terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
Stuart Hall fala sobre o livro "Policing the Crisis" (1978)
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Ibn Sahl & Lorca. O sexo. A idade. A morte. De poetas e seus leitores.
Este texto começou como uma celebração dos poetas Ibn Sahl e Lorca, e foi, ao longo do fim de semana, após as últimas notícias da República Federativa, transformando-se em outra coisa, entre o ponto do choro e o do vômito.
Descobrir um texto do jovem poeta Abu Ishaq Ibrahim Ibn Sahl al-Isra’ili al-Ishbili, ou apenas Ibn Sahl, dito de Sevilha, porque ali nasceu em 1212, no al-Andalus. Ler seu poema.
Muitas vezes um belo rapaz de lábios rubros
me pergunta sorrindo: – qual a tua religião?
Eu lhe respondo: em teu amor encontro minha fé,
meu paraíso, meu Deus e minha eternidade.
(Tradução de Paulo Azevedo Chaves, in Nus. Editora Comunicarte, 1991).
El amor duerme en el pecho del poeta
Federico García Lorca
Tú nunca entenderás lo que te quiero
porque duermes en mí y estás dormido.
Yo te oculto llorando, perseguido
por una voz de penetrante acero.
Norma que agita igual carne y lucero
traspasa ya mi pecho dolorido
y las turbias palabras han mordido
las alas de tu espíritu severo.
Grupo de gente salta en los jardines
esperando tu cuerpo y mi agonía
en caballos de luz y verdes crines.
Pero sigue durmiendo, vida mía.
Oye mi sangre rota en los violines.
¡Mira que nos acechan todavía!
Perceber então que os dois poetas morreram com a mesma idade. Ibn Sahl em 1251, Lorca em 1936, ambos com cerca de 38 anos de idade. Perceber que eu próprio estou quase com 38. Escrever, em inglês e português, versinhos de desespero amuado.
Ricardo Domeneck
Ey pesar, chico, boy oh boy,
you are so real, it´s surreal.
I'm as old as Lorca, Ibn Sahl,
as they died. Please, hurry.
:
Ey pesar, chico, boy oh boy,
és tão real, parece surreal.
Tenho a idade de Ibn Sahl
e Lorca mortos. Vem, corre.
Mas então ler a notícia de que outro adolescente homossexual foi torturado e assassinado no Brasil este fim de semana. Sentir-se imerso, para além da solidão pessoal, na vida de outros. Na morte de outros. Pensar nos direitos humanos na República. Não a de Catulo, mas a minha, onde, cidadão, sou meteco, membro de segunda categoria. Escrever outro poema de desespero amuado, entre o ponto do choro e o do vômito.
Hino à Bandeira
Ricardo Domeneck
Recebe o afeto que se encerra
em meu peito putanil, querido,
este címbalo da nossa guerra.
Não é à toa que colegas persas
a clamar vocativos a meninos
vocalizavam aquele Ey pesar.
Dos pênis eretos, ponte pênsil
que une amores sim místicos
pelo épico de nosso epidídimo
a um Eros que chega, perpassa
todas as lágrimas geográficas
a inundar a nossa casta poesia.
Séculos depois, gosto de pensar
em Lorca, naquela Andaluzia,
dizer Ey pesar, que mono estás!
einem Buben, to a boy, un chico,
ciente de Ibn Sahl e Jack Spicer
a mirar por meus olhos meninos:
declarar este nosso ato vingativo
a vós que vos fazeis açougueiros
de príncipes, persas e brasileiros.
Mas que muitos de nós foram mortos, torturados, enforcados, condenados à morte por servir a um Eros talvez tão-só reflexivo, sem escrever poemas que nos fizessem lamentá-los. Sentir uma penúria enorme, uma vontade de atiçar-se e acender-se em fogo perante um Congresso, um Parlamento, uma Igreja. Escrever mais versinhos de desespero amuado.
