sexta-feira, 11 de junho de 2010

Horas felizes na companhia de um ótimo poeta e gigantesco amigo

Eduard Escoffet


Uma das minhas alegrias pessoais, ligada ao Festival de Poesia de Berlim, é a certeza de que pelo menos uma vez por ano eu poderei encontrar o poeta catalão Eduard Escoffet (Barcelona, 1979), que se tornou um cúmplice, um companheiro, um amigo na alegria e na tristeza, desde que nos conhecemos neste mesmo festival, em 2007. Menciono-o com frequência neste espaço, já cruzamos caminhos em vários festivais europeus, e seu apartamento, a algumas quadras da Sagrada Família de Gaudí, é um dos meus portos seguros quando preciso sair de Berlim por um tempo, para arejar a existência. Como organizador de alguns dos mais importantes festivais de poesia da Catalunha, e, a partir deste ano, diretor oficial do imponente Festival de Poesia de Barcelona, Escoffet está sempre entre os convidados do festival berlinense. Aprendi muito com ele e eduquei-me infinitamente sobre a História da poesia oral e sonora em sua biblioteca e discoteca pessoais, em Barcelona, creio que a única cidade que já chegou a tentar-me fortemente a deixar Berlim, com exceção talvez de Buenos Aires. Bela ponte de poesia, aliás, este BBB, Berlimbo Barna BAires, as cidades onde moram alguns dos meus contemporâneos prediletos, além de amigos insubstituíveis. Passamos várias horas conversando, mais uma vez, nesta sua passagem por Berlim, caminhando ao longo do rio Spree, trocando ideias, descobertas de novos poetas sonoros, falando sobre nossos grandes ídolos compartilhados, como Gil J. Wolman, Bernard Heidsieck, Bartomeu Ferrando, os dadaístas, os trovadores medievais occitanos/provençais e catalães, além de recomendar um ao outro os nomes de jovens poetas que descobrimos, conhecemos e apreciamos.

Convido vocês a conhecerem mais do trabalho de EDUARD ESCOFFET, visitando sua página no portal Myspace. Abaixo, reproduzo um poema seu que traduzi, além de alguns vídeos.


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(Eduard Escoffet, apresentando-se com o coletivo Bradien, na Catalunha)

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(Eduard Escoffet no Poesiefestival Berlin, em 2007, quando nos conhecemos)

mtp 1

a)

"um escritor é aquele que impõe silêncio à palavra" – Maurice Blanchot


b)

quase às vezes / quase quase sempre
quase às vezes / quase quase sempre
o texto que digitas:
cada letra escrita tem o traço
de um corpo: os cabelos e a pele vão tomando forma:
a letra. e um nome que é desintegrado.
quase às vezes / quase quase sempre.

c)

nada há a dizer e contudo necessitamos escrever.
as palavras sulcam a necessidade e contudo as reiventamos como calafetadores:
a madeira, a madeira que já não é madeira:
madeira no crânio, madeira no tórax, madeira nas entranhas.

hoje qualquer corpo / ele é a madeira
(a de um outro escrito)

d) agora agito as mãos e se move um pouco o ar.


(tradução de Ricardo Domeneck)



mtp1


a)

"un escriptor és aquell que imposa silenci a la paraula" maurice blanchot


b)

quasi de vegades / quasi quasi sempre
quasi de vegades / quasi quasi sempre
el text que estàs picant:
cada lletra escrita té la traca
d´un cos: els cabells i la pell van prenent forma:
la lletra. i un nom que es desdibuixa.
quasi de vegades / quasi quasi sempre

c)

no hi ha res a dir, i tanmateix necessitem escriure.
les paraules solquen la necessitat, i tanmateix les reinventem talment calafatadors:
la fusta, la fusta que ja no és fusta:
fusta al cervell, fusta al cor, fusta a les entranyes.

avui qualsevol cos / ell és la fusta
(la d´un altre escrit)


d)

ara bellugo les mans e es mou un poc l´aire.


mtp, 1-viii-02


§




(Entrevista de Eduard Escoffet para a televisão espanhola, em catalão)

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2 comentários:

marcelo sahea disse...

Tenho acompanhado o trabalho dele desde que o conheci aqui, Domeneck, e não me lembro de ter me decepcionado. Aliás, é uma das minhas páginas preferidas no MySpace. Abração!

Ricardo Domeneck disse...

Que bom ouvir isso, Sahea! Quando você o conhecer, e estou certo que isso acontecerá, você verá que além de bom poeta ele é muito boa gente.

grande abraço,

Domeneck

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