domingo, 5 de janeiro de 2014

Um poeminha bem sem vergonha

Poema-cantata, quer dizer: cantada para o músico Manuel Hofer, escrito enquanto tocava, com Hèlene Tysman, o "Romeu e Julieta" de Prokofiev na Igreja do Rosário em Tiradentes, provando que este poeta merece o inferno

Quando primeiro vi o austríaco
Manuel Hofer, que doma a viola,
não sabia ao certo se ia ovular
ou enfiar num buraco, avestruz,

a minha cara que é de peroba,
não de Carrara. Ereto, ele toca
no palco o Romeu de Prokofiev,
e eu sonho ser só sua Juliette.

Enquanto move-se tal Kabuki,
eu sinto-me um cafuçu tosco
por imaginá-lo num Bukakke,
cobiçando suas pernas e torso.

Donde essas madeixas loiras
se afirma ter genes de mexicas?
Posso ajudá-lo a virar a página
se me contratar como calouro.

Roubo seu tabaco, tendo cigarros,
apenas para em sentido figurado
incendiarmos alguma coisa juntos.
Não perca a chance, pré-túmulo,

de lermos, de queixo na barriga,
poemas de Cavafy, O´Hara, Piva,
enquanto unimos métrica e vida
na prática de suas canetas fálicas.

Não quero mais só dessas coxias
exercitar luxúria com suas coxas.
Vamos para a Inaccessible Island.
Queremos os dois fuga à Islândia.

Vizinhos já, por que não de cama?
Dar-nos-emos mútua petite morte
ao som de Der Tod und der Mann.
Serei tua viola nova, tua consorte.

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