Ricardo Domeneck
No trigésimo-sétimo de minha anuidade,
marinando no próprio suor, estirado
num colchão, a barba já cinza,
cansado de livros e filmes,
como os dias, um após o outro, as mãos
doloridas da ninharia de Onan
que entretem por minutos a ciência
de todos os usos mais lúcidos
do corpo, percebo que me foi dado
o mesmo tempo que tiveram
Cruz e Sousa, Radnóti, Maiakóvski, Lorca,
ainda assim mais que outros. E daí?
Não há linha de chegada, não há troféu,
que imbecilidade
seria me comparar ao sucesso
destes que hoje são ossos e obras
completas.
Houve um tempo em que cria
que sobreviveria
se passasse dos trinta e dois
por ser a idade em que alguns favoritos
fizeram o check-out,
Augusto dos Anjos, Pedro Kilkerry,
para mencionar apenas os que compartilharam
comigo desta terra que ora os cobre,
e vejo que qualquer faixa etária
é boa para a morte
e garante farta companhia de poetas.
Fui útil, funcional, coringa da comunidade,
moringa lacrimal? Só enxuguei o choro
onde devia ter tolhido a lágrima pelo corte
conjunto da cabeça, distraí por segundos
o que talvez
estivesse desperto para as manchetes
do jornal e quase a tirar da bainha
a parúsia, mas meus lullabies
poetizados tão-só
o mandaram de volta ao sofá.
Mesmo os punti luminosi
pessoais, que assíduo
coletei e colhi, eram coisa baça, baça.
O tempo pedia contenção de energia.
O tempo queria a ironia do pássaro
já acostumado com a gaiola,
que só canta
por doubles entendres
para não ofender
o captor.
terça-feira, 25 de setembro de 2012
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
Poema dedicado a Nadezhda Tolokonnikova, Yekaterina Samutsevich & Maria Alyokhina
da banda Pussy Riot
O anjo agachado
a Nadezhda Tolokonnikova, Yekaterina Samutsevich & Maria Alyokhina
Sobre uma desgraça, outra.
Eterno retorno e catástrofe,
já não há espaço entre teto
e monturo para aquele Anjo
Novo. Ele, torcicolo, manco
há muitos séculos. Exemplo:
os russos. Estes enxergam
no escuro, pois só o escuro
os olha. Ao fim das células
-cone, a luz adiante no túnel
é um trem. Rasputin, Stálin,
de certo Nicolau II a Putin.
Quiçá piore tudo um putsch.
Que importa, se pode
seguir lendo Tchecov.
A isso nós chamamos
democracia pós-Muro.
Se uma rebelião-pussy
contra os machos-alfa
vier, que ela nos traga
à "Origem do Mundo".
Mas os falos que falam
nos mantêm mudos.
"Que globo, meu Deus!",
disse eu, feito um rato,
e voltei a roer as unhas.
Ricardo Domeneck, Berlim, 9 de agosto, 2012.
.
.
.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
A falta que faz uma voz: dentro de um quadro pintado por Anonymous Porsche. Dedicado a Milton Santos
sábado, 14 de julho de 2012
"Marat/Sade" (1967) - Weiss/Mitchell/Brook
terça-feira, 10 de julho de 2012
As perguntas que Miguel Conde, curador da FLIP 2012, infelizmente não encontrou tempo para responder
quinta-feira, 21 de junho de 2012
Lula e Maluf: um acerto de mãos

Um acerto de mãos
Aos poucos, tanto pulso
que dita como reivindica
confundem-se no fundo
sem vilões e sem puros
da História: arte narrativa.
Cerradas, mãos se agitam
no ar. Depende da boca,
porém, o que significam
a lobos e ovelhas passivas
em conluio na mesma toca.
Ora Lula e Maluf dão
-se os punhos, um novo
pacto (o eterno retorno)
de apoio e não-agressão.
