Encontrei este poema de Takis Sinopoulos, poeta grego nascido em 1917, em uma antologia organizada por Jerome Rothenberg. Não conheço grego, mas decidi preparar algo como uma paráfrase ou re-escritura a partir da tradução para o inglês, por ter gostado do texto. Qualquer beleza ou eficiência deve ser atribuída a Takis Sinopoulos, todos os erros de julgamento a mim.
IOANNA EM DELÍRIO
Constantino é uma porta.
Ele é uma cara atrás da porta.
Ele é uma porta que bate e esmaga teus dedos.
Constantino é uma sala vazia.
Grito de alerta em sala vazia.
Constantino é uma casa, uma casa lúgubre.
Dentro dele religiões de sangue inexploradas fumegam.
Constantino é amanhã amanhã amanhã (amanhã repetido
à exaustão).
Ele tem dois corpos, um rubro, outro negro.
Às vezes eu o deprivo de um deles, às vezes do outro. Juntos eles
me reduzem a cinzas.
Constantino desaparece se o contemplamos quadrado.
Constantino surge se sonhas com ele.
Ele combate a noite, cai sobre ela cegado pela raiva
e cobre-se de pústulas que ulceram.
Ele tortura-se com as caras, o vago o tiraniza, fuçando meu corpo,
a luz da minha cara e lágrimas persistentes o despedaçam.
Constantino é o sol que determina a sombra da grama
com seu movimento contínuo.
Constantino é a estampa no tapete de flores sufocadas.
Constantino é a luta com salas e pássaros.
Ele sempre fala de um rio que há de limpar suas costas
do solo e impurezas da terra.
Ele salva do escuro temas que excitam seu sangue
então dorme.
Constantino tem muita sujeira em sua vida imaginária.
Constantino é um fato questionável.
Constantino é uma máscara meio carcomida.
Ele veste seu casaco de inverno e presume estar
em constante metamorfose.
Constantino é um dia escuro opressivo quando o vento
carrega pó às janelas.
Atrás da cara de Constantino move-se o Constantino escuro.
Constantino inflama-se à noite com uma paixão mais terrível
que suas palavras.
Eu repito Constantino é uma casa.
Ele é uma casa cheia de mecanismos cujas garras
rasgam tuas costas.
Constantino arrepende-se de actos não perpetrados.
Ele confunde o que fez com o que planejava fazer.
Ele construiu prédios horrendos e os segurou
de forma desesperada até que tombaram
e nos esmagaram.
Constantino é responsável pelo que quer que ocorra
em nosso interior.
Constantino é um espelho que se parte em paranóia
sem fim e reflexos de surpresas fabulosas.
Ele sempre chama minha cara de ravina escura da lua.
(Minha cara é no entanto luminar)
Constantino é assustador quando ele escama camadas
de sua pele uma por uma.
Não sei como acalmar Constantino.
Hora pós hora a loucura está em seu colo e brilha
de dentro de seu estômago como lamparina.
Eis Constantino.
poema de Takis Sinopoulos (1917 - 1981)
em paráfrase-reescritura de Ricardo Domeneck.
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