- Jill Magi
- Joca Reiners Terron
- John Perreault
- Jonas Lieder
- Jonathan William Anderson
- Joseph Ashworth
- Joseph Massey
- José Geraldo (Paranax)
- João Filho
- Juliana Amato
- Juliana Bratfisch
- Juliana Krapp
- Julián Axat
- Jörg Piringer
- K. Silem Mohammad
- Katja Hentschel
- Kenneth Goldsmith
- Kátia Borges
- Leila Peacock
- Lenka Clayton
- Leo Gonçalves
- Leonardo Martinelli
- Lucía Bianco
- Luiz Coelho
- Lúcia Delorme
- Made in Brazil
- Maicknuclear de los Santos Angeles
- Mairéad Byrne
- Marcelo Krasilcic
- Marcelo Noah
- Marcelo Sahea
- Marcos Tamamati
- Marcus Fabiano Gonçalves
- Mariana Botelho
- Marius Funk
- Marjorie Perloff
- Marley Kate
- Marília Garcia
- Matt Coupe
- Miguel Angel Petrecca
- Monika Rinck
- Mário Sagayama
- Más Poesía Menos Policía
- N + 1 Magazine
- New Wave Vomit
- Niklas Goldbach
- Nikolai Szymanski
- Nora Fortunato
- Nora Gomringer
- Odile Kennel
- Ofir Feldman
- Oliver Krueger
- Ondas Literárias - Andréa Catrópa
- Pablo Gonçalo
- Pablo León de la Barra
- Paper Cities
- Patrícia Lino
- Paul Legault
- Paula Ilabaca
- Paulo Raviere
- Pitchfork Media
- Platform Magazine
- Priscila Lopes
- Priscila Manhães
- Pádua Fernandes
- Rafael Mantovani
- Raymond Federman
- Reuben da Cunha Rocha
- Ricardo Aleixo
- Ricardo Silveira
- Rodrigo Damasceno
- Rodrigo Pinheiro
- Ron Silliman
- Ronaldo Bressane
- Ronaldo Robson
- Roxana Crisólogo
- Rui Manuel Amaral
- Ryan Kwanten
- Sandra Santana
- Sandro Ornellas
- Sascha Ring aka Apparat
- Sergio Ernesto Rios
- Sil (Exausta)
- Slava Mogutin
- Steve Roggenbuck
- Sylvia Beirute
- Synthetic Aesthetics
- Tazio Zambi
- Tetine
- The L Magazine
- The New York Review of Books
- Thiago Cestari
- This Long Century
- Thurston Moore
- Timo Berger
- Tom Beckett
- Tom Sutpen (If Charlie Parker Was a Gunslinger, There'd Be a Whole Lot of Dead Copycats)
- Trabalhar Cansa - Blogue de Poesia
- Tracie Morris
- Tô gato?
- Uma Música Por Dia (Guilherme Semionato)
- Urbano Erbiste
- Victor Heringer
- Victor Oliveira Mateus
- Walter Gam
- We Live Young, by Nirrimi Hakanson
- Whisper
- Wir Caetano
- Wladimir Cazé
- Yang Shaobin
- Yanko González
- You Are An Object
- Zane Lowe