Tudo em nome do polvo,
os interesses do polvo
são supremos. Limites?
Mas o que são limites?
Limites são coisas
para os lemingues.
Rocirda Demencock, com os movimentos peristálticos na contramão, 21 de junho de 2012.
.
.
.
sábado, 2 de junho de 2012
Como estão sendo tratados na Rússia seus cidadãos homossexuais
terça-feira, 17 de abril de 2012
Pensando sobre o trabalho de Adrienne Rich, seu contexto e suas implicações

Ao ler a poesia de Adrienne Rich pela primeira vez, no fim do século passado, ela não captou muito do meu interesse. À época eu estava preocupado e interessado demais em outros aspectos do fazer poético, pesquisando a instância experimental e particularmente antidiscursiva dos poetas norte-americanos, extremamente diversos entre si, ligados à Black Mountain College, como Charles Olson, Robert Creeley, John Cage ou Robert Duncan; os poetas da Escola de Nova Iorque, especialmente Frank O´Hara e John Ashbery, com sua poética pós-dadaísta; e, numa geração posterior, a pesquisa de autoras associadas à revista L=A=N=G=U=A=G=E, especialmente Lyn Hejinian, Rosmarie Waldrop e Susan Howe.
Diving into the Wreck
Adrienne Rich
First having read the book of myths,
and loaded the camera,
and checked the edge of the knife-blade,
I put on
the body-armor of black rubber
the absurd flippers
the grave and awkward mask.
I am having to do this
not like Cousteau with his
assiduous team
aboard the sun-flooded schooner
but here alone.
There is a ladder.
The ladder is always there
hanging innocently
close to the side of the schooner.
We know what it is for,
we who have used it.
Otherwise
it is a piece of maritime floss
some sundry equipment.
I go down.
Rung after rung and still
the oxygen immerses me
the blue light
the clear atoms
of our human air.
I go down.
My flippers cripple me,
I crawl like an insect down the ladder
and there is no one
to tell me when the ocean
will begin.
First the air is blue and then
it is bluer and then green and then
black I am blacking out and yet
my mask is powerful
it pumps my blood with power
the sea is another story
the sea is not a question of power
I have to learn alone
to turn my body without force
in the deep element.
And now: it is easy to forget
what I came for
among so many who have always
lived here
swaying their crenellated fans
between the reefs
and besides
you breathe differently down here.
I came to explore the wreck.
The words are purposes.
The words are maps.
I came to see the damage that was done
and the treasures that prevail.
I stroke the beam of my lamp
slowly along the flank
of something more permanent
than fish or weed
the thing I came for:
the wreck and not the story of the wreck
the thing itself and not the myth
the drowned face always staring
toward the sun
the evidence of damage
worn by salt and away into this threadbare beauty
the ribs of the disaster
curving their assertion
among the tentative haunters.
This is the place.
And I am here, the mermaid whose dark hair
streams black, the merman in his armored body.
We circle silently
about the wreck
we dive into the hold.
I am she: I am he
whose drowned face sleeps with open eyes
whose breasts still bear the stress
whose silver, copper, vermeil cargo lies
obscurely inside barrels
half-wedged and left to rot
we are the half-destroyed instruments
that once held to a course
the water-eaten log
the fouled compass
We are, I am, you are
by cowardice or courage
the one who find our way
back to this scene
carrying a knife, a camera
a book of myths
in which
our names do not appear.
A estratégia aqui, numa linguagem imagético-discursiva e extremamente direta, ainda que se entregue a certas circunvoluções metafóricas, é claramente formada por escolhas bastante distintas das de poetas que começaram a escrever à mesma época, como Lyn Hejinian e Rosmarie Waldrop. Vejamos dois textos destas últimas, especificamente de My Life (Hejinian) e Lawn of excluded middle (Waldrop):
My Life, Lyn Hejinian.
§
Lawn of excluded middle, Rosmarie Waldrop.
