MEMÓRIA DE GELMAN.
Eu creio que o descobri pela primeira vez com a publicação da antologia traduzida por Eric Nepomuceno, Amor que serena, termina? (Ed. Record, 2001). Era um ano em que precisava muito de poemas como aqueles, e o livro foi um daqueles que se tornam amigos. Mantive um carinho forte por Gelman. Lembro-me de alguns artigos sobre ele à época, a história de seus filhos sequestrados, torturados e desaparecidos durante a Ditadura Militar argentina, sua busca pela neta, a forma como ele falava a respeito. Aquilo me impactou muito.
Alguns anos mais tarde descobri um livro dele que se tornaria um de meus favoritos e que teria um impacto desta vez sobre meu trabalho. Trata-se de Dibaxu (1994), seu livro de delicados poemas líricos escritos em sefardi. A delicadeza daqueles poemas, a pesquisa linguística de Gelman, o fato de estar morando na Alemanha já há alguns anos, cercado por uma língua que falava mas não me pertencia, tudo isso uniu-se para que aquele livro me marcasse. Ele me ensinou uma grande liberdade, para confiar na tradição lírica iberoamericana, a dos trovadores que mesclavam e compunham em várias línguas. Para eu mesmo experimentar com outras línguas.
Foi sob este impacto que escrevi, por exemplo, meu poema multilíngue "Cantiga de ninar para amante surdo", e as palavras em sefardi que aparecem no poema foram todas colhidas de Dibaxu. A própria palavra dibaxu comparece em homenagem ao argentino.
R.I.P. companheiro.
R.I.P. companheiro.
Juan Gelman
no tenis puarta/yave/
no tenis sirradura/
volas di nochi/
volas didia/
lu amadu cría lu qui si amará/
comu vos/yave/
timblandu
nila puarta dil tiempu
Juan Gelman, Dibaxu (1994).
Ricardo Domeneck, Bebedouro - 14 de janeiro de 2014.
§
Cantiga de ninar para amante surdo
Ricardo Domeneck
Eres the plague meiner fauna,
my allerdearest passerculus
infenso al questionnaire
dos meus needs, do quê
tens angst, nha kretxeu,
if otros páxarus planam
alrededor d´your caixola
toracique like girassóis
or schmetterlinge y
hay keine delicatessen
full d´engrunes
nel malheur di toalha
da vuestra távola que
balança wie manzanas
dil otonio u soçobram
sin solaciolum al soluço
meu y el plenu século est
aranearum a memorandar
le gravity ou statistics
entre epiderm y shampoo,
bicho-da-seda of my own
cheveux, my holzpferdchen
di carroussel, sussurro-te
questo lullaby, quirinsiozo
nonchalant y taube
sorda of mi olvido:
ecco ichyojeu
sobjective,
mon callboy, j´am deine
mullah, et con one sonrisa
sur la fresse cargo tu planetoid,
heavy hecho plumas y paese,
mio xodó, tal qual un atlas
avec avlas y árvulis y
everything di solombra
sur riachos, mein benzinho
gauche de pampers da vita,
basia mille, deinde centum
y tremblo trotzdem dibaxu
der sonne, hasta que deslizes
under los lençóis di camomila
sur tua llit, oh! l´alba assovia,
de morsus a ictus glutona-se
teu focinho avec mis tatters,
ronron meu,
si hay rincão
more londji
von mim,
mendigo-te:
do not go,
ay paura da
departure,
baby bobo
.
.
.
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