sábado, 31 de maio de 2014

Eros IV

Tudo o que sobra
é a trilha sonora.

§

Os outros três, publicados em Ciclo do amante do substituível (2012):




Eros

Optas, amo.
Queima-nos.


::: via tradução por homofonia/homosignia do fragmento 38 de Safo de Lesbos:


ὄπταις ἄμμε
thou burnest us

§

Eros II

meteoro
que chegou
não
como soco
mas beijo
de todos
os cafunés
e não cavou
crateras
mas ferindo
as tais leis
da física
massageou
meu físico
macérrimo
detendo-se
a um
centímetro
da minha
atmosfera
fez de mim
seu satélite


Berlim, tarde amorosa à distância, sem cigarros ou cegueiras, na qual Eros fez do mais verborrágico dos poetas contemporâneos brasileiros um líricozinho lacônico, 07 de junho de 2011. Agora: descer, comprar cigarros e sorvete de chocolate.

§


Eros III

Quiçá Eros
decidira que minha data
de validade
como receptáculo expirara,
ou talvez eu tenha sido
tão-só incubador
de um alienígena,
hospedeiro de um verme
ou varejo de um vírus
que agora segue no atacado
sua existência externa.
Quem sabe eu apenas
viva o momento
do carteiro incompetente
que confunde remetente
por destinatário,
o bilhete de SOS
na garrafa
acaba engolida
por uma orca,
a carta retorna
deslida, selada.
Carmen: L´amour
est un microraptor,
rapta-nos e domestica
antes de servir-nos,
presa e merenda,
para seus filhotes
ávidos, e nada
se compara a
este nutricionista
quando se trata
de excitar anemias.
Pensar nele
é como estar sentado
numa cadeira
sob uma árvore
da mesma espécie
da qual extraiu-se
a sua madeira.
Jatos, aviões
cruzam os céus
deixando como feridas
cortes no azul
que se cicatrizam
por dispersão,
diferente
de nossa pele,
que se encrosta
para cerrar os portos
para o sangue.
Veraneio
no inferno,
bronzeio
o cenho
e estas cãs
que me dás.

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terça-feira, 27 de maio de 2014

A culpa é de Hollywood

                              a Jonas Lieder


Querido, para alguns de nós,
desde o começo,
foi sempre assim que as coisas
funcionaram: affectus ou nada.

Enquanto meus colegas de escola
aguardavam ansiosos
em Highlander
lá pelos idos de 1986
que os imortais cortassem
suas mútuas cabeças,
eu me debulhava em lágrimas
pela morte do primeiro amor
de Christopher Lambert,
o útero seco de sua mulher,
ela que tanto quis dar-lhe filhos,
sem que ele ou ela ou mesmo nós
àquela altura da estória
soubéssemos que a esterilidade
era coisa dos imortais.

E pelas montanhas escocesas ecoava
a voz de Freddie Mercury, exigindo
uma resposta, qualquer resposta:

"Who wants to live forever?"

E minhas glândulas lacrimais
imploravam
que eu as deixasse em paz.

Era o tempo em que ainda havia
estória e História.

Como era prazeroso e mais simples
apaixonar-me
por Timothy Hutton em Ordinary People,
por River Phoenix em Running on Empty,
aguardar seus novos filmes,
como se espera pela visita
de um primo, o favorito, do litoral.

Os sentimentos eram não imaginários,
mas imaginados, críamos
que entendíamos todas as canções.
Fingíamos a dor que todavia
não sentíramos, não
deveras.

O passado era tão curto,
nossas bagagens, leves.

As dores eram abreviadas
por uma legenda
que dizia TRÊS ANOS DEPOIS
e esses três anos duravam apenas
um corte na ilha de edição.

E quando alguém morria,
a morte era só uma reviravolta
da trama, e doía,
mas bastava esperar que se encarnassem
novamente, feito Budas,
em novas personagens
de novos filmes.

The End nos redimiria a todos.