Estou ciente de que os dois livros de Hejinian e Waldrop são posteriores (1984 e 1993, respectivamente) ao de Rich, mas as diferenças aqui vistas marcam o trabalho das poetas. A indeterminação, para usar expressão de uma crítica como Marjorie Perloff que já ironizou a poética imagético-discursiva de outras poetas como Adrienne Rich, é o que comanda a atenção composicional de Hejinian e Waldrop, buscando uma intervenção política mais na maneira como uma mulher usa a língua que naquilo que é dito ou na ironia contra a imagética geralmente usada para definir a sensibilidade feminina, esta última estratégia a que Adrienne Rich prefere. No trabalho de uma poeta como Bernadette Mayer, que já discuti algumas vezes aqui, talvez encontremos um ponto de equilíbro entre estas estratégias, como no grande poema "Eve of Easter", que Mayer lê no vídeo abaixo a 26 de abril de 1978:
Audre Lorde (1934 – 1992) , que também assinou o discurso/manifesto acima, teve um papel muito importante neste debate durante a segunda metade do século XX, denunciando o que a seu ver seria uma espécie de miopia racial dentro do discurso feminista, acusando feministas brancas de ignorarem diferenças entre as experiências de mulheres de grupos étnicos e sexuais distintos.
Miovanni out of his library window
Gina from the kitchen window
From among his pots and pans
Where he so kindly kept her
Where she so wisely busied herself
Pots and Pans she cooked in them
All sorts of sialagogues
Some say that happy women are immaterial
So here we might dispense with her
Gina being a female
But she was more than that
Being an incipience a correlative
an instigation of the reaction of man
From the palpable to the transcendent
Mollescent irritant of his fantasy
Gina had her use Being useful
contentedly conscious
She flowered in Empyrean
From which no well-mated woman ever returns
(...)
While Miovanni thought alone in the dark
Gina supposed that peeping she might see
A round light shining where his mind was
She never opened the door
Fearing that this might blind her
Or even
That she should see Nothing at all
So while he thought
She hung out of the window
Watching for falling stars
And when a star fell
She wished that still
Miovanni would love her tomorrow
And as Miovanni
Never gave any heed to the matter
He did
St. Roach
Muriel Rukeyser
For that I never knew you, I only learned to dread you,
for that I never touched you, they told me you are filth,
they showed me by every action to despise your kind;
for that I saw my people making war on you,
I could not tell you apart, one from another,
for that in childhood I lived in places clear of you,
for that all the people I knew met you by
crushing you, stamping you to death, they poured boiling
water on you, they flushed you down,
for that I could not tell one from another
only that you were dark, fast on your feet, and slender.
Not like me.
For that I did not know your poems
And that I do not know any of your sayings
And that I cannot speak or read your language
And that I do not sing your songs
And that I do not teach our children
to eat your food
or know your poems
or sing your songs
But that we say you are filthing our food
But that we know you not at all.
Yesterday I looked at one of you for the first time.
You were lighter that the others in color, that was
neither good nor bad.
I was really looking for the first time.
You seemed troubled and witty.
Today I touched one of you for the first time.
You were startled, you ran, you fled away
Fast as a dancer, light, strange, and lovely to the touch.
I reach, I touch, I begin to know you.
Adrienne Rich publicaria ainda os livros Twenty-one Love Poems (1976), The Dream of a Common Language (1978), A Wild Patience Has Taken Me this Far (1982), Sources (1983), Your Native Land, Your Life (1986), Time’s Power (1989), An Atlas of the Difficult World (1991), Dark Fields of the Republic (1995), Midnight Salvage (1999), Fox (2001), The School Among the Ruins (2004), Telephone Ringing in the Labyrinth (2007) e o último Tonight No Poetry Will Serve (2010). Adrienne Rich morreu a 27 de março de 2012, aos 82 anos, em Santa Cruz, Califórnia.
