segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Poema inédito de Guilherme Gontijo Flores



pra que lado isso poderia não ser uma 
talvez pergunta? feito afirmar-se faca cega
como quem segue seu destino numa via de mão única

como amar seria correr sem descanso
todas as linhas de metrô pulando por todo o dia e à noite
escondido nalgum vagão
fincar-se numa cabine qualquer por anos a fio
(quem sabe horas) a metros e metros
de uma possível química solar
e a pele se descora e se descola aos poucos
da sua ossada a coluna arqueando
os pés tirados pra balanço
os olhos revirados crânio adentro

na esperança de encontrá-la
eldorado concretada
sob os escombros do trianon




Guilherme Gontijo Flores é um poeta, tradutor e crítico brasileiro, nascido em Brasília em 1984. É graduado em Letras pela UFES, e mestre em estudos literários pela UFMG com a tradução integral das "Elegias" de Sexto Propércio (43 a.C. - 17 a.C.), no prelo. Hoje é professor de Língua e Literatura Latina na UFPR e termina seu doutorado na USP, sobre as "Odes" de Horácio (65 a. C. - 8 a.C). Já publicou traduções de As janelas, seguidas de Poemas em Prosa Franceses, de Rainer Maria Rilke (em parceria com Bruno D'Abruzzo), e de A Anatomia da Melancolia, de Robert Burton, em 4 volumes. É cofundador da revista escamandro, que publica poesia, tradução e crítica. Seu livro de estreia, brasa enganosa (São Paulo: Editora Patuá), foi lançado este ano. Leia mais poemas dele na Modo de Usar & Co.

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