As perdas tinham uma espécie de glamour,
ficavam fora do quadro os lençóis de suor,
o suor só de um,
que sempre parece cheirar mal,
o café da manhã
com o pão duro e o café frio,
os cigarros baratos, baratos.

Agora sabemos que os TRÊS ANOS DEPOIS
precisam ser vividos segundo a segundo.

Que um acaso qualquer benevolente,
que traga reunião, concerto, concórdia,
das mãos de um roteirista generoso,
quiçá algo cafona, se vier,
será só isso, um acaso benevolente,
mas já não acreditamos muito na existência
do roteirista generoso, ainda que sintamos
que a trama continua cafona,
imperdoavelmente cafona.


§

Berlim, 27 de maio de 2014.




segunda-feira, 26 de maio de 2014

Nadezhda Mandelshtam (1899 - 1980).

"Ninguém pode tirar de mim o meu amor" 

O filme abaixo é importante não apenas por Óssip Mandelshtam, um dos maiores poetas russos do século XX. Nadezhda Mandelshtam é por si só uma escritora importante, uma das grandes testemunhas do século passado. E assistir à jovialidade da sua fala é um prazer. Sua força de espírito, depois de tudo pelo que passou.
  
 

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domingo, 25 de maio de 2014

Haroldo de Campos fala sobre João Guimarães Rosa


Haroldo de Campos (1929 - 2003) fala sobre João Guimarães Rosa (1908 - 1967).

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quarta-feira, 21 de maio de 2014

Poemas antigos para amantes mais antigos ainda

Hoje, pela manhã, voltando para a minha casa depois de tomar o café-da-manhã na padaria berlinense favorita, vi um conjunto anatômico brilhando ao sol, sobre uma bicicleta, rápido, decidido, com saúde explodindo por cada poro, e meu corpo todo reconheceu aquele corpo, era ele, aquela tragédia de anos e anos atrás, Christopher. Ele não me viu. Mas eu o vi. E lembrei deste poema antigo, escrito para ele e sobre ele e, por que não?, com ele. Vai aqui, mais uma vez. Homenagem às catástrofes passadas. Ao fim, um dos meus vídeo-retratos, feito dele.


Texto em que o poeta dirige-se a um ex
e relata a seus leitores sobre Christopher,
his own private Hurricane Okeechobee


O plantão do Jornal da Globo
anunciava a morte das mortes
da Rapunzel das importâncias
e o bípede predileto impunha
suas lesões como lições.
Seu bíceps era um fórceps
na manteiga das minhas guelras.
É como se seu tubo de eustáquio
se posicionasse, ainda por cima,
na expectativa de um Thank You
por sua devastação em meu clima,
e eu temia, ao leme, que o próprio
meio-dia fosse a praga que assola
ao meio-dia. Há outros perigos
para um barco ao mar,
mais terríveis que o naufrágio.
Talvez o vício
do farol, demasiada confiança
nos botes, nas bússolas.
De sua testa à sua glande
e desta às falanges,
aquele cobre solar e uniforme,
como os pelos em suas pernas
distribuíam-se
feito um milharal
querendo esconder o milho.
A proporção entre seu nariz
e outros membros do império
em seu mapa de côncavos
e convexos era minha última
porção de simetria, Bauhaus
do meu lumpesinato físico.
Quando nascerá o comunismo
do proletariado amoroso?,
era o que simulavam murmurar,
revolucionárias, minhas mucosas,
estas cavidades hipócritas
em seus mal-dissimulados
delírios napoleônicos.
Eu queria ser seu dono e seu dog,
parceiro majoritário
do monopólio
que ele presidia.
Um feudo de fluidos
e de corpos. Suas fotos
até hoje me coçam.
Ele era um conjunto de carpos
e cilindros, e, se aos dezenove
fazia-me de vaso, aos vinte
e cinco era eu dejeto,
despejo.
Ele era uma alegria difícil,
um improviso
de rês pública.
Queria tudo,
a mim inclusive,
mas sem contrato exclusivo.
Redigia todas as cláusulas,
eu as aceitava, do sim tácito
ao silêncio tático,
qualquer manobra
que mantivesse seu corpo
aberto ao meu tato.
Quem jamais viveu o momento
que faz de migalhas
um banquete
que atire o primeiro tomate.
Ele, em minha boca,
foi o nascer-do-sal.
Quem me dera o tivesse
discernido a tempo
como o analgésico exato
para as minhas ilusões
de pertencer a alguma espécie
em extinção,
quando hoje sei ser eu praga.
Contudo, não me arrependo
de permitir aos meus dedos
aquela orgia típica
de gafanhotos
nos campos férteis
dos seus cabelos,
e, mesmo daninho,
dedico a ele hoje
este honorário
por seus extermínios.