Encerro esta postagem com o EXCELENTE poema traduzido por Ismar Tirelli Neto e dois vídeos com a autora.
§
§
POEMA DE ADRIENNE RICH
Instantâneos de Uma Nora
1.
Você, uma vez a bela de Shreveport,
cabelos tingidos de hena, a pele como pêssego,
ainda manda fazer vestidos como os que se usavam então,
e toca um prelúdio de Chopin
chamado por Cortot: “Deliciosas reminiscências
flutuam como perfume pela memória”.
Sua mente agora, mofando como bolo de casamento,
pesada de experiências inúteis, pródiga
em suspeitas, rumores, fantasias,
desmoronando sob o fio
do mero fato. Na primavera da vida.
Inquieta, o olhar faiscante, sua filha
limpa as colheres de chá, cresce para outro lado.
2.
Dando com a cafeteira na pia
ela escuta o reproche dos anjos, e fita
o céu desgrenhado para além de jardins impecáveis.
Não faz mais de uma semana desde que disseram: Não tenha paciência.
Da próxima foi: Seja insaciável.
E depois: Salve-se. Aos demais, não poderá salvar.
Por vezes tem deixado a água da torneira lhe escaldar o braço,
um fósforo queimar-lhe a unha do dedão,
ou posto a mão sobre a chaleira
bem na lã do vapor. São provavelmente anjos
posto que já nada a magoa, excetuando
a areia de cada manhã indo de encontro aos olhos.
3.
Uma mulher pensante dorme com monstros.
O bico que a agarra, ela se torna. E a Natureza,
este ainda cômodo, destampado baú
cheio de tempora e mores
enche-se de tudo: …………… as flores de laranjeira cobertas de orvalho,
os contraceptivos, os terríveis seios
de Boadiceia sob orquídeas e cabeças chatas de raposa.
Duas belas mulheres, trancadas em discussão,
ambas orgulhosas, argutas, sutis, ouço que gritam
por sobre a maiólica e os cacos de vidro
como Fúrias encurraladas para longe de suas presas:
A discussão ad feminam, todos os velhos punhais
que enferrujaram em minhas costas, o seu adentro
ma semblable, ma soeur!
IV.
Conhecendo-se bem demais uma na outra
seus dons sem puro desfrute, mas espinhos
a agulha afiada contra uma ponta de escárnio…
Lendo enquanto espera
aquecer o ferro,
escrevendo, Minha vida – encostada pelos cantos
naquela despensa em Amherst enquanto as geleias fervem e escumam,
ou, com maior frequência,
de olhos fitos e embicada e obstinada como uma ave,
tirando poeira a todo o triquetraque da vida cotidiana.
5.
Dulce ridens, dulce loquens
ela depila as pernas até brilharem
como petrificadas presas de mamute.
6.
Quando canta Corina a seu alaúde
não são dela nem letra nem música;
somente os longos cabelos descaindo-se
sobre a bochecha, somente a canção
da seda contra os joelhos,
e mesmo estes
ajustam-se nos reflexos de um olho.
Empertigada, trêmula e insatisfeita, ante
uma porta destrancada, a jaula das jaulas,
diga-nos, sua ave, sua trágica máquina –
será isto fertilisante douleur? Esmagada
pelo amor, para ti a única reação natural,
estarás acirrada a ponto
de arrombar os segredos do cofre? a Natureza,
nora, mostrou-te enfim os livros de contabilidade
que seu próprio filho sempre ignorou?
7.
Ter neste incerto mundo alguma posição
inabalável é
da maior importância.
…………………………………….Assim escreveu
uma mulher, em parte boa e em parte audaz,
que lutou com o que não compreendia de todo.
Poucos homens a seu redor teriam feito mais,
portanto a rotularam puta, megera, engodo.
8.
“Morreis todos aos quinze anos”, disse Diderot,
mudando-se metade em lenda, metade em convenção.
