A Deutsche Welle publicou ontem meu artigo opinativo sobre a parca presença de mulheres entre os autores convidados pela FLIP em geral e neste ano. Pude apenas de leve apresentar também o problema da parquíssima presença de autores de fora do âmbito cultural europeu e norte-americano, assunto ao qual voltarei em breve, num artigo aqui neste espaço. Já espalhei o artigo "Com poucas autoras, Flip não reflete a produção literária atual" por algumas redes sociais. Ele será republicado aqui, em forma expandida, em alguns dias. Achei por bem, em primeiro lugar, publicar aqui minha tentativa de entrevista com o curador deste ano, o jornalista Miguel Conde. Estive em contato com a assessoria de imprensa da FLIP entre os dias 13 de junho e 25 de junho, por correio eletrônico e telefone. Devo dizer que a assessoria de impresa, através da A4 Comunicação, foi extremamente educada e prestativa, ainda que o contato tenha se tornado mais difícil após o envio de minhas perguntas, que podem ser lidas abaixo. Segundo a assessoria, Miguel Conde estava ocupado demais com os preparativos da festa que se aproximava, e não estava mais encontrando tempo para qualquer entrevista. Imagino que o teor de minhas perguntas também não tenha ajudado. De minha parte, tratava-se de honestidade, deixando claro desde o princípio que tipo de abordagem eu faria sobre a curadoria, sem qualquer intenção de publicar um artigo celebratório, mas consciente e crítico. Busco com esta discussão, insisto, simplesmente colaborar com a melhora de um evento que me parece sim importante, mas que só poderá realmente causar um impacto tanto na Literatura como na sociedade brasileira, se se livrar de certo elitismo, não de qualidade literária, mas socioeconômico, de gênero, de etnia, tanto em sua curadoria como em sua organização e acesso. Abaixo, minha mensagem à assessoria de imprensa e as perguntas que eu tentei fazer chegar ao curador Miguel Conde. Publico-as aqui pois as considero boas introduções e resumos aos problemas que venho discutindo nesta série de artigos sobre a FLIP.
18 de junho de 2012.
Mensagem à Assessoria de Imprensa da FLIP 2012.
Meu artigo pretende abordar a pequena presença de autoras na programação da FLIP nos últimos 10 anos e especialmente na edição de 2012. Quando iniciei a série de artigos (já escrevi sobre a presença algo limitada de poetas numa feira que tem um Grande Poeta como homenageado), dos 40 autores apenas 5 eram mulheres. Hoje, quando o número de autores subiu para 44, são 7 mulheres, contando obviamente Laerte Coutinho entre elas. É um dos números mais baixos em toda a história do evento.
Pretendo ainda analisar a presença não-europeia e não-americana na Festa. Portanto, trata-se de uma entrevista e, principalmente, a oportunidade do curador para comentar a situação antes do artigo ser publicado na Deutsche Welle.
Minhas perguntas seriam, dessarte, estas:
1- Caro Sr. Conde, a História da FLIP tem sido marcada por uma parca presença de autoras na programação. Este ano, com sua curadoria, o evento chegou a uma de suas porcentagens mais baixas nestes termos. Ao iniciar meu trabalho, eram 5 entre 40. Hoje, 13 de junho de 2012, a programação apresenta 7 autoras (incluo aqui Laerte Coutinho) entre 44. Esta minúscula presença feminina na FLIP deste e de outros anos, em sua opinião, reflete verdadeiramente a produção literária de qualidade no mundo hoje, ou apenas espelha as políticas editoriais brasileiras? A que o senhor creditaria esta mínima presença de autoras em sua curadoria para a FLIP 2012?
2- O evento deste ano homenageia Carlos Drummond de Andrade, um dos grandes poetas brasileiros do século XX. Segundo seu texto de apresentação, "Embora hoje seja considerado um clássico, por muito tempo Drummond recebeu críticas duras de pessoas para as quais o que ele escrevia não merecia nem mesmo ser chamado de poesia." Pude contar 10 poetas entre os 44 convidados até o momento. O senhor diria que a porcentagem é adequada, num ano que tem um poeta como homenageado, e seria possível dizer que a seleção de sua curadoria buscou encontrar hoje no país aqueles que neste momento estão expandindo o conceito de poesia contemporânea?
3- O número de autores de fora do âmbito cultural europeu e norte-americano da FLIP, e especialmente este ano, é baixíssimo. Talvez apenas o poeta Adonis e o prosador Teju Cole possam ser realmente considerados autores de fora do âmbito europeu ou americano. Há escritores com histórico de imigração, é certo, mas sendo imigrantes ou filhos de imigrantes vivendo nos Estados Unidos ou Reino Unido. Não conheço sua formação e quantas línguas domina, mas não seria possível dizer que se trata de uma responsabilidade grande demais para um único curador, com formação linguística específica, preparar a programação de um evento que se chama Festa Literária INTERNACIONAL? Como se deu o processo de seleção?
4- De acordo com as respostas às perguntas acima, eu pediria que o senhor comentasse se é realmente possível chamar o evento de Festa Literária Internacional, ou se tem se mostrado mais como uma festa demasiado dependente do mercado editorial brasileiro e das traduções disponíveis no mercado.
abraço,
Ricardo Domeneck
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3 comentários:
arrazou!
Obrigado por esta linda intenção.
Eu creio que você não entendeu bem os meus propósitos, Felipe, nem o alcance da coisa.
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