Ricardo Domeneck, in Ciclo do Amante Substituível (Rio de Janeiro: 7Letras, 2012)

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Ricardo Domeneck, "Retrato de Christopher" (2006)

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terça-feira, 20 de maio de 2014

Feliz aniversário, Uli.



Uli Buder, meu amigo e colaborador, completa 28 anos de idade hoje. Obrigado por existir.

 

Parto daqui a pouco para o bairro dele, onde vamos aproveitar o sol no telhado de seu prédio. Mais tarde, faço uma leitura com Odile Kennel em Kreuzberg.

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domingo, 18 de maio de 2014

"The Sunset Limited" (2011)



Na casa, ontem, do meu querido Louis McGuire, ouvindo uma de suas novas faixas, havia um sample vocal tirado deste filme, com Tommy Lee Jones e Samuel L. Jackson, baseado numa peça de Cormac McCarthy. Eu gosto de filmes baseados em peças, quando bem feitos, porque o diálogo é uma das coisas mais me dá prazer em filmes. Vai aqui, para vocês.


The Sunset Limited (2011), dirigido por Tommy Lee Jones.

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sexta-feira, 16 de maio de 2014

"Zerar", meu poema para o "Km. 0 Poetry Project", que abre amanhã em Berlim



A poeta brasileira Érica Zíngano e o poeta argentino Cristian Forte idealizaram este projeto, o Km. 0 Poetry Project, que abre amanhã em Berlim, na Plänterwald. Vários autores foram convidados a escrever em torno da ideia de Kilômetro 0, textos que ocupassem uma única página, seguidos de gravações dos mesmos. A lista completa dos convidados: Alan Mills, Alia Pathan,  Armin Kurosh Marschal, cavaloDADA/Reuben da Cunha Rocha, Elise Florenty & Marcel Türkowsky, Fabiana Faleiros, Gerardo Jorge, Julia Pombo, Juliana Borzino, Karin Fellner, Lady Gaby, Léonce W. Lupette, Lucas Simões, Marcela Vieira, Marcelo Noah, Maria Mouk, Mayra Santos-Febres, Max Oravin, Mileva Demenga, Niklas Tafra, Odile Kennel, Rafael Mantovani, Ricardo Domeneck, Roberta Ferraz, Sam Ashley, Samuel Dowd, Tazio Zambi, Timo Berger, Tomás Fadel, Vitor Butkus / Esteban Faroles.
 
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Zerar

Se em algum lugar houver
algum tipo de arca de Noé
às avessas, onde arquétipo
ou planta de arquiteto
de cada uma das espécies
aguarda, extinta,
as que estão por expirar
aqui seu último suspiro,
pergunto-me como hão-de
receber-nos os habitantes
deste planeta, os antigos,
todos aqueles dinossauros
por um meteoro delidos
ou os felpudos mamutes
idos por nossa causa.
Nos receberão como irmãos
caídos na mesma guerra?
Os homens de Neandertal
e os de Denisova,
calmos, à nossa desova
terão um olhar cabal, 
sabendo o que os aguarda.
Dodos, auroques e quaggas,
os dugongos-de-steller,
os lobos-de-honshu,
nessa barca onde pacas
gigantes e dentes de sabre
deitam-se lado a lado,
pacíficos, todos inscientes 
de que as Parcas
lhes reservaram tal surpresa
desagradável: 
pausados e pousados,
em êxtase e estase
na Terra de São Nunca, 
eles mal sabem 
que ao chegarmos
à terra dos extintos,
seguiremos
nosso instinto
e faremos 
o que melhor fazemos:
a caça, 
às bruxas e às santas,
aos lobos e às ovelhas,
e porventura hemos 
ainda de obliterá-los
uma vez mais, torná-los
extintos entre os extintos.
Homo Sapiens, remorso
do carbono e do oxigênio.
Nos tivesse previsto,
o Bing Bang decerto
teria implodido.
Espera-se que o Universo
não tenha o péssimo gosto,
caso correta a hipótese
do Eterno Retorno,
de nos dar o reboot.