No entanto, olhos sonham equivocamente
por detrás de janelas fechadas, empastadas de vapor.
Deliciosamente, tudo o que poderíamos ter sido,
tudo o que fomos – fogo, lágrimas,
espírito, gosto, ambição martirizada –
agita-se como a lembrança do adultério recusado
o seio murcho e esvaziado de nossa “meia idade”.
9.
Não que se faça bem, mas
que se faça e ponto? Pois bem, pense
nas possibilidades! ou ignore-as para sempre.
Estes luxos da criança precoce,
a querida inválida do Tempo –
abdicaríamos, minhas caras, se nos fosse dado?
Nossa praga foi também nossa sinecura:
mero talento nos bastava –
brilho em rascunhos e fragmentos.
Não mais suspirem, minhas senhoras.
………………………………………………………..O tempo é macho
e em suas taças bebe ao belo.
Divertidas pelo galanteio, ouvimos
enquanto nos louvam as mediocridades,
indolência lida como abnegação,
desleixo lido como intuição refinada,
cada deslize perdoado, o único crime sendo
estampar uma sombra demasiado notável
ou sumariamente destruir o molde.
Para isso, a solitária,
o gás lacrimogênio, os estilhaços.
Poucas pleiteam este tipo de honra.
13.
……………………………………………………….Bom,
ela posterga sua chegada, que lhe deve parecer
tão pouco clemente quanto a própria história.
A mente cheia ao vento, vejo-a mergulhar
de seios e relanceando pelas correntezas,
tomando a luz sobre si,
pelo menos tão bela quanto qualquer menino
ou helicóptero,
…………………………………………..empertigada, chegando ainda,
suas finas hélices fazendo o ar recuar
mas sua carga
já nenhuma promessa:
entregue
palpável
nossa.
1958 – 1960
(tradução de Ismar Tirelli Neto)
§
Snapshots of a Daughter-in-Law
1.
You, once a belle in Shreveport,
with henna-colored hair, skin like a peachbud,
still have your dresses copied from that time,
and plays a Chopin prelude
called by Cortot: “Delicious recollections
float like perfume through the memory”.
Your mind now, moldering like wedding-cake,
heavy with useless experience, rich
with suspicion, rumor, fantasy,
crumbling to pieces under the knife-edge
of mere fact. In the prime of your life.
Nervy, glowering, your daughter
wipes the teaspoons, grows another way.
2.
Banging the coffee pot into the sink
she hears the angels chiding, and looks out
past the raked gardens to the sloppy sky.
Only a week since They said: Have no patience.
The next time it was: Be insatiable.
Then: Save yourself; others you cannot save.
Sometimes she’s let the tapstream scald her arm,
a match burn to her thumbnail,
or held her hand above the kettle’s snout
right in the wooly steam. They are probably angels,
since nothing hurts her anymore, except
each morning’s grit blowing into her eyes.
3.
A thinking woman sleeps with monsters.
The beak that grips her, she becomes. And Nature,
that sprung-lidded, still commodious
steamer-trunk of tempora and mores
gets stuffed with it all: ………………….. the mildewed orange-flowers
the female pills, the terrible breasts
of Boadicea beneath flat foxes’ heads and orchids.
Two handsome women, gripped in argument,
each proud, subtle, I hear scream
across the cut glass and majolica
like Furies cornered from their prey:
The argument ad feminam, all the old knives
that have rusted in my back, I drive in yours,
ma semblable, ma soeur!
4.
Knowing themselves too well in one another:
their gifts no pure fruition, but a thorn,
the prick filed sharp against a hint of scorn…
Reading while waiting
for the iron to heat,
writing, My life had stood – a Loaded Gun –
in that Amherst pantry while the jellies boil and scum,
or, more often,
iron-eyed and beaked and purposed as a bird,
dusting everything on the whatnot every day of life.
5.
Dulce ridens, dulce loquens
she shaves her legs until they gleam
like petrified mammoth-tusk.
