Pedro Casariego Córdoba, também conhecido na Espanha como Pe Cas Cor, nasceu em Madri em 1955. Iniciou seu trabalho poético por volta de 1974, escrevendo em geral poemas-em-série, como pequenos roteiros, em que personagens estranhas, num ambiente quase lynchiano, convivem com personagens históricas, como nos livros La canción de Van Horne, El hidroavión de K., La risa de Dios, Maquillaje. Letanía de pómulos y pánicos, La voz de Mallick (pelo qual recebeu o prêmio Juan Ramón Jiménez, em 1989) e Dra. Um exemplo, que abre o poema-em-série El Hidroavión de K., escrito em 1978:
El atractivo
tejido vitamínico
que constituye el alma
de la mujer de Laos.
La torpe avitaminosis
que corroe a Kierkegaard.
La mujer de Laos
se hace un ovillo
un ovillo de lana natural.
Kierkegaard
tejerá con ella
un tapiz de color azul.
Galán de bisutería
nuestro hombre se adelanta.
(in El Hidroavión de K., 1978)
O poeta publicou pouco em vida. A maioria desses poemas-em-série seria reunida no volume Poemas Encadenados (1977-1987), publicado na Espanha pela editora Seix Barral, em 2003, dez anos após a morte do poeta. Como o poeta escreveu no poema de abertura de La voz de Mallick (1981):
Wataksi
escúchame.
He callado y he callado más aún:
mi silencio ha sido más largo
que el camino de la serpiente
más profundo
que el dolor de la hiena.
(La voz de Mallick, 1981)
O ano de 1987, no qual escreve um único poema, marca seu abandono da poesia, passando a dedicar-se à pintura e ao desenho, até o ano de 1993, quando decide deitar-se na frente de um trem. O poeta se assemelha em sua estranheza e posição marginal, na poesia espanhola contemporânea, a Leopoldo María Panero (n. 1948), o outro "esquisito" da década de 70 espanhola. Cometeu suicídio no dia 6 de janeiro de 1993.
POEMAS DE PEDRO CASARIEGO CÓRDOBA
O suicídio é só teu
Ron Padgett,
Suicide is only yours
1984
Todos se deitaram
e chegou o medo
Meu coração conta suas batidas
e tua grande bunda rosa me protege
Tua grande bunda amável me defende do frio
mas atrai os pernilongos
Tua dor não é muito grande
se podes pedir ajuda
Uma bolsa d´água quente em minha cama
e toda a solidão do mundo
Aquele bar é o ninho de bocas domadas
e agora é noite e ranges os dentes
Indefeso como o espirro de um pássaro
vejo batidas que foram minhas
Se queres meter-te uma bala
eu te emprestarei meu revólver
Meu revólver é um manancial de esperança
tão seco como o ventre de uma anciã
Assina com meu revólver um cheque sem fundos
e compra um ingresso para o fundo da terra
Uma bala é um buraco no paladar
e um jejum eterno e barato
Tua grande bunda rosa e delicada
já não pedirá carne ou ar
Quem pintou de negro meus pulmões
para a torpe alegria da noite?
Se queres meter-te uma bala
eis aqui desinfetado meu revólver.
(tradução de Ricardo Domeneck)
§
El suicidio es sólo tuyo
Pedro Casariego Córdoba
Ron Padgett,
Suicide is only yours
1984
Todos se acostaron
y llegó el miedo
Mi corazón cuenta sus latidos
y tu gran culo rosa me protege
Tu gran culo amable me defiende del frío
pero atrae a los mosquitos
Tu dolor no es muy grande
si puedes pedir ayuda
Una bolsa de agua caliente en mi cama
y toda la soledad del mundo
Aquel bar es el nido de las bocas domadas
y ahora es de noche y aprieta los dientes
Indefenso como el estornudo de un pájaro
veo latidos que fueron míos
Si quieres pegarte un tiro
yo te prestaré mi pistola
Mi pistola es un manantial de esperanza
tan seco como el vientre de una anciana
Firma con mi pistola un cheque sin fondos
y compra un billete para el fondo de la tierra
Una bala es un agujero en el paladar
y un ayuno eterno y barato
Tu gran culo rosa y sencillo
ya no pedirá carne ni aire
¿Quién pintó de negro mis pulmones
para torpe alegría de la noche?
Si quieres pegarte un tiro
aquí tienes mi pistola limpia.
§
Poemas publicados no segundo número impresso da Modo de Usar & Co.:
mãe
arranque a partir de hoje a coroa
de rainha da insônia
porque é uma coroa falsa
nem uma única pedra preciosa
e mesmo assim
quando não pode dormir
você se converte na enfermeira do céu
médico de cabeceira dos cometas
nuvens sensíveis
estrelas que têm febre
como se compadece o sonho
aquele que congela suas mãos
suas mãos fundas de beleza
de rastelo
de tesouras de duas luas
dois jardins suas mãos quando regam
dez flores seus dedos quando plantam
algo um bulbo?