Ricardo Domeneck. Berlim, abril de 2014.
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quinta-feira, 15 de maio de 2014

terça-feira, 13 de maio de 2014

Melvin B. Tolson (1898 – 1966)


                                  


                                  A Song for Myself

                                               I judge
                                               My soul
                                               Eagle
                                               Nor mole:
                                               A man
                                               Is what
                                               He saves
                                               From rot.
                                               
                                               The corn
                                               Will fat
                                               A hog
                                               Or rat:
                                               Are these
                                               Dry bones
                                               A hut’s
                                               Or throne’s?
                                               
                                               Who filled
                                               The moat
                                               ’Twixt sheep
                                               And goat?
                                               Let Death,
                                               The twin
                                               of Life,
                                               Slip in?
                                               
                                               Prophets
                                               Arise,
                                               Mask-hid,
                                               Unwise,
                                               Divide
                                               The earth
                                               By class
                                               and birth.
                                               
                                               Caesars
                                               Without,
                                               The People
                                               Shall rout;
                                               Caesars
                                               Within,
                                               Crush flat
                                               As tin.
                                               
                                               Who makes
                                               A noose
                                               Envies
                                               The goose.
                                               Who digs
                                               A pit
                                               Dices
                                               For it.
                                               
                                               Shall tears
                                               Be shed
                                               For those
                                               Whose bread
                                               Is thieved
                                               Headlong?
                                               Tears right
                                               No wrong.
                                               
                                               Prophets
                                               Shall teach
                                               The meek
                                               To reach.
                                               Leave not
                                               To God
                                               The boot
                                               And rod.
                                               
                                               The straight
                                               Lines curve?
                                               Failure
                                               Of nerve?
                                               Blind-spots
                                               Assail?
                                               Times have
                                               Their Braille.
                                               
                                               If hue
                                               Of skin
                                               Trademark
                                               A sin,
                                               Blame not
                                               The make
                                               For God's
                                               Mistake.
                                               
                                               Since flesh
                                               And bone
                                               Turn dust
                                               And stone,
                                               With life
                                               So brief,
                                               Why add
                                               To grief?
                                               
                                               I sift
                                               The chaff
                                               From wheat
                                               and laugh.
                                               No curse
                                               Can stop
                                               The tick
                                               Of clock.
                                               
                                               Those who
                                               Wall in
                                               Themselves
                                               And grin
                                               Commit
                                               Incest
                                               And spawn
                                               A pest.
                                               
                                               What’s writ
                                               In vice
                                               Is writ
                                               In ice.
                                               The truth
                                               Is not
                                               Of fruits
                                               That rot.
                                               
                                               A sponge,
                                               The mind
                                               Soaks in
                                               The kind
                                               Of stuff
                                               That fate’s
                                               Milieu
                                               Dictates.
                                               
                                               Jesus,
                                               Mozart,
                                               Shakespeare,
                                               Descartes,
                                               Lenin,
                                               Chladni,
                                               Have lodged
                                               With me.
                                               
                                               I snatch
                                               From hooks
                                               The meat
                                               Of books.
                                               I seek
                                               Frontiers,
                                               Not worlds
                                               On biers.
                                               