6.
When to her lute Corinna sings
neither words nor music are her own;
only the long hair dipping
over her cheek, only the song
of silk against her knees
and these
adjusted in the reflection of an eye.
Poised, trembling and unsatisfied, before
an unlocked door, that cage of cages,
tell us, you bird, you tragical machine –
is this fertilisante douleur? Pinned down
by love, for you the only natural action,
are you edged more keen
to prise the secrets of the vault? has Nature shown
her household books to you, daughter-in-law,
that her son never saw?
7.
To have in this uncertain world some stay
which cannot be undermined, is
of the utmost consequence.
………………………………………………Thus wrote
a woman, partly brave and partly good,
who fought with what she partly understood.
Few men about her would or could do more,
hence she was labeled harpy, shrew and whore.
8.
“You all die at fifteen”, said Diderot,
and turn part legend, part convention.
Still, eyes inaccurately dream
behind closed windows blankening with steam.
Deliciously, all that we might have been,
all that we were – fire, tears,
wit, taste, martyred ambition –
stirs like the memory of refused adultery
the drained and flagging bosom of our middle years.
9.
Not that it is done well, but
that it is done at all? Yes, think
of the odds! or shrug them off forever.
This luxury of the precocious child,
Time’s precious chronic invalid, –
would we, darlings, resign it if we could?
Our blight has been our sinecure:
mere talent was enough for us –
glitter in fragments and rough drafts.
Sigh no more, ladies.
………………………………Time is male
and in his cups drinks to the fair.
Bemused by gallantry, we hear
our mediocrities over-praised,
indolence read as abnegation,
slattern thought styled intuition,
every lapse forgiven, our crime
only to cast too bold a shadow
or smash the mold straight off.
For that, solitary confinement,
tear gas, attrition shelling.
Few applications for that honor.
10.
……………………………………………………………..Well,
she’s long about her coming, who must be
more merciless to herself than history.
Her mind full to the wind, I see her plunge
breasted and glancing through the currents,
taking the light upon her
at least as beautiful as any boy
or helicopter,
…………………………………………………poised, still coming,
her fine blades making the air wince
but her cargo
no promise then:
delivered
palpable
ours.
1958 – 1960
Mais ou menos de mim
Projetos Paralelos
Leituras de companheiros
- Adelaide Ivánova
- Adriana Lisboa
- Alejandro Albarrán
- Alexandra Lucas Coelho
- Amalia Gieschen
- Amina Arraf (Gay Girl in Damascus)
- Ana Porrúa
- Analogue Magazine
- André Costa
- André Simões (traduções de poetas árabes)
- Angaangaq Angakkorsuaq
- Angélica Freitas
- Ann Cotten
- Anna Hjalmarsson
- Antoine Wauters
- António Gregório (Café Centralíssimo)
- Antônio Xerxenesky
- Aníbal Cristobo
- Arkitip Magazine
- Art In America Magazine
- Baga Defente
- Boris Crack
- Breno Rotatori
- Brian Kenny (blog)
- Brian Kenny (website)
- Bruno Brum
- Bruno de Abreu
- Caco Ishak
- Carlito Azevedo
- Carlos Andrea
- Cecilia Cavalieri