que parece uma toupeira
tão fechada em si
como uma noz
e que
com certeza
se abrirá amanhã
para soltar um pássaro de pétalas
o pássaro há de tossir um pouco
pedirá um cigarro
e dirá
que lhe observa quando você não pode dormir
e que
bem no momento em que consegue domir
aparece no calor do céu de verão
uma estrela nova e fraquíssima
talvez por isso lhe custe tanto dormir
iluminar uma estrela ferida
fazer curativos na perna quebrada de uma estrela acrobata demais
não está ao alcance dos que dormem como pedras
dos que se esquecem das pernas alheias
as penas alheias
as próprias penas
mãe
creio em sua coragem
creio
§
Poemas publicados no segundo número impresso da Modo de Usar & Co.:
Esta
solidão
esta
solidão é filha de uma altura equivocada
eu
tenho o vício dos céus
sou
o único proprietário
do
ar ossudo e dos pássaros fáceis
os
ossos azuis do céu
formam
um espaço grande e delicado
e
se partem em tormenta
e
descem em água
para
acabar em lápide sem nome
o
vermelho das minhas mãos é um mistério
porque
brota de rios brancos que se inclinam como lápides
através
da tela metálica
cabisbaixa
a erva daninha rouba o início do outono
no
outono os ladrões de céu
carregam
silêncio no bico e tumba nas asas
agarro-me
à tela metálica
e
não tenho dinheiro
as
mulheres redondas sempre têm dinheiro
mas
quando olham para o alto a celebrar uma cama nova
alguém
obstrui o céu com uma navalha de ar
agarro-me
à tela metálica
e
não tenho mulher redonda
eu
tenho o vício do céu porque tenho medo
porque
sou covarde
mulher
inteira nada tenho a oferecer desamarrote minha tormenta
A
JANTA É ÀS 6.
EU
SOU O GARÇOM.
:
ESTA
SOLEDAD / esta soledad es hija de una altura equivocada / yo tengo el
vicio del cielo / soy el único propietario / del aire huesudo y de
los pájaros fáciles // los huesos azules del cielo / forman un
espacio largo y delgado / y se quiebran en tormenta / y bajan en agua
/ para acabar en lápida sin nombre // el rojo de mis manos es un
misterio / porque brota de ríos blancos que se inclinan como lápidas
// a través de la tela metálica / cabizbaja la mala hierba roba el
principio del otoño // en otoño los ladrones del cielo / llevan
silencio en el pico y tumba en las alas // me agarro a la tela
metálica / y no tengo dinero / las mujeres redondas siempre tienen
dinero / pero cuando miran hacia lo alto para celebrar una cama nueva
/ alguien impide el cielo con una navaja de aire // me agarro a la
tela metálica / y no tengo mujer redonda // yo tengo el vicio del
cielo porque tengo miedo / porque soy cobarde // mujer entera no
puedo darte nada plancha mi tormenta / LA CENA ES A LAS 6. / YO SOY
EL CAMARERO.
§
16
de julho
mãe
arranque a partir de hoje a coroa
de rainha da insônia
porque é uma coroa falsa
nem uma única pedra preciosa
e mesmo assim
quando não pode dormir
você se converte na enfermeira do céu
médico de cabeceira dos cometas
nuvens sensíveis
estrelas que têm febre
como se compadece o sonho
aquele que congela suas mãos
suas mãos fundas de beleza
de rastelo
de tesouras de duas luas
dois jardins suas mãos quando regam
dez flores seus dedos quando plantam
algo um bulbo?
que parece uma toupeira
tão fechada em si
como uma noz
e que
com certeza
se abrirá amanhã
para soltar um pássaro de pétalas
o pássaro há de tossir um pouco
pedirá um cigarro
e dirá
que lhe observa quando você não pode dormir
e que
bem no momento em que consegue domir
aparece no calor do céu de verão
uma estrela nova e fraquíssima
talvez por isso lhe custe tanto dormir
iluminar uma estrela ferida
fazer curativos na perna quebrada de uma estrela acrobata demais
não está ao alcance dos que dormem como pedras
dos que se esquecem das pernas alheias
as penas alheias
as próprias penas
mãe
creio em sua coragem
creio
:
16
DE JULIO // madre / quítate desde hoy la corona / de reina del
insomnio / porque es una corona falsa / ni una sola piedra preciosa /
y sin embargo / cuando no puedes dormirte / te conviertes en la
enfermera del cielo / médico de cabecera de los cometas / nubes
delicadas / estrellas que tienen fiebre // qué compasivo es el sueño
/ el que congela tus manos / tus manos hondas de belleza / de
rastrillo / de tijeras de dos lunas // dos jardines tus manos cuando
riegan / diez flores tus dedos cuando plantam / algo ¿un bulbo? /
que parece un topo / tan encerrado en sí mismo / como una nuez / y
que / seguro / mañana se abrirá / para soltar un pájaro de pétalos
/ el pájaro toserá un poco / te pedirá un cigarrillo / y te dirá
/ que te mira cuando no puedes dormir / y que / justo cuando
consigues dormirte / aparece entre el calor del cielo de verano / una
estrella nueva y debilísima // quizá por eso te cueste tanto
dormirte / alumbrar una estrella herida / vendar la pierna rota de
una estrella demasiado saltimbanqui / no está al alcance de los que
duermen a pierna suelta / de los que olvidan las piernas de los otros
/ las penas de los otros / sus propias penas / madre / creo en tu
coraje / creo
.
.
.
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