                                               The snake
                                               Entoils
                                               The pig
                                               With coils.
                                               The pig’s
                                               Skewed wail
                                               Does not
                                               Prevail.
                                               
                                               Old men
                                               Grow worse
                                               With prayer
                                               Or curse:
                                               Their staffs
                                               Thwack youth
                                               Starved thin
                                               For truth.
                                               
                                               Today
                                               The Few
                                               Yield poets
                                               Their due;
                                               Tomorrow
                                               The Mass
                                               Judgment
                                               Shall pass.
                                               
                                               I harbor
                                               One fear
                                               If death
                                               Crouch near:
                                               Does my
                                               Creed span
                                               The Gulf
                                               Of Man?
                                               
                                               And when
                                               I go
                                               In calm
                                               Or blow
                                               From mice
                                               And men,
                                               Selah!
                                               What . . . then?

Melvin B. Tolson, "A Song for Myself", from Harlem Gallery and Other Poems of Melvin B. Tolson (Charlottesville: The University Press of Virginia, 1999).

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domingo, 11 de maio de 2014

Doodling over food

American burger for lunch,
some Arab poetry as dessert.
He smokes French cigarettes.
Then again comes hunger,
Coffee and Chinese noodles,
reflections on Gnostic Gospels.
Barbarians in jeans & heels
praising Dolci & Gabbana
disturb his mind´s poodle.
He is currently very upset
at a translation of Foucault.
And why do they misquote
Walter Benjamin´s Jetztzeit?
These idiots and their Žižek.
A little talk of Syrian bodies,
some complaints about rent,
he is poor, but he has porn,
who cares, he reads Chekhov.
If you mention the Ukraine,
his analogies become anal,
his historicism, anachronical.
Who would dare question
all his knowledge on Crimea?
Sensing he´s losing his edge,
in his skin he feels the crisis.
He listens to Cry me a river.
Whiskey calms his thoughts.
When lucky, he gets at night
what he loves, coke and cock.
Then to bed he takes his head,
the prized public intellectual.
He hugs a stuffed rabbit doll.
Tomorrow: tacos, sushi, et al.


Rocirda Demencock. Berlin, May 10th, 2014.

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quinta-feira, 8 de maio de 2014

Regina Spektor - "Hero"




He never ever saw it coming at all
He never ever saw it coming at all
He never ever saw it coming at all

It's al-right, it's al-right, it's al-right, it's al-right
It's al-right, it's al-right, it's al-right

Hey, open wide here comes original sin
Hey, open wide here comes original sin
Hey, open wide here comes original sin

It's al-right, it's al-right, it's al-right, it's al-right
It's al-right, it's al-right, it's al-right
It's al-right, it's al-right, it's al-right

No one's got it all
No one's got it all
No one's got it all

Power to the people
We don't want it
We want pleasure
And the T.V.s try to rape us
And I guess that they're succeeding
Now we're going to these meetings
But we're not doin' any meetin'
And we're trying to be faithful but we're cheatin', cheatin', cheatin'

Hey, open wide here comes original sin
Hey, open wide here comes original sin
Hey, open wide here comes original sin

It's al-right, it's al-right, it's al-right, it's al-right
It's al-right, it's al-right, it's al-right
It's al-right, it's al-right, it's al-right

No one's got it all
No one's got it all
No one's got it all

Power to the people
We don't want it
We want pleasure
And the T.V.s try to rape us
And I guess that they're succeeding
And we're going to these meetings
But we're not doin' any meetin'
And we're trying to be faithful but we're cheatin', cheatin', cheatin'

I'm the hero of the story
Don't need to be saved
I'm the hero of the story
Don't need to be saved
I'm the hero of the story
Don't need to be saved
I'm the hero of the story
Don't need to be saved

It's al-right, it's al-right, it's al-right, it's al-right
It's al-right, it's al-right, it's al-right
It's al-right, it's al-right, it's al-right
It's al-right, it's al-right, it's al-right

No one's got it all
No one's got it all
No one's got it all

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