- Cory Arcangel
- Craig Brown (Common Dreams)
- Cristian De Nápoli
- Cultura e barbárie
- Cus de Judas (Nuno Monteiro)
- Damien Spleeters
- Daniel Saldaña París
- Daniel von Schubhausen
- Dennis Cooper
- Dimitri Rebello
- Dirceu Villa
- Djoh Wakabara
- Dorothee Lang
- Douglas Diegues
- Douglas Messerli
- Dummy Magazine
- Eduard Escoffet
- Erico Nogueira
- Eugen Braeunig
- Ezequiel Zaidenwerg
- Fabiano Calixto
- Felipe Gutierrez
- Florian Puehs
- Flávia Cera
- Franklin Alves Dassie
- Freunde von Freunden
- Gabriel Pardal
- Girl Friday
- Gláucia Machado
- Gorilla vs. Bear
- Guilherme Semionato
- Heinz Peter Knes
- Hilda Magazine
- Homopunk
- Hugo Albuquerque
- Hugo Milhanas Machado
- Héctor Hernández Montecinos
- Idelber Avelar
- Isabel Löfgren
- Ismar Tirelli Neto
- Jan Wanggaard
- Jana Rosa
- Janaina Tschäpe
- Janine Rostron aka Planningtorock
- Jay Bernard
- Jeremy Kost
- Jerome Rothenberg
- Jill Magi
- Joca Reiners Terron
- John Perreault
- Jonas Lieder
- Jonathan William Anderson
- Joseph Ashworth
- Joseph Massey
- José Geraldo (Paranax)
- João Filho
- Juliana Amato
- Juliana Bratfisch
- Juliana Krapp
- Julián Axat
- Jörg Piringer
- K. Silem Mohammad
- Katja Hentschel
- Kenneth Goldsmith
- Kátia Borges
- Leila Peacock
- Lenka Clayton
- Leo Gonçalves
- Leonardo Martinelli
- Lucía Bianco
- Luiz Coelho
- Lúcia Delorme
- Made in Brazil
- Maicknuclear de los Santos Angeles
- Mairéad Byrne
- Marcelo Krasilcic
- Marcelo Noah
- Marcelo Sahea
- Marcos Tamamati
- Marcus Fabiano Gonçalves
- Mariana Botelho
- Marius Funk
- Marjorie Perloff
- Marley Kate
- Marília Garcia
- Matt Coupe
- Miguel Angel Petrecca
- Monika Rinck
- Mário Sagayama
- Más Poesía Menos Policía
- N + 1 Magazine
- New Wave Vomit
- Niklas Goldbach
- Nikolai Szymanski
- Nora Fortunato
- Nora Gomringer
- Odile Kennel
- Ofir Feldman
- Oliver Krueger
- Ondas Literárias - Andréa Catrópa
- Pablo Gonçalo
- Pablo León de la Barra
- Paper Cities
- Patrícia Lino
- Paul Legault
- Paula Ilabaca
- Paulo Raviere
- Pitchfork Media
- Platform Magazine
- Priscila Lopes
- Priscila Manhães
- Pádua Fernandes
- Rafael Mantovani
- Raymond Federman
- Reuben da Cunha Rocha
- Ricardo Aleixo
- Ricardo Silveira
- Rodrigo Damasceno
- Rodrigo Pinheiro
- Ron Silliman
- Ronaldo Bressane
- Ronaldo Robson
- Roxana Crisólogo
- Rui Manuel Amaral
- Ryan Kwanten
- Sandra Santana
- Sandro Ornellas
- Sascha Ring aka Apparat
- Sergio Ernesto Rios
- Sil (Exausta)
- Slava Mogutin
- Steve Roggenbuck
- Sylvia Beirute
- Synthetic Aesthetics
- Tazio Zambi
- Tetine
- The L Magazine
- The New York Review of Books
- Thiago Cestari
- This Long Century
- Thurston Moore
- Timo Berger
- Tom Beckett
- Tom Sutpen (If Charlie Parker Was a Gunslinger, There'd Be a Whole Lot of Dead Copycats)
- Trabalhar Cansa - Blogue de Poesia
- Tracie Morris
- Tô gato?
- Uma Música Por Dia (Guilherme Semionato)
- Urbano Erbiste
- Victor Heringer
- Victor Oliveira Mateus
- Walter Gam
- We Live Young, by Nirrimi Hakanson
- Whisper
- Wir Caetano
- Wladimir Cazé
- Yang Shaobin
- Yanko González
- You Are An Object
- Zane Lowe